Reduzir incidência solar no planeta não é uma boa ideia
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Para impedir os efeitos das mudanças climáticas e reverter o aumento das temperaturas médias do planeta, há quem aposte na geoengenharia solar. É um conjunto de tecnologias emergentes que podem bloquear ou reduzir a incidência de raios solares. Apesar da teoria parecer boa, cientistas alertam que a implementação dessas ideias têm mais riscos que benefícios.
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Recentemente, a Suíça propôs o início de estudos globais neste campo de conhecimento, buscando formas de resfriar o planeta. No entanto, mais uma vez, os planos de estudar a geoengenharia foram descartados por falta de consenso na Assembleia da ONU para o Meio Ambiente, que ocorreu no final de fevereiro, em Nairóbi. Outra tentativa ocorreu em 2019.
Geoengenharia solar não funciona?
Para os cientistas, o consenso é de que, se os planos na área da geoengenharia forem aplicados, o risco de desestabilizar ainda mais o sistema climático é muito grande. Além disso, os efeitos a longo prazo na atmosfera, hidrosfera, criosfera, litosfera e biosfera são totalmente desconhecidos. Nem foram desenhados modos para reverter ou “desligar” esses projetos.
Diante desse cenário de incertezas, existem pelo menos 4 riscos potenciais e mais óbvios para essas tecnologias:
- Efeitos imprevisíveis sobre o clima e os padrões meteorológicos. Por exemplo, uma região marcada por chuvas pode enfrentar secas prolongadas;
- Com as alterações do clima, a fauna e a flora de uma região podem sofrer perdas, implicando na redução da biodiversidade planetária;
- Insegurança alimentar provocada pela mudança na frequência das chuvas, o que pode levar a perdas na agricultura;
- Possível violação dos direitos humanos das gerações futuras, caso as técnicas de geoengenharia provoquem um desastre ambiental.
Testes com a geoengenharia solar
Na breve história da geoengenharia solar, um dos exemplos mais emblemáticos de como essas pesquisas são testadas é do México. Por lá, uma startup norte-americana conduziu um experimento, sem a autorização das autoridades locais, em 2022. Isso fez com que o país proibisse estudos do tipo.
Basicamente, a intenção da empresa era resfriar a atmosfera com um desvio da luz solar, liberando partículas refletoras de enxofre na estratosfera. O impacto da redução das temperaturas seria vendido como “créditos de resfriamento” para companhias, como uma compensação pela liberação de gases do efeito estufa.
Em artigo para a plataforma The Conversation, um trio de cientistas, James Kerry, James Cook e Aarti Gupta, explica que a ideia só seria eficiente em reduzir as temperaturas do planeta, se milhões de toneladas métricas fossem liberadas na estratosfera.
No entanto, “tal empreendimento alteraria os padrões globais de vento e precipitação, provocando mais secas e ciclones, exacerbando as chuvas ácidas e retardando a regeneração da Camada de Ozônio”, afirmam. Se algo desse errado no meio do processo, os danos ao planeta nem podem ser estimados.
Mais estratégias para reduzir as temperaturas
Outra pesquisa recente propôs secar parte da estratosfera como forma de reduzir as temperaturas no planeta. Para isso, seria preciso fazer com que as nuvens virassem chuva, através de injeções direcionadas de pequenas partículas de núcleos de gelo. Isso resultaria na diminuição dos gases do efeito estufa e no resfriamento. No entanto, a estratégia não é aplicável, segundo informação dos próprios cientistas responsáveis.
Desvio do problema: o dióxido de carbono
De certa forma, a geoengenharia pode ser encarada mais como uma forma de desviar a atenção para a liberação de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono, do que uma proposta para brecar o aquecimento global. É isso que precisa ser controlado da forma mais rápida possível.
"A humanidade não deve perseguir distrações perigosas que não contribuem em nada para combater as causas profundas das alterações climáticas”, reforça o trio de cientistas. Por outro lado, este caminho levará a riscos incalculáveis e pode atrasar a descoberta de soluções reais.
Fonte: The Conversation