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Pagar por notícias? Google diz que lucra muito pouco com conteúdo jornalístico

Por| 17 de Setembro de 2020 às 08h45

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Pagar por notícias? Google diz que lucra muito pouco com conteúdo jornalístico
Pagar por notícias? Google diz que lucra muito pouco com conteúdo jornalístico
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Nesta quinta-feira (17), o Google inaugurou um novo round sobre a proposta de remuneração de veículos jornalísticos pelas plataformas de buscas e que vem sendo debatida no Congresso. Dessa vez, a empresa aposta em números para embasar a sua visão. E um dos principais deles é baixa receita proporcionada a partir da publicidade em conteúdos do gênero.

Segundo a companhia, o valor gerado a partir dos AdWords nas buscas por notícias foi de apenas US$ 4 milhões (R$ 20,9 milhões), quantia que representa uma parcela pequena da receita gerada com anúncios no Google Busca no país. Isso porque, de acordo com a empresa, a maior parte do seu faturamento vem de pesquisas com intenções de compra – "por exemplo, quando você quer comprar um 'tênis de corrida', digita essas palavras na Busca e depois clica em um anúncio", explicou o Google a partir de um post em seu blog oficial.

Além disso, ainda de acordo a companhia, buscas relacionadas a notícias representaram somente 1,5% do total de pesquisas feitas através do Google no Brasil em 2019. Logo, a empresa afirma não ser correto afirmar que a maior parte de sua receita vem da exibição de anúncios em resultados de notícias na Busca.

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O pagamento por conteúdo e não por notícias

Em seu texto, o Google afirma que para manter a confiança dos usuários na busca por informações, os resultados da Busca são determinados pela relevância – não por parcerias comerciais. "É por isso que não aceitamos que ninguém pague para ser incluído nos resultados orgânicos de busca", continua a empresa. "Vendemos anúncios ligados aos termos pesquisados pelos usuários, não resultados da Busca, e toda a publicidade exibida em nossas plataformas é claramente identificada".

O Google explica que é por esse mesmo motivo que a empresa não paga aos produtores de notícia quando as pessoas clicam em seus links em um resultado de pesquisa. Segundo a companhia, "operar de qualquer outra forma promoveria um tratamento desigual, incompatível com a natureza da Busca, e reduziria o poder de escolha e a relevância para nossos usuários – em última análise, resultaria em perda de confiança em nossos serviços".

No entanto, a Big G afirma que há casos em é feito o pagamento por conteúdo, mas eles envolvem a criação de um produto com uma necessidade específica -- quando, por exemplo, são mostrados os resultados de partidas de futebol ou a previsão do tempo em um painel dedicado, entre outras soluções.

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Por isso, no início de 2020, a empresa anunciou um novo programa de licenciamento que pagará por conteúdo, em uma nova experiência de notícias, a ser lançada em breve. Vários veículos brasileiros – de cobertura nacional, como UOL, Folha de S.Paulo, Estadão e Jovem Pan; ou locais, como O Dia, Jornal Correio, A Gazeta e Folha de Boa Vista – estão entre os primeiros a aderirem, ajudando no desenvolvimento do novo produto. O Google afirma que esse grupo de publicações está sendo ampliado inclusive para mais países.

O Google afirma ainda que, longo deste ano, foram investidos mais de R$ 17 milhões em um fundo emergencial para ajudar a manter em funcionamento mais de 400 veículos do país, que tiveram suas receitas afetadas pela pandemia. Nas próximas semanas, compartilharemos mais informações sobre o impacto da GNI no Brasil. A ação faria parte da "Iniciativa Google de Notícias (GNI, na sigla em inglês), que traria ainda projetos de treinamento e formação, ferramentas e programas que auxiliam as redações a inovarem.

Novas tecnologias

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Além de direcionar visitas para os sites de notícias, o Google afirma que, ao longo dos últimos anos, foram feitos investimentos pesados na criação de tecnologias e serviços de publicidade para ajudar as redações a gerar receita com o seu conteúdo de modo mais eficiente. Segundo a big tech, muitas empresas jornalísticas brasileiras já usam suas plataformas de propaganda, como Ad Manager, AdSense e AdMob, para vender seus espaços publicitários para anunciantes.

Já em sites jornalísticos que exibem publicidade distribuída pelas plataformas do Google, a empresa afirma que quando o usuário clica em um anúncio que gostou, a maior parte do dinheiro pago pelo anunciante vai para o veículo de imprensa. O mesmo vale para os casos em que o usuário assiste a um comercial antes de aprender uma receita nova em um canal do YouTube, por exemplo: a maior parte da receita com a publicidade fica com o criador.

Mais uma vez citando números, o Google afirma que a maior fatia da receita gerada por esses anúncios fica com os donos do conteúdo, e não com a empresa. "Em 2019, os veículos de mídia ficaram, em média, com 69% da receita gerada pela publicidade adquirida por anunciantes usando as nossas plataformas, como Google Ads e Display & Video 360", declarou.

Google vs. setores da comunicação

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Os números apresentados acima pelo Google vêm na esteira de um embate entre a empresa e uma coalizão que reúne 27 entidades representativas do setor de comunicação. Em agosto, o grupo protocolou na Câmara uma carta ao presidente da casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendendo a remuneração de conteúdos jornalísticos, bem como mais transparência da publicidade na internet. Também foi pedido a inclusão das ferramentas de busca no projeto de lei 2.630/20, também conhecido como "Lei de Combate as Fake News", já aprovada pelo Senado e em discussão na Câmara.

Em resposta, Fábio Coelho, presidente do Google no Brasil, enviou uma carta à Maia, criticando as medidas, principalmente a inclusão de seu mecanismo de busca na PL das Fake News. Segundo ele, "incluir os mecanismos de busca no escopo da legislação proposta não atenderá a sua proposta inicial de coibir a conduta de pessoas mal intencionadas que distribuem informações falsas pela internet. Ao contrário, isso poderia ser prejudicial ao combate à desinformação ao limitar acesso a uma variedade de fontes de informação".

Coelho afirma ainda que "que simplesmente incluir as ferramentas de busca no projeto de lei, sem a devida consideração do conjunto de ações concretas que temos realizado para combater a desinformação em todas as nossas plataformas, poderia fazer com que a futura lei já nascesse obsoleta".

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Por fim, o documento afirma que o Google é claro em seus relatórios de transparência sobre a remoção de conteúdo que viole suas políticas.

"O Google se orgulha de ter sido pioneiro na divulgação de relatórios de transparência a partir de 2010. Recentemente, nós divulgamos o relatório de transparência das nossas plataformas de anúncios, no qual informamos que em 2019, nós bloqueamos e removemos 2,7 bilhões de anúncios globalmente. No Brasil, somente entre abril e junho de 2020, nós removemos anúncios de mais de 600 mil páginas e 16 mil domínios por violação de políticas. Além disso, o YouTube removeu 11,4 milhões de vídeos por violação de políticas globalmente e o Brasil representou 981,181 vídeos no segundo trimestre de 2020, conforme o relatório de transparência da plataforma divulgado nesta semana". 

Mesma briga na Austrália e outros países

O gigante das buscas vem enfrentando embates por pagar ou não por notícias não apenas no Brasil, mas também em outros países. No final de julho deste ano, a Austrália o primeiro país a exigir que Facebook e Google paguem pelo conteúdo de notícias produzidos pelas empresas de mídia. Para isso, a remuneração será feita a partir de um sistema de royalties que se tornará lei ainda este ano. O objetivo, segundo o governo local, é proteger o Jornalismo independente praticado mundo afora.

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Após uma investigação sobre o estado do mercado de mídia e o poder das plataformas dos EUA, o governo australiano, no final do ano passado, disse ao Facebook e ao Google para negociar um acordo voluntário com as empresas de mídia para usar seu conteúdo. Essas negociações não chegaram a lugar algum e as autoridades locais agora dizem que, se um acordo não puder ser alcançado através de arbitragem dentro de 45 dias, a Autoridade Australiana de Comunicações e Mídia estabeleceria termos juridicamente vinculativos em nome do governo.

As empresas de mídia, incluindo a News Corp Austrália, uma unidade da News Corp, fizeram pressão junto ao governo local para forçar as big techs a sentar para negociar, principalmente quando os veículos vêm enfrentando um longo declínio nas receitas de publicidade. "Enquanto outros países estão falando sobre o comportamento injusto e prejudicial dos gigantes da tecnologia, o governo australiano está tomando uma ação inédita no mundo", disse o presidente executivo da News Corp Austrália, Michael Miller, em comunicado, a respeito da ação tomada pelas autoridades públicas daquele país.

Uma pesquisa feita em 2019 na Austrália estimou que cerca de 3.000 empregos na área de Jornalismo foram perdidos no país nos últimos 10 anos. Uma das causas é que as empresas de mídia tradicional perderam boa parte de suas receitas de publicidade para o Google e o Facebook, que não pagaram nada pelo conteúdo de notícias.

Outros países tentaram e falharam na tentativa de fazê-las abrir o bolso. Setores de mídia na Alemanha, França e Espanha pressionaram a aprovação de leis nacionais de direitos autorais que obrigam o Google a pagar taxas de licenciamento quando publica trechos de seus artigos de notícias. No entanto, em 2019, a gigante de buscas parou de mostrar trechos de notícias de editores europeus nos resultados de pesquisa para seus usuários franceses. Já o maior editor de notícias da Alemanha, Axel Springer, permitiu que o mecanismo de busca executasse trechos de seus artigos após queda de tráfego nos sites.