Derretimento das calotas polares não afetaria tanto as correntes oceânicas
Por Wyllian Torres | Editado por Rafael Rigues | 12 de Abril de 2022 às 18h15
O derretimento das calotas polares pode não impactar as correntes oceânicas como previram simulações climáticas passadas, segundo um novo estudo liderado pela University of Wisconsin–Madison. A pesquisa alega que a maioria das simulações é excessivamente sensível ao derretimento do Ártico e que os efeitos disso não seriam catastróficos.
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Diversas simulações climáticas apontam que a Circulação Meridional Invertida do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês) — um importante sistema de correntes oceânicas — estaria a beira de um colapso. A AMOC funciona como uma grande esteira que transporta a água quente dos trópicos para o Atlântico Norte.
À medida que a temperatura global aumenta e derrete o gelo do Ártico, mais água doce e fria é lançada ao oceano e isso poderia paralisar essa importante corrente. Agora, o novo estudo revisa a compreensão sobre a relação da AMOC com a água doce que vem do polo norte.
Há 14.500 anos, uma AMOC estagnada foi acompanhada de eventos climáticos repentinos, como o aquecimento de Bølling-Allerød, onde a temperatura global aumentou consideravelmente. Os autores do estudo usaram esse evento em modelos climáticos.
O principal autor do estudo, o cientista climático Feng He, explicou que a simulação reproduziu o aquecimento abrupto observado nos registros paleoclimáticos. “Mas nossa precisão não continuou além desse período de mudança abrupta”, acrescentou He.
Refazendo modelos
Eles observaram que, enquanto a temperatura caía após o aquecimento antes de subir e atingir novos patamares nos últimos 10 mil anos, o modelo climático do estudo não conseguiu acompanhar essa tendência. Ou seja, o aquecimento simulado no polo norte não correspondeu aos registros em núcleos de gelo.
A simulação usou o calor registrado nos últimos 10 mil anos sem considerar o derretimento do Ártico como o principal gatilho do colapso da AMOC. Até então, os cientistas climáticos acreditavam que o fluxo de água doce afeta a densidade do Atlântico Norte e paralisa a corrente oceânica.
Apesar de os registros apontarem a abundância de água doce despejada no oceano, a AMOC quase não mudou e a equipe tirou esse fluxo da dinâmica — e a simulação concordou melhor com os registros. “A AMOC parece ser menos sensível ao aumento de água doce do que se pensava há muito tempo”, disse He.
A equipe não descarta o impacto da água doce e gelada do Ártico na corrente oceânica, mas ressalta como essa descoberta pode ajudar a aprimorar os modelos climáticos que buscam avaliar como o aquecimento global afetará a circulação dos oceanos a longo prazo.
A pesquisa foi publicada na revista Nature Climate Change.
Fonte: Nature Climate Change, Via University of Wisconsin–Madison