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Sistema de circulação do Oceano Atlântico pode colapsar até 2050

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Imagem: NASA/Wikimedia Commons
Imagem: NASA/Wikimedia Commons

Um sistema oceânico importante do Atlântico pode estar prestes a entrar em colapso, com a previsão mais próxima sendo 2025, segundo cientistas. Isso é preocupante principalmente em face das temperaturas extremas sentidas ao redor do planeta, como o calor do hemisfério norte — o próprio Oceano Atlântico bateu recordes, ficando acima da média entre 1991-2020.

A Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (CMCA) é um grande sistema de correntes oceânicas (que inclui a famosa Corrente do Golfo), responsável por regular a transferência de calor oceânico dos trópicos para o hemisfério norte. Suas atividades, portanto, impactam o clima de todo o planeta, sendo considerado um dos pontos irreversíveis (ou de inflexão) do clima na Terra, ou seja, uma mudança grande nesse sistema causará problemas impossíveis de se remediar.

O que um colapso na Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico pode causar?

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Caso a CMCA realmente colapse, as estações de monção poderão ser prejudicadas nos trópicos, deixando o hemisfério norte com invernos perigosamente frios. Ecossistemas e segurança alimentar de todo o planeta seriam severamente impactados. A CMCA só tem sido monitorada diretamente desde 2004, o que dificulta entender completamente a trajetória de desaceleração atual — e se ela está acontecendo mesmo.

Os pesquisadores se voltaram, então, à análise de diversos modelos onde a temperatura superficial do oceano combinava com suas condições de circulação, usando isso como um indicador menos direto das mudanças na circulação marítima. Dados que podem gerar esse indicador estão disponíveis desde 1870, melhorando o alcance científico sobre o tema.

Outro indicador indireto usado foi a perda de resiliência do sistema, ou seja, flutuações e variações no oceano. É como o topo de um pião que começa a balançar antes do objeto cair. Segundo os dados coletados, a CMCA poderia parar bastante cedo — estimativas mais alarmantes colocam o evento em 2025, mas projeções mais conservadoras indicam que ele não passaria de 2095.

Essa previsão coloca o colapso da circulação oceânica em uma data mais próxima do que as estimativas levantadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

Modelos antigos tinham vieses que subestimavam a estabilidade da CMCA, tanto pela origem dos dados coletados quanto pela má representação das formações subaquáticas, salinidade e escoamento glacial, segundo os cientistas. Além disso, a velocidade com a qual chegaremos ao evento de desestabilização também pode determinar se o sistema vai colapsar ou voltar a se estabilizar em seguida.

Como as emissões de gases do efeito estufa não diminuíram nos últimos anos — e na verdade aumentaram —, mesmo com todas as campanhas de conscientização e promessas de redução, é provável que cheguemos ao evento de desestabilização da CMCA em uma data mais próxima das estimativas mais preocupantes.

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Pesquisas já mostraram que flutuações extremas do clima (chamadas Eventos Dansgaard-Oeschger) estão fortemente ligadas a instabilidades oceânicas. Outros estudos demonstraram que mudar apenas um parâmetro, como aumentar a quantidade de água doce entrando no Atlântico Norte, pode fazer com que o sistema entre em bifurcação, ou seja, gere mudanças súbitas e drásticas no comportamento de todo o sistema.

Esse nível de sensibilidade é o que falta na análise do IPCC, e sequer está presente em todos os modelos dos cientistas. A ciência ainda não conhece todos os fatores que impactam o sistema da CMCA, então mais pesquisas seguem sendo necessárias — alguns pesquisadores, por exemplos, acreditam que o impacto da água fria no sistema não coincide com registros climáticos passados.

Os responsáveis pela publicação dizem que seu método foca nos sintomas iniciais do colapso oceânico e exclui, por hora, a necessidade de entender a fundo todos os fatores envolvidos, mas admitem que possa haver elementos desconhecidos no sistema. Também não há como distinguir um colapso completo da CMCA de um parcial.

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Fonte: Nature Communications, Nature Climate Change, Geophysical Research Letters, Nature