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Pirataria é “câncer econômico” e desencoraja inovação, diz executivo da JBL

Por  • Editado por Léo Müller |  • 

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Montagem/Canaltech
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Rodrigo Kniest, Vice-Presidente Sênior da Harman — responsável pela JBL e outras marcas de áudio — na América Latina considera a pirataria como “câncer econômico e social” para o Brasil. Em entrevista ao Canaltech na fábrica da empresa em Manaus, o executivo disse que a JBL está entre as marcas que mais sofrem com a venda de produtos falsificados no país.

A Harman detém 83% do mercado brasileiro de caixas de som segundo a agência GfK (Growth from Knowledge), mas a concorrência desleal representada pelos produtos pirata que não pagam impostos tem um impacto importante.

“Nós não temos problema em pagar impostos e, na verdade, ficamos felizes em contribuir com algo que, teoricamente, será revertido em algo bom para o país. Mas a pirataria rouba esse benefício da sociedade”.
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Kniest também indica que, para algumas empresas, esse tipo de prática pode desencorajar a inovação.

“Não é o caso da JBL, mas vê-se que há um desestímulo. Investe-se quatro ou cinco anos para desenvolver inovações, com muito custo, para alguém chegar depois e dizer que tem áudio de alta qualidade e imersivo, sendo que não tem”.

Clientes levam produtos pirata na assistência

Kniest também revelou ao Canaltech que é comum a entrega de itens falsificados nas assistências técnicas oficiais da JBL, por parte de pessoas que acreditavam ter uma unidade verdadeira. Para ele, isso é problemático para a reputação da marca e pode até causar perigos para quem usa esse tipo de dispositivo.

“Seria menos pior se fossem honestos e falassem ‘olha aqui, essa é uma cópia’ e venderem mais barato. Na prática, não é assim. A pessoa confia em uma marca, e acaba sendo iludida [pelo produto pirateado]”.

Para o executivo, o papel das campanhas de conscientização — incluindo aquelas presentes no site oficial da JBL — é essencial para o consumidor saber o que realmente é vendido pela marca, uma ação potencialmente essencial para fugir de produtos falsificados.

“É um trabalho de ‘secar gelo’. Mas é feito não apenas pensando nos nossos produtos, ajuda também em segmentos como o de cigarros, bebidas, entre outros”.
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Além disso, a empresa também trabalha em conjunto com órgãos oficiais para realização de treinamentos específicos, além da comunicação sobre as remessas importadas. Desta forma, pacotes não reconhecidos pela JBL são identificados com muito mais facilidade.

Segundo números coletados pela própria Harman, o ano de 2024 já teve 43.041 produtos vendidos imitando a marca da JBL no Brasil. Para efeito de comparação, o Chile aparece na segunda colocação do índice da América Latina, com 6.632 unidades piratas.

O Rio de Janeiro aparece como o estado com o maior número de falsificações, com 28.915 itens apreendidos. O estado é seguido por São Paulo (13.100 unidades) e Tocantins (950 unidades).

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Além das 27 mil caixas de som falsas identificadas, outros produtos piratas encontrados incluem os headphones e adesivos JBL falsos.

Produtos da JBL mais falsificados pelos criminosos em 2024:

  1. Caixas de som: 27.777 unidades;
  2. Fones de ouvido/headphones: 6.704 unidades;
  3. Adesivos JBL: 13.942 unidades.

JBL “tropicalizou” produção

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Atualmente, a Harman produz caixas da JBL em território nacional, com grande parte da montagem na planta industrial de Manaus. Para Kniest, é essencial a sinergia entre o conhecimento de mercado e a interação com as matrizes de tecnologia lá fora.

“A gente ‘tropicalizou’ o produto. Isso significa incluir características e retirar outras para que ele se adeque mais ao público nacional, já que o país também se apresenta como um importante centro de desenvolvimento.”

Entre as adaptações realizadas está a busca por um som mais potente, que não é necessariamente o perfil do europeu, por exemplo. Em alguns casos, as características desenvolvidas no Brasil chegaram a ser exportadas para o resto do mundo, o que causou algum estranhamento no mercado.

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“As pessoas diziam ‘isso aí tem uma marca da JBL mas não é JBL’, e respondíamos ‘é JBL, mas JBL do Brasil’”.

Concorrência de marcas de celulares

No mercado de fones de ouvido, a JBL tem a concorrência cada vez mais forte das marcas mais consolidadas no setor de celulares. Afinal, é relativamente comum que empresas como a Samsung e a Apple façam maiores integrações de software dos seus próprios fones com os smartphones, e podem até dar os fones como brindes na hora da compra dos celulares, por exemplo.

Esse tipo de movimentação de mercado é reconhecido pela Harman/JBL como uma ameaça, mas também como um fator motivador de inovação, de acordo com Kniest:

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“Não apenas nos combos entre celulares e fones, mas também entre TVs e soundbars. É fácil para as marcas fazerem essas combinações para aumentar a atratividade e integração entre seus produtos. Para nós, é uma provocação para podermos fazer um produto melhor, que realmente chame a atenção”

O executivo também destacou que a independência das marcas de celulares é um fator que aumenta a versatilidade dos produtos, já que todos os seus recursos serão vistos por completo em modelos rivais:

“Pode ser um aparelho que roda Android ou iOS, o fone terá a mesma performance. É super comum que a pessoa tenha dois ou três celulares, ou um tablet e um celular, e assim ela não precisa ter limitações.”
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O desafio do automotivo

Além dos produtos voltados diretamente para consumidores, incluindo as caixas de som e fones de ouvido, a Harman também é responsável pela fabricação de sistemas de áudio para veículos de 22 montadoras diferentes. Neste caso, é preciso ter uma relação muito próxima com estas marcas, já que é a reputação delas que está em jogo diante da qualidade dos produtos.

Como um paralelo, Kniest citou o recente apagão em sistemas Windows, ocorrido por falhas da empresa de segurança digital CrowdStrike. Em ambos os casos, a percepção do público pode ser diferente do que se vê na cadeia de fornecedores:

“O problema da Microsoft se deu por causa de um ‘pedaço’ de software fornecido. Se dá um erro em algum componente fabricado por nós em Manaus, dá problema para a montadora, mas internamente todo mundo se conversa e vai direto para a fonte da situação, o que é perigoso para a credibilidade dos fornecedores.”
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A entrevista foi feita na cidade de Manaus, em viagem feita por convite da Harman.

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