Atirar poeira lunar no espaço poderia frear mudanças climáticas
Por Rodilei Morais • Editado por Patricia Gnipper | •

O agravamento sem freios da crise climática faz com surjam todo tipo de ideias de medidas a serem tomadas em casos extremos. A mais nova proposta, sugerida por pesquisadores da Universidade de Utah e do Observatório Astrofísico Smithsonian, envolve atirar poeira da Lua no espaço para que ela bloqueie parte da radiação solar.
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Enquanto medidas mais simples ainda podem ser tomadas para reverter o cenário atual das mudanças climáticas, alguns cientistas já pensam em ações emergenciais para o futuro. Com a meta de manter o aquecimento global em até 1,5 ºC desde os níveis pré-industriais próxima a falhar, alternativas complexas para lidar com a questão são tema de frequentes pesquisas.
A nova ideia consiste em produzir um fluxo de poeira proveniente da lua capaz de impedir que uma porção do calor do sol chegue à Terra. A proposta tem fundamentação científica e uma execução plausível — Scott Kenyon, astrofísico de Harvard, e seus parceiros de estudo Benjamin Bromley e Sameer Khan, publicaram um artigo a respeito no periódico PLOS Climate.
A fundamentação teórica
Na astrofísica, o conceito de Ponto de Lagrange define locais de equilíbrio entre a atração gravitacional exercida por dois corpos. Existem cinco desses pontos para cada par de corpos e eles possuem diferentes relevâncias para cálculos de órbita, servindo inclusive para o posicionamento de satélites.
No ponto L1 entre a Terra e o Sol — a 1,5 milhão de quilômetros do planeta — um corpo em órbita acompanha a Terra, mas não gira em torno dela. Satélites — ou, neste caso, poeira lunar — localizados neste ponto podem espalhar ou servir de escudo contra parte da radiação solar.
Qualquer material particulado poderia exercer a mesma função — cientistas já pensaram em explodir asteroides ou lançar minúsculas partículas de vidro a partir de um objeto no ponto L1. A Lua, porém, já está mais próxima a este ponto do que a Terra e pode ser uma fonte natural de partículas que cumpririam a função.
Pondo a ideia em prática
Os cientistas descrevem o processo como uma “ejeção balística” de poeira da Lua a partir de uma estação no polo norte do satélite natural. A base teria a função de extrair o material do solo lunar e lançá-lo no espaço de forma a atingir o ponto desejado. Estima-se que 10 milhões de toneladas do material seriam necessárias para atingir o efeito climático desejado. Pode parecer muito, mas é o equivalente a uma “lua” de 40 metros de diâmetro.
O efeito da poeira não geraria nenhum eclipse: na verdade, cerca de apenas 2% da radiação solar seria bloqueada. Isso compraria tempo para que outras ações fossem tomadas na Terra para reverter as mudanças climáticas. O lançamento das partículas também não seria constante: seriam necessários 6 dias dessa atividade por ano.
Pode parecer um plano mirabolante, mas ele possui vantagens em relação a outros métodos idealizados para casos extremos. A nuvem de poeira lunar segue um raciocínio parecido com técnicas de geoengenharia solar — que envolvem, por exemplo, o lançamento de partículas de enxofre na atmosfera para reter a radiação do sol.
Usar o enxofre desta forma, porém, pode ter consequências negativas, como afetar o regime de chuvas no planeta e agravar o fenômeno de chuva ácida. Em comparação, as partículas lunares seriam um método não-invasivo.
Fonte: PLOS Climate Via: Science Alert