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Americanas: entenda o que pode acontecer com a empresa e seus clientes

Por| Editado por Claudio Yuge | 16 de Janeiro de 2023 às 19h40

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rawpixel.com/Freepik
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Tudo sobre Americanas

Na última semana, o colapso da Americanas abalou o mercado de investimento, gerando dúvidas e agitação sobre seu futuro e como a sua queda impactará na vida de trabalhadores e consumidores. A empresa, considerada uma das maiores do varejo na América Latina, entrou com o pedido de tutela de urgência na Justiça — o que pode ser o primeiro passo para um pedido de recuperação judicial.

A crise iniciou-se na quarta-feira (11), quando o Sergio Rial renunciou ao cargo de CEO, apenas dez dias após assumi-lo. Sua saída foi acompanhada da de André Covre, diretor de relações com investidores. No dia seguinte, durante um evento com investidores, o executivo anunciou a identificação de "inconsistências contábeis", que totalizavam R$ 20 bilhões em dívidas. Na sexta-feira (13), a empresa anunciou o pedido de tutela.

Para entender melhor o que aconteceu e qual será o futuro da Americanas, confira a matéria abaixo;

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O que aconteceu com a Americanas?

Segundo a empresa, foi descoberto um rombo de R$ 20 bilhões em dívidas não registradas em seu balanço. A notícia abalou a bolsa de valores de maneira que as ações da companhia chegaram a cair 77% em um único dia, perdendo cerca de R$ 8,4 bilhões em valor de mercado.

Em um evento com investidores, o ex-CEO disse que o rombo foi causado por operações de "risco-sacado", registradas incorretamente por anos. No entanto, Rial não explicou como esse erro foi identificado em tão pouco tempo. Especialistas acreditam que um rombo desse tamanho não teria passado despercebido e deveria ser de conhecimento da gestão anterior.

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O que é forfait?

O forfait, ou "risco-sacado", é uma operação em que a empresa tem uma dívida a ser paga, na maioria das vezes com um fornecedor, e faz um acordo para que o banco libere o dinheiro para pagar o credor. A dívida com o fornecedor é paga, mas a empresa se compromete com a instituição financeira, tendo que pagar o valor emprestado com juros e taxas.

Em resposta à agência Reuters, especialistas disseram não haver uma norma de como registrar esse tipo de operação. No entanto, o problema vai além de preencher um formulário de maneira incorreta, visto que a classificação contábil é um sinalizador do endividamento da empresa — influenciando seus contratos de financiamento e acesso ao crédito, por exemplo.

Para a Americanas, a identificação de um débito maior que o valor de seu patrimônio líquido, de R$ 14,7 bilhões, pode acarretar problemas maiores. Um deles é o vencimento antecipado e imediato de dívidas, equivalente a cerca de R$ 40 bilhões — que correspondem à soma do rombo mais a dívida bruta da companhia que, em setembro de 2022, era de R$ 19,3 bilhões.

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Quais são as consequências do rombo?

A primeira consequência é o dano de imagem, de maneira que a empresa perde a credibilidade de clientes, funcionários e investidores. A segunda é financeira, visto que agências de classificação de risco, como Fitch e S&P, já rebaixaram as notas de crédito da Americanas devido à revelação das inconsistências.

Segundo um cálculo da XP Investimentos, caso os R$ 20 bilhões sejam reconhecidos de uma só vez no balanço, a dívida líquida da empresa subiria de R$ 5,3 bilhões para R$ 25,3 bilhões. Aumentando a relação entre dívida líquida e Ebitda, o resultado operacional da empresa, de 1,7 para 8 vezes.

Esse índice revela a capacidade de pagamento das dívidas por uma empresa, que é geralmente limitado para proteger os credores. Neste caso, ao ultrapassar o limite, os credores da Americanas podem pedir a antecipação do vencimento das dívidas — o que aumentaria o valor do rombo para R$ 40 bilhões.

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Quem é o principal prejudicado neste caso?

Especialistas revelam que os principais prejudicados nesse escândalo são os acionistas minoritários por não terem tido a oportunidade de reagir. A Associação Brasileira de Investidores (Abradin) apresentou uma denúncia para apurar a responsabilidade da varejista. Segundo a associação, os gestores da companhia devem ser punidos.

"Chamar de 'inconsistências' os fatos relatados não passa da tentativa de emplacar um eufemismo para uma fraude multibilionária que não só destruiu patrimônio dos acionistas da companhia como, e principalmente, mina a credibilidade do mercado de capitais brasileiro, afugentando investidores justamente em um momento em que a economia nacional tanto precisa de investimentos diretos na produção para retomar sua trajetória de crescimento", diz a entidade.

A Americanas será punida?

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As empresas de capital aberto no Brasil precisam informar ao mercado sobre suas finanças. O processo possui regras, de maneira que, empresas que falsificam dados ou declaram valores diferentes podem sofrer processos em várias instâncias. A Comissão de Valores Mobiliários é a responsável por investigar e punir empresas por má conduta. Atualmente, o órgão já abriu dois processos desde a revelação do caso na semana passada.

O que acontecerá com a Americanas?

Não há como adivinhar o que acontecerá com a empresa, no entanto, sabe-se que a 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro atendeu o pedido de tutela de urgência cautelar. Dessa maneira, a empresa estará protegida de um eventual pedido de adiantamento do vencimento das dívidas por parte dos credores e impede o bloqueio de seus ativos.

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A Americanas tem até 30 dias para decidir se realizará o pedido de recuperação judicial ou não. Segundo a empresa, o objetivo da tutela era de honrar com os compromissos já firmados com seus clientes, preservar o valor da companhia e assegurar a manutenção da continuidade do negócio e sua função social. Segundo analistas, é possível que a empresa entre em "modo sobrevivência", cortando investimentos e empregos.

O que é recuperação judicial?

A recuperação judicial é uma medida extrema acionada para evitar que uma companhia vá à falência. No caso da Americanas, a empresa acionou a tutela de urgência que determinou a suspensão liminar dos efeitos de toda e qualquer cláusula contratual que imponha o vencimento antecipado das dívidas da companhia. O recurso é considerado uma preparação para o pedido de recuperação.

Caso a Americanas entre em processo judicial, a companhia terá intermediação da Justiça para reorganizar a sua estrutura financeira ao renegociar dívidas acumuladas e evitar a falência. A empresa perderia suas ações no principal índice da Bolsa de Valores, o Ibovespa, mas os papéis continuariam sendo negociados normalmente.

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Devo parar de comprar na Americanas ou cancelar um pedido?

Em um comunicado no site, a Americanas afirma que "seguirá trabalhando duro para trazer a todos vocês, a melhor experiência no tempo e no preço que cada consumidor busca". Não está claro como o rombo e suas consequências podem impactar nos consumidores. Em resposta a um pedido do Procon-SP, a empresa tem até o dia 17 para responder até que ponto as compras efetuadas serão comprometidas, entre outros questionamentos.

Como o caso da Americanas atinge os clientes do Nubank?

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A queda nas ações da Americanas impactou os fundos de renda fixa do Nubank, levando a uma série de reclamações nas redes sociais. Dados da CVM revelam que o Nu Reserva Imediata, uma das opções de reserva de emergência da fintech, possuía 1% de seu patrimônio investidos em crédito privado, com recursos alocados em debêntures (títulos de dívidas) da varejista.

Segundo informações do aplicativo do Nubank, a carteira que possuía uma rentabilidade de 109% do CDI, apresentou um retorno médio de 37% do CDI nos últimos 30 dias. Em resposta a um dos clientes pelo Twitter, o banco afirmou que “nos fundos Nu Reserva Imediata e Nu Reserva Planejada, os ativos de renda fixa podem variar de valor conforme a marcação dos preços, que varia conforme notícias e eventos de mercado”.

Em uma nota, a Nu Asset Management, gestora de investimentos do Nubank, afirmou que o fundo de renda fixa "Nu Reserva Imediata" possui um retorno nominal positivo de 2,72% nos últimos 90 dias e “segue trajetória de rentabilidade de longo prazo, apoiada pela diversificação de investimentos”.

A empresa ainda afirmou que a pequena parcela de investimento em debêntures das Americanas foi revista e que o impacto de rentabilidade nesse fundo tende a ser amenizado ao longo do tempo pela estratégia de gestão do fundo.

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Fonte: Folha de S. Paulo; G1