Review Xiaomi Mi 10T 5G | Quando os cortes são bem justificados
Por Felipe Junqueira • Editado por Léo Müller |
O Xiaomi Mi 10T 5G é uma espécie de “meia-geração” dos topo de linha da Xiaomi lançados em 2020, com ficha técnica bastante completa em comparação com o Xiaomi Mi 10. Os cortes de custos ficaram para o tipo de painel, que passa do OLED para um LCD, e na câmera principal, que cai de 108 MP para 64 MP.
Praticamente um ano depois de ser oficialmente apresentado no Brasil, o modelo ainda pode ser encontrado tanto na loja oficial da Xiaomi quanto em varejistas, via marketplace. O preço varia bastante, e você pode pagar quase metade do valor com importadores do que pagaria no site da fabricante.
Mas será que vale a pena arriscar uma compra sem a garantia de 12 meses para pagar bem mais barato neste celular? Será que ele vale a pena com tela de tecnologia considerada inferior aos concorrentes e câmera de menor resolução até que muitos modelos intermediários?
Eu testei o Mi 10T 5G e conto tudo sobre a proposta deste modelo e o que você pode esperar dele. No final, espero ajudar quem estiver interessado a fazer uma escolha entre comprar ou não o dispositivo, com a consciência de que ele atende ou não suas necessidades.
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Design e Construção
Diferente da versão Lite, o Mi 10T 5G traz acabamento e design premium, com traseira em vidro, que tem proteção Gorilla Glass 5, e laterais em alumínio. Dependendo da cor, a pintura pode ser fosca ou brilhante, e o modelo testado pelo Canaltech é um representante da segunda opção, na cor cinza. Apesar de parecer mais atraente pelos efeitos de luz, a traseira também atrai muito mais marcas de dedos, e precisa de limpeza constante — ou você usa uma capinha, que seria ainda mais indicado.
- Dimensões (A x L x P): 165,1 x 76,4 x 9,33 mm
- Peso: 216 g
A boa notícia é que a capinha protetora já vem na caixa. O acessório oferece ótima ótima proteção ao aparelho, incluindo a tela, mas não resolve outro de seus problemas de design: a lombada do conjunto traseiro de câmeras é muito saltada, e, mesmo com a capa, o dispositivo fica bambo na mesa. E olha que o aparelho nem é tão fino assim, já que ultrapassa os nove milímetros de espessura, mais do que o Galaxy S20 Ultra, por exemplo, que tem 8,8 mm e também traz câmera periscópica, mas não tão protuberante.
O módulo de câmeras tem nada menos que cinco furos, apesar de o Mi 10T ter apenas três câmeras. A principal é a maior, no topo, bem destacada do restante, enquanto as outras duas, uma super grande-angular e outra macro, se encontram abaixo. Ao lado de cada uma, há um sensor de foco a laser e o flash LED.
O celular da Xiaomi tem os botões de volume e energia no lado direito, e o leitor de impressão digital fica embutido neste último. Embaixo, você vai encontrar um conector USB-C para o cabo de energia, e nada de P2 neste modelo, que ao menos traz um adaptador para você ligar fones de ouvido comuns na única porta do aparelho.
Na frente, a tela traz poucas bordas e um furo no canto superior esquerdo para abrigar a câmara de selfies. Para um celular com tela LCD, a Xiaomi conseguiu fazer um ótimo trabalho na redução das bordas em volta do display.
Só ficou faltando uma proteção contra água e poeira. Mas, considerando o preço mais em conta comparado aos concorrentes de Apple e Samsung, é uma desvantagem aceitável.
Tela
A linha Mi 10T é uma espécie de versão mais acessível dos topo de linha da Xiaomi, lançados cerca de seis meses após as versões mais potentes e completas foram levadas ao mercado. Uma diferença importante é o tipo de display, LCD nos modelos de “meia-geração”.
O tamanho é o mesmo, de 6,67 polegadas, mas as laterais não são curvas. A taxa de atualização foi aumentada para 144 Hz, enquanto a resolução da tela ficou igual, com 1080 x 2400 pixels (a proporção está diferente, agora é 20:9). A proteção Gorilla Glass também foi mantida. A única vantagem tanto para o Mi 10T Lite quanto para o Mi 10, portanto, é a frequência do display, que atualiza mais vezes por segundo e oferece imagem um pouco mais fluida.
No fim das contas, o resultado é que a imagem tem nitidez semelhante ao topo de linha do primeiro semestre, mas o contraste é um pouco menos marcante, e as cores mais realistas, em vez de mais vívidas. O HDR10+ também foi mantido, o que garante um bom nível de detalhes e contraste razoável, mas não dá para comparar o resultado de um visor OLED com um LCD neste sentido. Ou seja, a tela não é ruim, mas fica um pouco abaixo do Mi 10 lançado no início de 2020.
Segundo a Xiaomi, o nível de brilho mantém a mesma intensidade, com 500 nits típicos e até 650 nits de pico. Ou seja, dá para usar o aparelho com razoável conforto mesmo sob a luz do sol, se você mantiver o brilho adaptável ativado para alcançar o brilho mais forte.
O visor do Mi 10T 5G possui as seguintes especificações técnicas: painel IPS LCD de 6,67 polegadas com resolução Full HD (1080 x 2400 pixels, cerca de 395 ppp de densidade). As opções de taxa de atualização são de 144 Hz (padrão do aparelho), 90 Hz ou 60 Hz, para quem quiser economizar bateria. O display ainda tem suporte ao HDR10+ e ocupa cerca de 84,6% da parte frontal do dispositivo.
Configuração e Desempenho
Não há com o que se preocupar em relação ao desempenho do Mi 10T 5G, que tem plataforma topo de linha. O celular da Xiaomi roda tudo o que você precisar em um smartphone sem engasgos e em tempo muito bom, já que tem tudo de melhor que existia em termos de hardware no momento de seu lançamento, em outubro de 2020.
Consegui até mesmo jogar Dead By Daylight sem engasgos, e mesmo ao sair do jogo o dispositivo continuou a funcionar de maneira fluida. Asphalt 9 também rodou perfeitamente mesmo com as configurações gráficas no máximo. Também não senti aquecimento fora do comum durante os testes. Os resultados no 3D Mark mostram como ele está preparado para rodar gráficos de alta qualidade sem dificuldade.
Ou seja, se você optar pelo Mi 10T 5G terá não apenas um ótimo celular para as tarefas do dia a dia, como poderá rodar de tudo sem grandes problemas. O aparelho ainda tem suporte às redes 5G, portanto não será necessário trocar o modelo quando a nova tecnologia de redes móveis começar a ser oferecida no Brasil.
A única questão que é bom ficar de olho é na memória. A Xiaomi oferece este modelo em duas opções de RAM: 6 GB ou 8 GB, que já são suficientes para o uso da grande maioria das pessoas atualmente, mas é menos do que outros topo de linha entregam atualmente. Além disso, são apenas 128 GB de armazenamento, sem opção de aumentar com cartão micro SD.
As características técnicas completas do Mi 10T 5G são: plataforma Snapdragon 865 5G, fabricado a 7 nanômetros e com processador de oito núcleos dividido em um mais veloz Kryo 585 de 2,84 GHz, três medianos de 2,42 GHz e quatro eficientes de 1,8 GHz. A GPU é a Adreno 650, e o aparelho é vendido com 6 GB ou 8 GB de RAM e 128 GB de armazenamento interno, não expansível.
Interface e conectividade
Eu testei o Mi 10T com a MIUI global na versão 12.5.4 estável, que roda por cima do Android 11. A política de atualização da Xiaomi não é muito transparente, mas a empresa costuma enviar updates de sua interface para a maioria de seus dispositivos por, pelo menos, dois anos. Mesmo que a versão do sistema operacional em si, ou seja, do Android, não mude.
A MIUI traz bastante recursos adicionais aos aparelhos da Xiaomi, mas também tem uma boa quantidade de aplicativos pré-instalados, alguns deles redundantes. São apps oferecidos como alternativas a algumas aplicações padrão do GApps (pacote padrão do Google para o Android), com praticamente as mesmas funcionalidades. Também há alguns úteis, mas que nem todo usuário vai aproveitar. Muitos podem ser desinstalados, mas boa parte só pode ser desativada.
O celular da Xiaomi tem leitor de impressão digital lateral, integrado ao botão de energia, que tem funcionamento bastante rápido e preciso. Em matéria de conectividade, o Mi 10T conta com o 5G, Bluetooth 5.1 Low Energy, NFC e Wi-Fi dual-band (suporte a 2,4 GHz e 5 GHz) com hotspot. O aparelho também vem com emissor infravermelho, que permite controlar televisão, ar condicionado e outros dispositivos compatíveis com a tecnologia.
Não há praticamente nenhuma diferença em relação ao Mi 10 lançado no primeiro semestre nos quesitos software e conectividade.
Câmera
Como já mencionei, o Mi 10T tem um conjunto traseiro com três câmeras. A principal tem 64 MP (uma redução em relação aos 108 MP do Mi 10), enquanto a super grande-angular tem 13 MP e a macro, 5 MP. Na frente, as selfies usam um sensor de 20 MP. Tirando a principal, todas as outras câmeras são as mesmas do modelo do primeiro semestre. Curiosamente, apenas esta é igual à do Mi 10T Lite, que tem menos resolução em todas as outras.
As câmeras trabalham bem no geral, mas tendem a entregar cores mais frias. Para quem gosta de um destaque maior, uma dica é ativar a IA, que faz um ajuste conforme o cenário e dá um ganho em saturação. A nitidez é muito boa, mas você já nota granulação com iluminação mais baixa, e até alguns ruídos na imagem com pouca luz — e, neste caso, o modo noturno pode ajudar, mas nem sempre salva a foto.
Com relação à resolução ser metade do que você teria no Mi 10 ou mesmo em alguns intermediários que já oferecem a câmera de 108 MP, não há com o que se preocupar. O aparelho junta alguns pixels e entrega imagens menores para aproveitar melhor a luz disponível, resultando em imagens de cerca de 12 MP, em vez dos 64 MP. Dá para aproveitar essa resolução toda, mas não tem motivo para isso.
A lente ultra wide não possui foco ajustável, e praticamente só serve para tirar fotos de paisagens. Com pouca luz, a qualidade fica bastante abaixo do esperado para um celular topo de linha. A macro, por outro lado, trabalha satisfatoriamente mesmo com luz baixa, se você levar em conta que nenhuma câmera é excelente nestas condições. O fato de ter foco ajustável (inclusive com opção automática) ajuda bastante a encontrar o ponto certo para o clique.
As selfies não possuem embelezamento forçado, mas pecam mais no HDR, com fundo estourado mesmo quando não há tanta claridade assim. Isso acontece porque o aparelho prioriza o seu rosto, e dá um ganho extra de claridade para entregar resultados ao gosto do público asiático. As fotos ficam bastante nítidas e dá para melhorar um pouco a saturação e cores com uma edição rápida.
O aplicativo de câmera tem o mesmo problema de todo celular da Xiaomi: para usar a câmera macro, é necessário acessar um menu diferente. A opção não está nem na lista de modos que fica acima do botão de captura e nem entre os atalhos de zoom (que inclui a ultra wide) dentro do enquadramento — aquelas opções 0,6x, 1x e 2x. Você vai encontrar a macro no menu com três linhas horizontais, onde há ajustes de proporção da imagem, temporizador e outras configurações.
Você ainda vai conseguir gravar vídeos com resolução máxima 8K neste aparelho, mas a estabilização vai ser bem precária. Indo para o 4K, já dá para reduzir bastante os tremidos, além de ter qualidade mais que suficiente para a internet. A câmera frontal, no entanto, fica limitada ao Full HD. Quanto à qualidade da gravação, cores e contraste são bem satisfatórios, e o microfone tem redução de ruído boa.
Sistema de Som
O Mi 10T possui sistema de áudio estéreo, com um alto-falante na parte inferior e outro no mesmo local onde sai o áudio de chamadas. O som é potente e não há muita distorção nem mesmo em volumes altos, mas dá para notar que os graves são praticamente inexistentes. Ainda assim, dá para consumir vídeos de maneira satisfatória.
Para escutar músicas, é mais indicado aproveitar um bom par de fones de ouvido, ou mesmo utilizar uma caixa de som externa. Você pode usar a conectividade Bluetooth para isso ou até o adaptador USB-C para P2 que vem na caixa.
Bateria e Carregamento
Apesar da ótima experiência geral do celular da Xiaomi, o que mais me impressionou foi a duração da bateria. Sempre ouvi muitos elogios à eficiência energética dos aparelhos da marca, mas nenhum que eu havia testado até agora realmente havia atendido às expectativas — apesar de nenhum ter duração ruim, já que o problema era o que eu esperava, e não a entrega em si.
O Mi 10T 5G tem 5.000 mAh de capacidade, um pouco mais que os 4.780 mAh do seu antecessor direto Mi 10. Também é um pouco mais do que o Mi 10T Lite oferece. Mas o resultado em comparação com este último é consideravelmente mais impressionante, e há possibilidade real de você ficar mais de dois dias longe da tomada mesmo com um dispositivo de alto processamento em mãos.
Para você ter uma ideia, a estimativa de uso no teste de reprodução na Netflix ficou em 37,5 horas, tempo recorde nos nossos registros aqui do Canaltech. A gente deixa o aparelho tocando uma série por três horas com brilho da tela em 50% para ter uma ideia geral do tempo de uso dos celulares que testamos. O Mi 10T consumiu apenas 8% de carga no período — o modelo Lite, por exemplo, ficou em 11,5 horas de estimativa, com 26% de carga consumida no mesmo teste.
E mesmo o teste de uso real teve resultado animador. Monitorei o uso do aparelho durante um dia de expediente e, com oito horas fora da tomada e cerca de 4 horas e 45 minutos de tela, o dispositivo ainda ficou com 72% de carga. A estimativa, segundo o próprio sistema, era de mais quase 17 horas de uso — um tempo que seria estendido uma vez que há o período em que dormimos. Ou seja, dá para dizer com tranquilidade que o aparelho aguenta dois dias longe da tomada, mesmo com uso mais intenso.
Durante o teste, eu usei aplicativos comuns para a maior parte das pessoas atualmente. Isso inclui redes sociais (Instagram e Twitter), reprodução de vídeos (YouTube e Netflix) e jogos (Asphalt 9 e Dead by Daylight). Também foram instalados e configurados apps essenciais como e-mail e mensageiros, que puxam dados em segundo plano e consomem carga durante todo o dia.
Mesmo assim, gosto de lembrar que testes de bateria só podem fazer uma estimativa de uso, e cada pessoa vai ter uma exigência diferente e resultados distintos, mesmo se repetir o mesmo procedimento. Questões como força do sinal de rede, brilho da tela, apps em segundo plano e notificações podem alterar o consumo.
O Mi 10T 5G vem com carregador de 33 W na caixa, igual ao modelo Lite. O tempo de recarga total, de 0% até 100%, fica em cerca de 1 hora, e em 15 minutos de tomada você já tem um aumento de aproximadamente 30% na carga.
Concorrentes Diretos
Concorrente para o Mi 10T não falta, já que qualquer celular topo de linha pode ser uma alternativa a ele. A questão é o preço: o celular da Xiaomi vai ser mais barato que boa parte das opções, mas apenas no “mercado cinza”, no qual a garantia fica restrita a três meses (quando você realmente consegue que o lojista a respeite, se precisar).
O modelo mais próximo em preço e características é o Galaxy S20 FE, que é mais barato com a garantia de 12 meses e traz o mesmo Snapdragon 865 em seu interior. Mas vai ter duração de bateria bem menor, para um dia de uso, apenas, além de não contar com o 5G. De vantagem, a tela é Super AMOLED. Você encontra o smartphone da Samsung facilmente na faixa entre R$ 2.000 e R$ 2.400, na versão de 6 GB de RAM e 128 GB de armazenamento.
Outra opção é partir para o Mi 10T Lite, que é bem mais barato, ficando na faixa dos R$ 2.000. Porém, seu hardware é intermediário, um Snapdragon 750G, e a duração de bateria é bem inferior, pelo que eu verifiquei em meus testes.
Conclusão
Um excelente topo de linha, o Mi 10T 5G só peca no tipo de painel escolhido pela fabricante. Não que o LCD seja ruim, mas em tempos em que até a Apple já partiu para o OLED, não vejo muito motivo para insistir em um tipo de painel menos eficaz energeticamente e com contraste menos marcante, além de aumentar consideravelmente a espessura do produto.
Claro que o celular da Xiaomi consegue entregar uma autonomia de bateria melhor que a maioria dos concorrentes tão potentes quanto ele. E aí seu ponto fraco fica esquecido entre tantas vantagens sobre outros modelos topo de linha disponíveis no mercado brasileiro atualmente. Ou seja, os cortes de custos, que ainda tem a ausência de proteção contra água e poeira na conta, são bem justificados neste modelo.
O preço oficial do Mi 10T 5G na loja da Xiaomi Brasil é de R$ 6.200, que cai para pouco mais de R$ 5.700 com os 8% de desconto à vista. Um preço alto se você levar em conta que a empresa chinesa se popularizou por oferecer ótimos produtos a preço bem mais baixo que a concorrência. Por sorte, você pode encontrar este modelo por valor pouco abaixo dos R$ 3.000 no varejo online.
O problema: são unidades vendidas por importadores, que revendem o produto via marketplace nas grandes redes de e-commerce. E aí, você perde o direito aos 12 meses de garantia da fabricante, e ainda corre o risco de ficar na mão se precisar trocar o aparelho dentro dos 90 dias "oferecidos" por lojistas. A diferença no preço é grande o bastante para compensar o risco, ao menos.
Mas se existe um Galaxy S20 FE com características muito parecidas com as do Mi 10T e preço mais baixo com os 12 meses de garantia, fica difícil recomendar o modelo da Xiaomi. Claro que você perde a autonomia de bateria excelente e até mesmo o 5G se optar pelo aparelho da Samsung, mas para quem tem preocupação com garantia e assistência técnica, é algo a se pensar.