Descoberta origem das rochas que formaram os primeiros continentes
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Como os continentes se formaram, afinal? Como o evento ocorreu há bilhões de anos, é difícil para os geólogos responderem essa pergunta, mas um novo aspecto revelado por cientistas da Universidade da Colúmbia Britânica ajudou a desvendar mais uma parte do mistério.
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Anteriormente, pensava-se que os primeiros continentes teriam surgido junto às placas tectônicas, mas o estudo, publicado na revista científica Nature Communications, questionou isso. Segundo a equipe, forças geológicas ocorridas nos platôs oceânicos formados nas primeiras centenas de milhões de anos do planeta deram origem aos continentes muito antes das placas tectônicas surgirem.
Para isso, foram estudados os “tijolos” da crosta terrestre primitiva, ou seja, a associação de três tipos de rochas granitoides — tonalito, trondhjemito e granodiorito (TTG). Isso teria acontecido no Éon Arqueano, entre 4 bilhões e 2,5 bilhões de anos atrás, mas era difícil saber como os magmas da época juntaram as rochas e as transformaram na crosta, já que muita coisa ocorreu entre a primeira vez que derreteram e quando finalmente cristalizaram.
Para descobrir mais, os cientistas buscaram elementos que seguem inalterados desde então e preservam sinais de magma original da crosta, antes da formação dos primeiros continentes.
A formação dos continentes
Segundo as mudanças químicas preservadas da TTG, o estado e origem da crosta seria uma espécie de gabro. De composição basáltica, o gabro é vendido atualmente como granito negro — curiosamente, muitas pessoas usam o tipo de rocha que formou os continentes modernos como bancada de cozinha.
A crosta TTG do Arqueano ainda está presente nos continentes atuais, como nas cordilheiras Appalaches da América do Norte. No Canadá, a maioria das montanhas é feita de fragmentos de crosta do Arqueano dominados pelas TTG e por granito levemente mais jovem.
A ocorrência de todas essas rochas pode ser explicada pelo modelo construído pelos pesquisadores — simples, ele explica que as rochas resultaram do afundamento lento, espessamento e derretimento da crosta precursora (ou seja, de antes da formação dos continentes), que provavelmente lembrava os platôs oceânicos modernos.
Nesse sentido, a crosta continental estava “fadada” a se desenvolver da forma que se desenvolveu, já que seguiu sendo enterrada mais e mais fundo, não dando escolha para as rochas da base a não ser derreter. Isso formou, invariavelmente, a TTG, que se provou ser a receita vencedora para a sobrevivência e crescimento dos continentes.
O estudo desmente a teoria de que essa união de rochas do Arqueano teria surgido nas primeiras zonas de subducção e marcado o nascimento das placas tectônicas, desafiando a crença da geologia até o momento.
Essa era a “questão do ovo e da galinha” dessa ciência, que discutia qual característica geológica teria se formado primeiro. Segundo o novo estudo, ambos os aspectos podem não estar diretamente relacionados, o que foi descoberto ao reconhecer a origem das rochas da crosta.
O achado também dispensa mecanismos externos na explicação dessa formação, como o impacto de meteoritos, e explica muito bem o crescimento dos primeiros continentes reais. Os dados incluíram todas as amostras de TTG já analisadas pela ciência, fragmentos cratônicos expostos e estudados pelos últimos 30 anos.
Com isso, foi possível eliminar da equação anomalias locais e problemas de análise, focando nas tendências de composição rochosa de todo o planeta. Os dados estão, agora, disponíveis gratuitamente no repositório de Geoquímica de Rochas dos Oceanos e Continentes da Universidade Georg August de Göttingen.
Fonte: Nature Communications