Apple teria fornecido ferramentas exclusivas para apps famosos da App Store
Por Igor Almenara | Editado por Douglas Ciriaco | 10 de Maio de 2021 às 14h35
A Apple teria fornecido APIs secretas para apps famosos na App Store. O Zoom e a Uber teriam utilizado ferramentas não divulgadas pela fabricante para aperfeiçoar seus aplicativos, em mais um caso de suposta arbitrariedade dentro da loja de apps do iOS.
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A revelação menciona o uso de uma API do iPadOS no app Zoom para visualização em Split View, o modo de tela dividida do sistema da Maçã. Já no Uber, o recurso acelerou o desenvolvimento do suporte ao Apple Watch em 2015, segundo o desenvolvedor Jeremy Provost e uma reportagem publicada hoje (10) pelo Gizmodo.
Para executar as APIs exclusivas, ambas as desenvolvedoras recorreram aos chamados entitlements (“direitos”, em tradução livre), privilégios que garantem livre execução de funções ou de capacidades privadas dos dispositivos.
"Um entitlement é um direito ou privilégio que concede recursos para a execução de capacidades particulares. Por exemplo, um aplicativo precisa de um HomeKit Entitlement — ao lado da permissão do usuário — para acessar a rede automatizada da casa de um usuário", explica a Apple
Dentro desse segmento, enquadram-se APIs como a Contacts e Authentication, que abrem caminho para a lista de contatos e login com iCloud. A utilização de APIs privadas é algo totalmente previsto na documentação, igualmente apresentado de forma clara e transparente para todos os desenvolvedores.
Contudo, no Zoom e no Uber, o cenário é excepcional: as APIs consultadas não são mencionadas como entitlements em nenhum documento publicado pela Apple. Portanto, desenvolvedores menores não teriam nem mesmo ciência de que esses recursos existem, tampouco se haveria formas de solicitá-los.
A aparente exclusividade cedida pela Apple levantou uma polêmica: a fabricante estaria concedendo privilégios para alguns desenvolvedores — especialmente, grandes companhias — por alguma razão não esclarecida. Com as funções cedidas pela fabricante, o Zoom teria vantagem sobre qualquer outro app de conferências graças à solução mais íntima do iPadOS, enquanto a Uber a aproveitou como um atalho para o desenvolvimento do app para o smartwatch da Maçã.
Lenha na fogueira
Embora não tenha sido mencionada na briga judicial em andamento com a Epic Games, a suposta exclusividade de Zoom e Uber alimenta acusações contra a Maçã. Comunicados e troca de e-mails levados para a disputa revelam que a Apple ofereceu APIs secretas também para outros apps, como a Hulu.
Ainda mais grave do que isso seriam as negociações sigilosas com a Netflix. Na tentativa de conter a migração dos pagamentos da plataforma de streaming para a solução via web, a Apple teria oferecido campanhas comerciais direcionadas, acesso amplo a dados internos e reinvestimento em propaganda para que "trabalhassem juntas" — e assim continuasse recebendo os 30% de comissão por cada assinatura.
A Uber não utiliza mais a API no suporte para o Apple Watch, mas isso não tira o importante papel da biblioteca nos períodos iniciais. Não está claro como a plataforma de mobilidade e o Zoom conheceram as ferramentas, mas isso reforça a suspeita de que a Maçã negocia privilégios estratégicos com companhias que mantêm relacionamento mais próximo com a dona do iPhone.
Fonte: Apple, Think Tap Work, Gizmodo