Deepfake | Empresa perde R$ 127 milhões em golpe de chamada falsa
Por Bruno De Blasi • Editado por Douglas Ciriaco |
Uma empresa sofreu um prejuízo de aproximadamente R$ 127 milhões devido a um golpe com deepfake. O caso aconteceu em Hong Kong depois que um funcionário recebeu ordens do suposto CFO (diretor financeiro) da companhia para fazer 15 transferências bancárias.
Todo o processo aconteceu por meio de uma videoconferência feita por golpistas que se passavam pelo executivo. Durante a chamada, os cibercriminosos simularam a imagem e a voz do CFO, que trabalha em Londres.
De início, o funcionário de Hong Kong estranhou a ligação, mas os seus colegas lhe acalmaram após reconhecê-lo no vídeo. Depois, vieram as ordens urgentes para fazer transferências para cinco contas locais que totalizaram 200 milhões de dólares de Hong Kong (R$ 127 milhões em conversão direta).
Videoconferência falsa
Após o incidente, a polícia de Hong Kong foi acionada para apurar o caso. O superintendente Baron Chan aponta que os golpistas utilizaram o WhatsApp, e-mail e videoconferência para convencer os funcionários do escritório de Hong Kong.
As autoridades também indicam que, possivelmente, os cibercriminosos utilizaram gravações de vídeo para personificar o CFO em um deepfake. Para isso, os fraudadores podem ter utilizado gravações de reuniões anteriores para recriar as falas e a imagem com inteligência artificial.
“Acredito que o fraudador baixou vídeos antecipadamente e depois usou inteligência artificial para adicionar vozes falsas para usar na videoconferência”, disse Chan.
Os nomes dos funcionários e da empresa não foram revelados pelas autoridades.
Cuidado com o deepfake
O deepfake é uma das maiores preocupações da atualidade. Ainda que a técnica de edição possa ser utilizada para o bem, nada impede o uso para aplicar golpes financeiros ou até para compartilhar fake news.
As edições com IA também já foram utilizadas para casos envolvendo pornografia: no fim de janeiro, o X (ex-Twitter) ficou inundado de nudes falsos da cantora e compositora Taylor Swift.
O gerente de arquitetura de soluções da Compugraf, Rodrigo Rocha, chama a atenção para o nível do avanço das ferramentas de IA para o uso de deepfakes.
“Esse tipo de ataque vai começar a ser cada vez mais comum e as empresas e funcionários precisam cada vez mais se proteger”, destacou ao Canaltech. “Esse ataque à empresa de Hong Kong, só foi possível pois chegou um e-mail com um link para uma reunião falsa e funcionário foi convencido que era um link para uma reunião legitima.”
Por isso é importante manter os olhos abertos mesmo em videoconferência com conhecidos para identificar possíveis deepfakes.
Como evitar os golpes com deepfake
Alguns cuidados iniciais podem ser tomados para evitar golpes com deepfake, como prestar a atenção em gestos faciais ou até mesmo as emoções, que podem perder a sincronia durante a fala.
“Repare nas pequenas distorções. A tecnologia cria um vídeo a partir de um rosto 2D, para, em seguida, ajustar para o 3D. Então, repare, por exemplo, para qual lado o nariz está apontando”, orientou o gerente de RedTeam da Redbelt Security, Marcos Almeida. “Além disso, repare em movimentos bruscos, mudanças na luz durante o vídeo, no tom da pele, se a pessoa está piscando ou não, se a boca não está sincronizada com o que a pessoa está falando.”
Já o co-CEO da ISH Tecnologia, Allan Costa, ressalta a importância do investimento em educação contínua para evitar novos incidentes. “Treinamentos regulares sobre segurança da informação para funcionários podem ajudar a aumentar a conscientização sobre as táticas usadas por golpistas, incluindo o uso de deep fakes”, disse.
Outro caminho complementar é o uso da política da dupla verificação para evitar transferências bancárias ou compartilhamento de dados confidenciais indesejados.
Fonte: The Register, RTHK