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Logs de voo de Elon Musk mostram o que ele faz enquanto demite pessoas

Por| 31 de Janeiro de 2019 às 19h40

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Logs de voo de Elon Musk mostram o que ele faz enquanto demite pessoas
Logs de voo de Elon Musk mostram o que ele faz enquanto demite pessoas
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Conhecido CEO da Tesla, Space X e The Boring Company, Elon Musk é uma figura bastante controversa não apenas pelo que fala (ou tuíta), mas também pelo modo como age. De acordo com as próprias palavras do bilionário, 2018 foi “o ano mais difícil e doloroso” da vida dele e, ainda que não tenham inventado uma escala para essa dor, é possível ter uma ideia da dificuldade do CEO ao checar um documento em especial: a coleção dos planos de voo do jatinho particular dele.

Apesar de a Tesla ter tido um ano em que chegou a perder cerca de US$ 100 milhões por semana e, segundo o próprio Musk, esteve à beira da falência, a empresa pagou pela totalidade dos 250 voos entre viagens a mando da Tesla, para cuidar de projetos paralelos pessoais do executivo como a Boring Company, além de férias com a família. Ao todo, Musk percorreu mais de 240 mil km com o jatinho da empresa, em viagens recorrentes dentro dos Estados Unidos, mas também para a Europa, Ásia e América Latina.

Mas, ainda que a necessidade de deslocamento rápido ao redor do mundo seja algo inerente do cargo de CEO de uma empresa, o uso do jatinho particular por Musk é grande até mesmo comparado com alguns de seus pares. Por exemplo, Jeff Bezos — outro bilionário que precisa viajar o mundo todo por causa de seus negócios com a Amazon — registrou mais de 100 viagens a menos do que Musk em 2018 segundo uma reportagem do Washington Post. Já Tim Cook — CEO da Apple, empresa que em 2017 teve um faturamento 19 vezes maior do que o da Tesla — gastou naquele ano cerca de US$ 93 mil em despesas de voo pagos pela empresa, enquanto no mesmo ano a Tesla bancou uma despesa de US$ 700 com as viagens de Musk.

Isso acontece porque, apesar de pessoalmente Musk ter um patrimônio de cerca de US$ 20 bilhões, todas as despesas de voo dele — independente se por motivos de trabalho ou particulares — são pagas pela Tesla, incluindo não apenas o combustível mas também o salário do piloto e co-piloto e todas as despesas de manutenção do Gulfstream G650ER, um dos maiores e mais rápidos jatos de luxo do mundo.

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De acordo com Charles Elson, diretor do Centro John L. Weinberg para Gerenciamento Corporativo da Universidade de Delaware, esse excesso de viagem é um sintoma claro de uma cultura executiva problemática, em que acionistas são obrigados a arcar com os luxos da vida de “rockstar” do CEO da empresa.

E os planos de voo do jato mostram não apenas como Musk o utiliza como seu brinquedinho particular — inclusive utilizando-o para fazer viagens extremamente curtas, como ir de uma ponta a outra de Los Angeles só para não precisar enfrentar o trânsito — mas também uma faceta de hipocrisia que ele tenta esconder a todo custo. Por exemplo, em setembro do ano passado, poucos dias depois de acusar o uso de combustíveis fósseis como “a invenção mais burra da raça humana”, o CEO queimou centenas de litros de gasolina (feito, veja só, de combustíveis fósseis) para se locomover de Los Angeles para Oakland com o intuito de assistir a um torneio de videogames. E não foi a única vez que Musk fez algo do tipo: novamente em novembro, logo após tweetar que todos sabem que os combustíveis fósseis devem acabar logo e que não entende por que as pessoas não optam logo por utilizar fontes renováveis, o CEO entrou em seu jatinho para fazer uma viagem ao México por questões particulares.

O estudo desses relatórios de voo também ajuda a compreender um pouco das “bobagens” que Musk declara para a imprensa para tentar construir a imagem de alguém estoico e trabalhador. Por exemplo, em uma entrevista para o New York Times da metade do ano passado, Musk revelou que passou seu aniversário de 47 anos trabalhando sem parar na Tesla, e que abandonou a empresa apenas para ir ao casamento de seu irmão na Espanha e já retornar logo depois da cerimônia. Mas, de acordo com os documentos de voo, não foi isso que aconteceu: após a cerimônia do casamento, Musk voou para a Irlanda do Norte, onde foi visitar o set de gravação da série Game of Thrones com sua família, jantou em um pub de luxo em Belfast e apenas depois retornou para sua “vida normal” na Tesla — isso tudo nem três semanas depois ter anunciado a demissão de cerca de 3.500 empregados da fábrica, alegando “graves problemas financeiros”.

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Essa “dedicação ao trabalho” também é contestada ao se estudar os voos durante o primeiro trimestre do ano passado — um período em que os acionistas estavam pressionando a empresa por lucros e a Tesla se viu obrigada a gastar cerca de U$1 bilhão em dinheiro para apaziguá-los — Musk usou o jato da empresa para se deslocar mais de 80 mil km, incluindo um período de férias no Chile, uma visita ao estúdio da HBO no Texas onde é gravada a série Westworld e uma viagem cultural com os filhos para a Jordânia e Israel.

Em junho do ano passado, quando demitiu 9% de todo o quadro de funcionários da Tesla, Musk havia falado para os acionistas que esse era o tipo de medida que devia ser feita naquele momento de uma única vez, para que nunca mais precisassem mandar tanta gente embora. Mas, na semana passada, um novo e-mail de Musk divulgava que a empresa estava cortando mais 7% de seus funcionários, o que fez os acionistas ficarem ainda mais preocupados com o estado da empresa. E, ainda que a Tesla tenha apresentado pela primeira vez em muito tempo o segundo trimestre seguido em que a empresa teve lucros, continuar bancando a vida de “rockstar” de seu CEO é o tipo de decisão que faz com que seus acionistas se mantenham preocupados, independente dos números.

Fonte: The Washington Post