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Autores revelam ao CT os desafios do livro "Como Elon Musk destruiu o Twitter"

Por  • Editado por Claudio Yuge | 

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Divulgação/Editora Todavia
Divulgação/Editora Todavia

O livro Limite de caracteres: Como Elon Musk destruiu o Twitter, dos jornalistas do jornal New York Times Kate Conger e Ryan Mac, foi lançado nesta terça-feira (8) no Brasil em português pela Editora Todavia. A obra traz um registro histórico do Twitter, os bastidores da compra por Elon Musk e o impacto da administração do bilionário na rede que tinha promessa de funcionar como uma praça pública digital para ideias livres.

O Canaltech conversou com Kate Conger e Ryan Mac, criadores do livro; e com o editor da versão em português, Flávio Moura. Eles comentaram o bloqueio da plataforma no Brasil, os desafios da produção e a escolha pelo verbo “destruir” para ilustrar o título da obra. 

Início do trabalho

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Os autores comentam que o livro começou a ser produzido em 2022, pouco tempo após a aquisição do (então) Twitter por Elon Musk no valor de US$ 44 bilhões. O processo da compra por si só já valeria uma história individual: não era comum ver uma empresa gigante da comunicação ser vendida a um indivíduo — mesmo com a ajuda de investidores, Musk foi o comprador principal — e o bilionário ameaçou desistir do negócio antes de fechá-lo. 

A jornalista Kate Conger explica que o contexto era ideal para escrever um livro, principalmente pela forma em que a transação foi conduzida e o valor histórico que isso poderia ter. “Elon Musk estava inconsistente sobre avançar ou não com a compra, então não tínhamos certeza do que ia acontecer quando o negócio fechasse”, explicou.

Para Ryan Mac, o tamanho da história já não poderia ser contado por um jornal ou uma revista, então ambos seguiram com a ideia de uma obra maior. Um dos principais problemas no processo foi decidir a hora de encerrar o recorte que tinha inteção de contar no livro, pois novos episódios da era Musk não paravam de surgir.

“Um dos desafios foi descobrir o que incluir, porque tem tanta coisa que Elon [Musk] fez. Tivemos que deixar algumas histórias de fora porque não se encaixavam ou eram uma divergência. E um dos maiores problemas foi saber como encerrar o livro”, detalhou Ryan Mac. “Todo dia ele gera algo novo, então em algum ponto você tem que cortar e confiar que o leitor saiba o que acontece depois disso”, completou.

O livro funciona quase como uma biografia do X e traz os primeiros passos desde a fundação da rede, desde as saídas do ex-CEO Jack Dorsey até as turbulências ocasionadas pela moderação (ou falta dela) na plataforma até a compra por Musk. A obra foi finalizada em março deste ano, quando o bilionário se reuniu com Donald Trump e declarou apoio ao candidato nas eleições presidenciais dos EUA. “É um bom momento de prenúncio para o resto da história que continua até hoje”, disse Mac.

Destruição do Twitter

O título do livro já é bem impactante e reforça que Elon Musk “destruiu” o Twitter, o que pode incomodar alguns fãs do bilionário. Para o autor Ryan Mac, a destruição vai além da mudança do nome da rede, que agora se chama X, mas também é um argumento defensável pelo ponto de vista financeiro e pela situação operacional da rede.

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“É para ser provocativo, é para gerar debates e perguntas, mas também é algo defensável. É engraçado que nós compartilhamos o livro, principalmente no X, e recebemos críticas como ‘Como ele destruiu se ainda estamos na rede?’ e coisa do tipo”, comentou.

“Primeiramente, se chama X e não Twitter, então ele mudou o nome, a marca e como as pessoas associam a plataforma. Num ponto de vista financeiro, é ainda mais defensável: você tem uma pessoa que comprou uma empresa por US$ 44 bilhões, começou a administrá-la do seu próprio jeito e hoje ela vale US$ 19 bilhões. É uma destruição imensa de valor e capital." 

Mac também mencionou algumas ações tomadas por Musk logo após a compra da rede, como a demissão de grande parte do quadro de funcionários e mudanças administrativas — o que, inclusive, pode ter levado ao bloqueio da rede. “Eu não acho que o Twitter era a empresa perfeita, mas hoje você tem uma situação em que ele demitiu tanta gente, incluindo profissionais de políticas públicas ou advogados que poderiam aconselhá-lo para lidar melhor com a situação. Ele destruiu um mercado no Brasil, uma das principais audiências fora dos EUA”, detalhou.  

Editor da versão brasileira, Flávio Moura também concorda com a decisão do título: “concorde ou não com ele [o título], o fato é que o Twitter não existe mais, então ele foi destruído”.

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Aquisição sem precedentes

O livro traz alguns dos principais acontecimentos no Twitter após a aquisição de Elon, incluindo a demissão em massa de funcionários e a mudança para X. Os capítulos reforçam a ideia de que o bilionário comprou uma rede social na qual ele gostava de usar e quis adaptar a plataforma para os próprios interesses.

Um dos trechos traz um episódio que ocorreu em 2023, durante o Super Bowl (final do futebol americano) daquele ano: Elon Musk e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, publicaram posts parecidos, mas a publicação de Biden teve alcance maior. Musk, então, perguntou aos desenvolvedores por que o tweet de Biden tinha sido melhor. Saiu mais cedo do jogo e se encontrou com funcionários para que criassem um código que privilegiasse o alcance dos posts do dono da rede.

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Ryan Mac atribuiu muitas mudanças a um estilo “arrogante” de Musk para liderar o projeto.

“Existe muita autoconfiança e arrogância de que ele sabe o jeito certo de liderar as coisas e de que a forma anterior de gerenciar o Twitter era inepta, corrupta, fraudulenta, errada, então ele poderia fazer melhor. E esse tipo de comportamento levou às demissões e desconsiderou a expertise que muitas dessas pessoas tinham. Podemos argumentar o quanto quisermos sobre como eram os problemas do Twitter antes, mas ainda havia muitas pessoas lá e com experiência no domínio”, explicou.

Para os autores, que cobrem o segmento de tecnologia, a compra do Twitter pelo dono da Tesla não tem precedentes no mercado. “Acho que um dos motivos que queríamos contar esta história era esse, porque é tão único e histórico em comparação com outras aquisições de veículos grandes de redes sociais”, explicou Kate Conger. 

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Ela compara a situação com as aquisições do Instagram e do WhatsApp pelo Facebook, mas reforça que as plataformas foram compradas ainda enquanto startups e não tiveram mudanças drásticas no funcionamento. “É como se alguém comprasse o restaurante do seu bairro, mudasse o cardápio, demitisse todos os funcionários e gritasse que você não poderia pedir o que você quer pedir”, brincou. 

Ryan Mac ainda destaca o fato de que o veículo foi comprado por um indivíduo, no lugar de uma grande companhia. O exemplo mais próximo seria o da compra do jornal Washington Post por Jeff Bezos, ex-CEO da Amazon, mas as cifras foram bem menores (US$ 250 milhões contra US$ 44 bilhões).

“Bilionários normalmente compram iates, times de futebol, eles tradicionalmente não compram empresas. Sim, ele teve investidores externos, mas foi o seu desejo de comprar uma empresa inteira e tentar comandá-la”, explicou Ryan Mac, um dos autores de Limite de caracteres: Como Elon Musk destruiu o Twitter

Efeitos do bloqueio no Brasil

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O livro já havia sido finalizado quando a rede foi bloqueada no Brasil, em mais um episódio histórico e inédito envolvendo a empresa. A história, que poderia ganhar um capítulo a mais na obra, foi comentada pelos autores como uma consequência dos atos de Musk.

Para Kate Conger, o bilionário não é consistente ao defender a liberdade de expressão na plataforma, pois ele já atendeu a ordens judiciais em outros países. “Elon sempre disse que queria comprar a plataforma para permitir mais tipos de conteúdo, o que inclui posts de assédio, material abusivo e negacionismo, e teve sucesso com isso. Ao mesmo tempo, ele já concordou com ordens governamentais para remover conteúdo quando concorda com isso."

"Então, ele é bem inconstante ao promover seus valores de liberdade de expressão enquanto sua tomada de decisão varia. O Brasil é um grande exemplo disso: os brasileiros não sabem se a rede ficará no ar ou não por causa do comportamento errático do seu dono", explicou.

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Ryan Mac acredita que o atrito com as autoridades brasileiras é “um conflito que ele queria” e um reflexo das alianças que fez ao longo dos anos, incluindo parcerias com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que também já atacou o STF.

O autor também se surpreendeu com o nível de atenção dado por Musk ao Brasil, já que o bilionário publicou diversas vezes sobre o tema nos dias que antecederam a suspensão. “Você sempre pode adivinhar qual é o projeto dele para a semana pelo tanto que ele posta sobre isso. Porém, quando a situação no Brasil aconteceu, ele ficou fixado nisso, postava dezenas de vezes ao dia e parecia que era a única coisa em que estava focado. Era meio desafiador pensar nos motivos, até você perceber que é ali que suas alianças estão”, revelou ao Canaltech.

Futuro da rede

O X ainda é o centro de muitas discussões na internet, principalmente pela alta velocidade para disseminar notícias e tendências, mas o futuro sob o comando de Musk ainda é imprevisível. A autora Kate Conger enxerga alguns competidores em ascensão, como o Bluesky, mas reforçou que o antigo Twitter ainda tem protagonismo.

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“Nenhuma dessas plataformas ainda ganhou o poder e a velocidade que o Twitter possui, mas isso pode mudar com o tempo a partir do momento em que as pessoas veem o que está acontecendo com o X”, explicou. Conger ainda vê um futuro no qual as experiências ficam mais nichadas e deixam de concentrar as pessoas numa única plataforma, como um “serviço central de redes sociais”. 

Ela ainda destacou que o objetivo do livro é levantar reflexões sobre o futuro das conversas online. “Não queremos que seja uma leitura na praia, queremos que seja um livro que gere discussões e provocações nos leitores”, completou.

VÍDEO: DIFERENCIAIS DO BLUESKY | Dicas

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Versão brasileira

O livro foi lançado originalmente nos Estados Unidos no dia 17 de setembro e a versão brasileira chegou às livrarias poucas semanas depois, em 7 de outubro. O editor responsável pela tradução Flávio Moura revelou que a intenção era lançar a edição nacional num período próximo à chegada da versão original.

Para isso, a equipe contou com quatro tradutores — Bruno Mattos, Christian Schwartz, Marcela Lanius e Mariana Delfini — que alternavam entre diferentes trechos do livro e começaram o trabalho antes mesmo da conclusão da versão em inglês. “Foi um trabalho atípico desde o início. Quando você tem esse tipo de situação, você precisa de uma supervisão muito maior, de uma pessoa para uniformizar todas as partes”, explicou Moura.

O editor ainda destacou o conteúdo do livro, principalmente com relação aos comportamentos autoritários de Elon Musk e os detalhes das ações tomadas na empresa. “O que o livro traz é muito revelador, não só com o que aconteceu dentro de uma grande empresa nos últimos anos, mas de como pensa e age o homem mais rico do mundo”, explicou.

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Por fim, a autora Kate Conger também revelou estar animada com a tradução ao português. “Existem algumas seções sobre a corrida presidencial [de 2022] e estamos animados para que as pessoas leiam. Estou muito feliz que o livro esteja disponível em português, ainda com todas as notícias do X no Brasil”, completou.

Limite de caracteres: Como Elon Musk destruiu o Twitter é publicado pela Editora Todavia e já está disponível em livrarias e e-commerces brasileiros.

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