Bactérias devoradoras de plástico são esperança contra lixo e poluição
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

As montanhas de lixo plástico não reciclado são uma realidade difícil de enfrentar, ainda mais quando esses materiais derivados do petróleo terminam nos rios e nos oceanos, comprometendo a vida marinha. Diferentes soluções já foram propostas para resolver o problema, mas os cientistas da Universidade Northwestern (EUA) parecem ter uma boa solução: bactérias que evoluíram, de forma natural, como devoradoras de plástico.
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Sim, existem microrganismos que podem extrair coisas úteis do lixo e da poluição. E a ciência já conhece alguns tipos de bactérias comedoras de plástico, como a Ideonella sakaiensis, descoberta por cientistas japoneses. Também foram rastreados alguns fungos e bactérias do Ártico com habilidade de digerir plástico. Há ainda algumas larvas que comem isopor. Então, o que há de tão diferente nessa nova pesquisa norte-americana publicada na revista Environmental Science & Technology?
Aparentemente, as bactérias do gênero Comamonadacae, como a C. testosteroni, já estão "reciclando" o plástico na "natureza", mesmo sem nenhum programa específico ou projeto científico. Em diferentes pontos, esses microrganismos podem ser vistos e crescem em torno de plásticos que boiam em rios dentro de cidades e nos sistemas de águas residuais (esgotos).
Bactérias devoradoras de plástico
Toda a pesquisa por trás deste grupo de bactérias comedoras de plástico começou com a observação de que eram encontradas próximas a "fontes" desse material “saboroso”. Em especial, a ligação dos microrganismos é maior com o plástico PET (politereftalato de etileno), muito comum em garrafinhas de água ou de refrigerante. Assim, algumas colônias foram levadas para a análise em laboratório.
Nos ambientes controlados com muito PET boiando em um tanque de água, os pesquisadores notaram como a superfície do plástico mudava enquanto a colônia de bactérias se desenvolvia. Em seguida, foram analisadas as características dessa água, onde encontraram evidências da decomposição promovidas pelas bactérias.
“Descobrimos que essa bactéria, encontrada em águas residuais, tem uma capacidade inata de degradar o plástico até monômeros, pequenos blocos de construção que se juntam para formar polímeros. Essas pequenas unidades são uma fonte biodisponível de carbono que as bactérias podem usar para o crescimento”, explica Ludmilla Aristilde, a cientista que liderou o estudo, em nota.
De forma bem simples, as bactérias do gênero Comamonadacae podem quebrar o plástico até ele se tornar muito pequeno, quando conseguem "extrair" o carbono presente em suas moléculas. Esta é uma forma de "alimentação", que possivelmente surgiu a partir da abundância desse material criado pela atividade humana.
“É incrível que essa bactéria possa realizar todo esse processo, e identificamos uma enzima-chave responsável por quebrar os plásticos”, acrescenta Aristilde sobre a descoberta.
Soluções reais
Para aplicar a descoberta no mundo real, existem diferentes caminhos. Entre as possibilidades, está a criação de "fazendas" dessas bactérias para a reciclagem em massa de plástico PET.
Outra possibilidade é produzir a enzima usada pelos microrganismos em laboratório e usá-la em produtos para a degradação desse material durante o tratamento de esgoto. Entretanto, ainda é necessário acompanhar os próximos passos da equipe, com potencial de ajudar no controle do lixo e da poluição.
Fonte: Universidade Northwestern