Planta pré-histórica pode sucumbir ao aquecimento global
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 17 de Agosto de 2023 às 12h42
![S. Hermann & F. Richter/Pixabay](https://t.ctcdn.com.br/iNQaxZi-kXIfHUaivPk5AVGYRYE=/640x360/smart/i9748.jpeg)
O aquecimento global está alterando a biodiversidade do planeta e, ao que tudo indica, coloca em risco uma das plantas mais antigas conhecidas, a pré-histórica Takakia spp., com estimados 390 milhões de anos. É um tipo de musgo minúsculo, de crescimento lento, que sobrevive nos locais mais remotos do planeta, como os penhascos congelantes do Tibete.
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Nos últimos 10 anos, uma equipe chinesa de pesquisadores monitora a planta pré-histórica, coleta amostras de DNA e busca entender como as mudanças climáticas estão afetando a sua sobrevivência. Para chegar ao habitat do “fóssil vivo”, é preciso escalar penhascos com 4 mil metros de altura.
Além do Tibete, populações da planta — que sobreviveu ao período de extinção dos dinossauros — ainda podem ser encontradas em alguns pontos bem gelados do Japão e dos Estados Unidos. Neste gênero, são conhecidas apenas duas espécies: T. ceratophylla e T. lepidozioides.
Redução na população da planta pré-histórica
No estudo publicado na revista Cell, os autores afirmam que a população de musgos Takakia lepidozioides no Tibete diminui cerca de 1,6% a cada ano, e eles têm experimentado mais dificuldade para encontrá-la.
“Nossa previsão mostra que as regiões com condições adequadas para o desenvolvimento da [planta] Takakia encolherão para apenas cerca de 1 mil a 1,5 mil quilômetros quadrados em todo o mundo no final do século 21”, afirma Ruoyang Hu, biólogo da Capital Normal University, na China, em comunicado. Neste futuro, o risco de extinção é alto.
Velocidade de adaptação não será suficiente
Para os pesquisadores, a planta é uma das espécies de evolução mais rápida já estudadas. Ao longo dos milhões de anos, ela aprendeu a corrigir danos do próprio DNA e pode suportar determinados períodos de exposição aos raios ultravioleta (UV), com segurança.
Por exemplo, o musgo é mais antigo que a cadeia montanhosa do Himalaia e do planalto tibetano, que surgiram há cerca de 100 milhões de anos. Isso significa que, mesmo com a formação das cadeias de montanhas e da mudança brusca no habitat, ela soube se adaptar. No entanto, a sua velocidade de evolução parece pequena para o impacto atual das mudanças climáticas.
Impacto do aquecimento global no musgo
Em seu habitat natural, o musgo do gênero Takakia é coberto por neve pesada durante oito meses do ano, enquanto é exposto à radiação UV por apenas quatro meses. No entanto, por causa do aumento das temperaturas e do derretimento mais cedo do gelo, esse período de exposição está aumentando drasticamente.
Para os pesquisadores, este nível é tão alto que consegue matar a planta, mesmo com os seus mecanismos internos de proteção. Inclusive, é isso que tem provocado a redução dos espécimes, afetando até locais sem a intervenção direta do homem.
Buscando formas de evitar a extinção, os cientistas estão criando mudas da planta dentro do laboratório e planejam plantá-las em pontos estratégicos do Tibete. A ideia é preservar em seu habitat, na medida do possível, uma das plantas que há mais tempo sobrevive no planeta Terra.
Fonte: Cell e EurekAlert