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O que aconteceria se a internet do mundo acabasse?

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 10 de Outubro de 2021 às 12h30

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O que aconteceria se a internet do mundo acabasse?
O que aconteceria se a internet do mundo acabasse?

O "apagão" nos serviços do Facebook deixou boa parte do planeta desesperada, sem saber o que ocorria e com prejuízos imensos para empresas, comerciantes e indústrias. Foi uma clara demonstração de como o mundo hoje depende dos serviços tecnológicos para existir, com impactos econômicos e sociais na vida de todos.

Mas já parou para pensar o que aconteceria se a internet mundial simplesmente acabasse de uma hora para outra? Quais seriam as consequências disso para a humanidade? Os governos e organizações ainda resistiriam ou tudo ruiria junto com a web? O Canaltech fez o exercício de se imaginar em um mundo distópico no qual a rede de computadores interligados simplesmente colapsa.

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Em 1995, menos de 1% da população mundial estava online, afinal o acesso era lento, complicado e caro para a maioria das pessoas. Atualmente, a estimativa é que mais de cinco bilhões de pessoas estejam na rede, cerca de 64% de todos os seres humanos do planeta. O primeiro bilhão foi alcançado em 2005, o segundo em 2010, o terceiro em 2014, o quarto em 2017 e o quinto, em 2020, o que mostra como o ritmo de crescimento está cada vez mais acelerado.

No último ano, o acesso à internet no Brasil chegou a 83% da população, com aumento da presença das classes C, D e E, segundo dados do Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação). Desse montante, cerca de 99% faz o acesso pelos celulares, embora também possam usar outros meios.

Agora, imagine se isso parasse de funcionar da noite para o dia?

Hipóteses improváveis, mas possíveis

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Pode parecer loucura pensar em uma hipótese como essa, mas a falha do Facebook mostrou que é possível, sim, causar transtornos à nível mundial se um criminoso souber onde atacar — no caso da rede social, não houve atuação externa. Em vez de focar em sites de modo individual, bastaria direcionar os esforços para os servidores DNS e roteadores, responsáveis por direcionar o tráfego da web.

Se esse tipo de cenário ocorresse, era bem provável que toda a internet colapsasse sem conseguir acessar sites e serviços. Obviamente que é algo bem improvável de acontecer, mas não é de todo impossível. Um simples desligamento de servidor de DNS já poderia ser o suficiente para deixar inoperantes boa parte de serviços populares.

Algo passível, sim, de ocorrer seria uma ameaça diretamente do espaço. Não são os extraterrestres, mas as temidas tempestades solares, erupções do sol que podem golpear a Terra com raios que destruiriam satélites, redes de energia e sistemas informatizados. Essas intempéries funcionam como imensas bombas geomagnéticas que trariam como consequência a interrupção de toda a comunicação mundial.

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A parte boa é que a chance de tudo ser reestabelecido rapidamente é elevada, já que provedores de internet e empresas de tecnologia costumam contar com vários equipamentos sobressalentes que podem ser ativados em caso de uma situação cataclísmica como essa ou mesmo para eventuais vulnerabilidades exploradas por criminosos.

Outra situação seria o corte nos cabos localizados em águas profundas que transportam grandes volumes de dados entre os continentes, o que deixaria uma parte inteira do planeta isolada do restante. Esses cabos não são alvo fácil para criminosos, porque exigem toda uma parafernália tecnológica que pouca gente possui, mas a natureza é capaz de causar danos acidentais ocasionalmente.

Em 2008, pessoas no Oriente Médio, Índia e Sudeste Asiático foram afetadas por interrupções na conexão com a internet em três ocasiões distintas, todas geradas por cabos submarinos foram cortados ou com interferências. Isso eventualmente ocorre e, embora não leve a um colapso generalizado, causa prejuízos imensos.

Interrupções propositais ou políticas

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Governos autoritários ou muito fechados também costumam usar filtros e interruptores para controlar o que o usuário pode acessar, algo que certamente poderia ser replicado em maior escala. É só lembrar de como o governo da Coreia do Norte controla o fluxo de informações dentro da nação, sem possibilitar o uso de redes sociais ou o acesso a sites noticiosos de fora do país.

O Egito já tomou uma medida parecida durante o levante da Primavera Árabe, em 2011, para tornar mais difícil para os manifestantes coordenar suas atividades. A Turquia e o Irã também desligaram a conexão com a internet durante os protestos recentemente. Na China, maior mercado nacional de internet do mundo, a rede também sofre com controle estatal.

Um "interruptor da morte" como esse não é nada simples de se construir, especialmente em países com elevado desenvolvimento tecnológico. Quanto melhor for a infraestrutura da internet, menor essa probabilidade, porque há interconexões demais entre as redes dentro e fora das fronteiras nacionais que inviabilizam um controle total.

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O primeiro baque: a economia

Quando se fala no fim da web, é impossível não associar imediatamente aos efeitos econômicos, já que a maioria das grandes empresas mundiais depende dela para fazer negócios. Na verdade, tudo depende do quão longa seria a interrupção: se for algo por horas ou poucos dias, talvez o efeito não seja tão devastador quanto se imagina.

Uma pesquisa conduzida pelo Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, em 2008, revelou que 20 empresas que mais disseram ter sofrido impactos financeiros por um corte de internet de quatro dias tiveram uma redução bastante menor do que se imaginava. Não houve tantas perdas porque os funcionários apenas adiaram os trabalhos ou buscaram alternativas para executar suas funções sem a rede.

É claro que o mundo de 2021 é bem diferente de 2008 e o foco aqui seria um fim total dos serviços, em vez de uma mera interrupção parcial. Se a análise partir desse pressuposto, aí sim os impactos podem ser devastadores, a começar pelas empresas mais ricas do mundo. A lista da Forbes Global 2000 elencou as quinze maiores empresas de capital aberto do mundo em 2021:

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  • Microsoft
  • Banco da China
  • Alphabet (Google)
  • Toyota
  • Samsung
  • Amazon
  • Banco Agricultural da China
  • Ping An Insurance Group
  • Bank Of America
  • Apple
  • Saudi Arabian Oil Company
  • China Construction Bank
  • Berkshire Hathaway
  • JPMorgan Chase
  • Banco Industrial e Comercial da China

Dentro desse TOP 15, ao quatro cinco empresas (Amazon, Microsoft, Google, Ping An) são totalmente voltadas para o ambiente digital e provavelmente desapareciam de imediato, enquanto outras três (Samsung, Apple e JPMorgan Chase) teriam a arrecadação fortemente afetada pelo fim da internet. Os bancos obviamente sentiriam o impacto como um reflexo, já que a quantidade de clientes cairia vertiginosamente e o índice de endividamento cresceria a níveis estratosféricos.

Mas não são apenas os grandes que sofreriam o grande baque: na verdade, os pequenos e médios empresários seriam os mais impactados. Para a maioria dessas pessoas, a internet é uma forma de angariar novos clientes ou se relacionar com eles, seja via WhatsApp ou por outra forma digital. Essas pessoas provavelmente perderiam o contato com quem paga seu salário e, a depender do tipo de serviço, sequer conseguiriam retomar a vida profissional sem a web.

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Mesmo os países mais pobres e rurais, que dependem menos da internet, acabariam por sucumbir, já que as nações desenvolvidas perderiam muito dinheiro e passariam a comprar menos produtos agropecuários. O efeito cascata da economia não perdoaria ninguém e isso provavelmente geraria ondas de desemprego em massa, pobreza e outros impactos nefastos que os governos precisariam lidar de imediato.

O segundo baque: social

A pandemia da covid-19 não foi devastadora apenas no viés do vírus em si, ela também causou ou amplificou efeitos psicológicos, como sentimento de isolamento, ansiedade e depressão. Embora a sociedade mundial tenha progredido muito nesse aspecto de 2020 para cá, ficou muito nítida a importância da internet nas relações humanas: lives cotidianas no Instagram, crescimento das plataformas de streaming e explosão dos apps de videoconferências são alguns exemplos.

Caso a rede mundial de computadores se esvaísse, você ainda poderia continuar a visitar seus parentes próximos e ligar para quem tem o telefone armazenado — isso se a telefonia não for afetada, caso contrário restariam apenas as cartas —, mas perderia contato com pessoas mais distantes. O problema maior seria o sentimento de perda ocasionado por isso: quem nunca sentiu um vazio quando esqueceu o celular em casa ou no trabalho?

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Transferir arquivos entre computadores também seria difícil, pois exigiria a volta da mídia física, como os quase extintos DVDs, ou conectar duas ou mais máquinas com um cabo físico. Projetos que dependem da computação em grade para fazer cálculos complexos também não funcionariam e os serviços de computação em nuvem falhariam para levar consigo todas as informações armazenadas lá por anos.

O setor de serviços precisaria ser completamente reconstruído e as facilidades atuais, como pedir uma pizza ou as compras do mercado usando um app de celular, precisariam voltar ao modelo de delivery do início dos anos 90: tudo via telefone ou com retirada presencial.

O terceiro baque: entretenimento

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Se você tem mais de 30 anos, provavelmente viveu em uma época na qual a televisão e o rádio eram as principais formas de entretenimento digital. Com o fim da internet, o setor de diversões online cairia por terra e levaria consigo as principais fontes de conteúdo atuais: YouTube, redes sociais e plataformas de streaming de vídeo e áudio.

O segmento cultural é hoje um dos que mais movimenta recursos no mundo graças à facilidade da propagação de conteúdos. O mercado global de mídia e entretenimento vai movimentar US$ 2,23 trilhões em 2021, conforme dados da 18ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2017-2021 da PwC.

O jeito seria recorrer aos meios antigos e tradicionais, como peças de teatro, shows, apresentações ao vivo e outras formas de diversão. Ah, e nem pense em TV à cabo, porque em uma eventual falha da web, possivelmente os canais fechados não resistiram.

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Um cenário improvável

A boa notícia é que esse cenário caótico seria muito improvável de ocorrer, já que o espalhamento da rede pelo planeta é algo que garante o seu funcionamento, mesmo que alguma região sofra uma interrupção parcial. Aliás, interrupções pontuais acontecem o tempo todo e em todos os locais, seja porque um servidor falhou e precisa ser reiniciado ou porque o data center foi destruído por um tufão.

O próprio backbone da internet não é centralizado, então aquela história de tropeçar nos fios e desligar a internet não passa de meme. Para que toda a internet global experimente um apagão generalizado, seria necessário um conjunto sucessivo de fatores, o que é estatiscamente improvável.

A situação da qual a web poderia sucumbir são os danos massivos da natureza ou provenientes do espaço, como a colisão de um comenta com parte da Terra. A verdade é que se esse tipo de coisa ocorresse, a preocupação se o WhatsApp vai ou não funcionar seria algo muito pequeno em comparação ao estrago.