Por que um terremoto tão forte na Rússia produziu tsunami "tão fraco" em seguida
Por Nathan Vieira • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

Na última terça-feira (29), um poderoso terremoto de magnitude 8,8 atingiu a Rússia, gerando ondas de tsunami e alertas em países ao redor do Oceano Pacífico, como Japão, Estados Unidos, México, Chile e Equador. Apesar da magnitude impressionante (a maior registrada desde o terremoto de Fukushima, em 2011), o tsunami resultante foi, em muitos locais, surpreendentemente fraco. Mas afinal, por que um tremor tão intenso não causou ondas devastadoras em larga escala?
A resposta envolve uma combinação de fatores geológicos, localização do epicentro e avanços em sistemas de alerta e prevenção. Especialistas apontam que o tipo de falha geológica, a profundidade e o local onde o terremoto ocorreu foram determinantes para que os danos fossem menores do que o esperado.
A magnitude do terremoto na Rússia e a energia liberada
O terremoto teve uma magnitude estimada entre 8,7 e 8,8, uma das maiores já registradas por instrumentos. No entanto, vale lembrar que a escala de magnitude é logarítmica: um terremoto de magnitude 9 libera cerca de três vezes mais energia que um de magnitude 8,8 e dez vezes mais que um de 8,7. Ou seja, embora o evento tenha sido gigantesco, ele ainda ficou abaixo da intensidade de sismos que causaram tsunamis catastróficos, como os de Sumatra (2004) e Japão (2011).
O terremoto ocorreu em uma zona de subducção, onde uma placa tectônica desliza sob outra. Esse tipo de falha é propensa a gerar tsunamis, pois pode causar o levantamento abrupto do fundo do mar.
No entanto, neste caso específico, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o epicentro estava localizado a cerca de 110 a 120 km da costa e a uma profundidade de aproximadamente 20 km, em uma área remota e pouco povoada.
A maneira como a energia foi distribuída ao longo da falha influenciou a formação das ondas. Segundo o Serviço Geofísico da Filial de Kamchatka, a intensidade do tremor não foi tão alta localmente quanto se esperava, devido a características específicas do ponto onde o abalo ocorreu. A penas parte da energia sísmica foi transferida para a água, o que limitou a formação de grandes tsunamis.
Por que a onda foi "fraca" em tantos lugares?
Embora o tsunami tenha provocado ondas de até cinco metros em regiões da Rússia, como Severo-Kurilsk, em outros lugares as ondas foram consideravelmente menores. No Havaí, por exemplo, o mar subiu cerca de 1,5 metro, enquanto na Califórnia, as ondas chegaram a 1 metro. No Japão, a maior onda registrada foi de 1,3 metro. Em países como México, Equador e Chile, embora alertas tenham sido emitidos, os efeitos foram mínimos.
Isso ocorreu, em parte, porque a maior parte da energia gerada pelo terremoto não se propagou diretamente em direção às costas das Américas ou da Ásia, mas foi dissipada ao longo do caminho. Segundo Vasily Titov, do NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA), o evento foi “uma mega-onda localizada”, com impacto concentrado na costa russa.
Vale acrescentar que a topografia do fundo do mar e o ângulo de propagação da energia também influenciam o comportamento do tsunami. Como as ondas oceânicas viajam mais lentamente do que as sísmicas, deu tempo para que alertas fossem emitidos e medidas de evacuação fossem tomadas com antecedência.
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Fonte: The New York Times, Agência Gov, Climatempo