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Convivendo com Robôs | Simbiose entre humanos e máquinas só aumenta

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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myjuly/envato
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Os robôs já estão entre nós há muito mais tempo do que podemos imaginar, mesmo que eles não se pareçam com aquilo que a ficção científica prometeu. Se os androides ainda são um futuro distante, o dia a dia é permeado por esses inventos que não precisam se assemelhar aos humanos e nem aparentam ser máquinas de guerra.

Por definição, um robô é entendido como um sistema mecânico inteligente equipado com três tecnologias elementares: sensores, sistemas de acionamento e sistemas de inteligência e controle. É o que aponta a New Energy and Industrial Technology Development Organization (NEDO), do Japão. No limite da definição, um elevador poderia se encaixar nesses critérios.

Para entender o presente, o passado e o futuro da robótica, o Canaltech conversou com o artista visual Zaven Paré, com pós-doutorado na Universidade de Osaka em micromovimento dos robôs. Paré é também curador da exposição Convivendo com Robôs, da Japan House São Paulo, em cartaz até o final de março de 2024.

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Os robôs amigáveis

Na exposição, Paré mergulhou nos inventos que já são comercializados e estão disponíveis majoritariamente no mercado japonês. Dentro desse recorte, foram selecionados robôs que apoiam a vida cotidiana, popularmente conhecidos como robôs amigáveis.

É o caso do Lovot, da Groove X, que se assemelha a um pinguim com rodas e câmera, capaz de reconhecer o toque humano, interagir e até sentir ciúmes por atenção, se está em uma comunidade com outros semelhantes. Outros exemplos são:

  • Aibo, um simpático cão mecânico da Sony;
  • Paro, uma fofa e rechonchuda foca da AIST;
  • Nicobo, uma espécie de girino da Panasonic, capaz até soltar puns;
  • Qoobo, uma criatura que lembra uma almofada sensível ao toque e com um rabo felpudo da Yukai Engineering.

Em comum, todas essas criações podem ser adotadas por casas de repouso, hospitais, centros de bem-estar ou mesmo escolas, com o intuito de aliviar o estresse, a solidão e até a ansiedade. São companheiros, capazes de interagir sem necessariamente ter Inteligência Artificial, mas que exigem menos que pets de carne e osso.

Inclusive, Paré defende a inclusão da IA apenas em casos onde ela contribuirá no desenvolvimento da narrativa e na autonomia do robô — hoje, a maioria dessas aplicações foca mais na capacidade de resposta a estímulos, ou seja, não há espontaneidade.

Nesse campo da robótica, o especialista explica que, por muito tempo, “pensávamos em fazer os dispositivos mais eficientes para nos servir, mas, na verdade, a gente percebeu que para desenvolver uma relação, temos que criar a vontade no usuário de cuidar deles”. Ao olhar para esta seleção, é realmente difícil não nutrir algum tipo de afeto e, com isso, a interação aumenta.

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Se você ficou curioso para entender o porquê dos robôs que mais despertam a atenção não serem cópias fidedignas de espécies reais de animais, Paré tem uma explicação envolvendo as expectativas dos usuários. Por exemplo, as pessoas conhecem muito bem gatos e cachorros, por isso, a chance de se decepcionar com um robô similar é bem mais alta. Então, figuras mais estranhas ou animais mais exóticos se saem melhor. Esta é também uma das dificuldades por trás da criação de androides.

Japão e a paixão por robôs

“A gente não sabe o que vai ser o futuro, mas eu sei que, daqui a 20 anos, vou ter 80 anos. Todo mundo sabe que, a partir de certo momento, vai envelhecer, escutar com dificuldade e ter problemas para se orientar”, explica Paré. A questão da memória também tende a piorar, sendo que, para isso, já contamos e muito com o celular — um item que também pode se enquadrar na definição do que é um robô e que tem revolucionado a vida humana desde 2007, com o surgimento dos smartphones.

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“Sou muito otimista ao imaginar que vão existir, talvez, máquinas que poderão ajudar cada pessoa em diferentes tipos de deficiências e de necessidades”, acrescenta sobre a evolução dos robôs amigáveis e de companhia para novos patamares, além de exoesqueletos.

É justamente essa questão do envelhecimento da população — algo já comum para os japoneses e que, agora, a inversão da pirâmide etária começa a ser observada entre os brasileiros — que o especialista aponta como um dos fatores que selam essa conexão tão forte do Japão com os robôs.

Neste contexto, o governo japonês lançou um importante programa de fomento à robótica nos anos 2000 — neste ano, a China anunciou planos de incentivar a indústria de humanoides internamente. Na época, a ideia japonesa foi estimular o desenvolvimento desses robôs terapêuticos para atender pessoas que precisavam de algum tipo de apoio no dia a dia. Então, é algo pensado no cotidiano há cerca de 20 anos.

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Além disso, o especialista destaca a reconstrução do Japão após a Segunda Guerra Mundial, em que houve um esforço muito grande no sentido de modernização e mecanização das indústrias e da busca por perfeição. Neste ponto, os robôs industriais foram fundamentais, espalhando-se para outras áreas.

Mangás e animes

Em paralelo, desde os anos 1920, diferentes romances, mangás e desenhos publicados no país têm como temática a questão dos robôs, como Tanku Tankur e Satsugai Jiken. O ápice desse movimento vem com o mangá Astro Boy, de Osamu Tezuka, em 1952. A primeira versão do anime com o robô menino foi exibida em 1963.

Humanoides e androides

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Antes de seguir, uma breve observação: os humanoides são robôs com formas semelhantes a dos humanos, como o Pepper, da SoftBank Robotics. Agora, os androides não só lembram os humanos, como são feitos com materiais que remetem à pele humana. Este último grupo levará anos e mais anos para chegar ao mercado. Para Paré, nem os seus netos conviverão com máquinas do tipo, sendo que, hoje, ela sequer saem dos laboratórios.

Por outro lado, trabalhar no desenvolvimento desses robôs tem inúmeras vantagens, quando são pensados como plataformas de complexidade. Afinal, "reproduzir um ser humano é reproduzir uma das criaturas mais complexas do universo", explica. Nestes projetos, são unidos colaboradores de diferentes disciplinas, incluindo especialistas em psicologia e comportamento social, além das engenharias.

Entre os aprendizados que podem ser gerados a partir desses experimentos, Paré cita o desenvolvimento de sensores de pele para aumentar o nível de interação dos androides. Como resultado, é possível desenvolver um tipo de silicone, com um sistema que simula a circulação sanguínea, repleto de sensores, que poderá ser usado para acionar alarmes com alto grau de precisão ou melhorar a experiência de direção em veículos.

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O mais interessante é que tudo o que se vê, dentro da robótica, é fruto de uma ainda jovem área de conhecimento. Para os próximos anos, décadas e séculos, novas possibilidades envolvendo robôs serão imaginadas e criadas, superando marcos históricos. Lá nos anos 2000, o robô humanoide Asimo, da Honda, foi um marco, mas a sua produção já foi descontinuada, e invenções ainda mais complexas estão se tornando realidade.

A exposição Convivendo com Robôs, na Japan House São Paulo, é gratuita. O visitante poderá interagir com alguns dos robôs, como o Lovot e o Nicobo, testando se essas criações são, de fato, amigáveis, além de aprender sobre a história da robótica, a partir de uma completa retrospectiva que começa com o surgimento dos primeiros autômatos e as estátuas animadas.