Bactérias do intestino constroem novo tipo de plástico reciclável
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Nos Estados Unidos, cientistas do Berkeley Lab desenvolveram uma nova técnica para a produção de um plástico reciclável, a partir da bactéria Escherichia coli. O agente infeccioso pode ser normalmente encontrado no intestino humano, onde dificilmente causa complicações — problemas tendem a ocorrer quando ela “escapa” do sistema digestivo.
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Publicado na revista científica Nature Sustainability, o recente estudo que propõe o uso de uma bactéria comum para a criação de um novo tipo de plástico, o polidicetoenamina (PDK), é bastante promissor. Se a estratégia funcionar em larga escala, poderá ajudar no controle de um problema global e que afeta a saúde, a poluição plástica.
“Queremos ajudar a resolver o problema do lixo plástico, criando materiais biorrenováveis e circulares — e incentivando as empresas a usá-los”, afirma Jay Keasling, cientista sênior da área de biociências do Berkeley Lab e um das autoras do estudo, em nota.
Plástico feito por bactérias é reciclável
Diferente dos plásticos convencionais, que têm um limite para a reciclagem, o polidicetoenamina pode ser “infinitamente” reciclável, sem perder a qualidade dos novos materiais construídos. A questão é que, até então, os PDKs usavam blocos de construção derivados de produtos petroquímicos. Na recente pesquisa, os ingredientes básicos foram produzidos a partir da bactéria E. coli, reduzindo o impacto ambiental do material.
Em laboratório, a bactéria transforma açúcares de plantas (naturais) nos principais blocos de construção para o novo tipo de plástico. Estes blocos são compostos por uma molécula conhecida como lactona de ácido triacético (bioTAL). O produto final é quase todo composto por materiais de origem biológica (80%).
Para entender como é este novo material, os pesquisadores compartilharam imagens do processo de produção. A primeira imagem revela o bioTAL bruto, com esse aspecto granulado. Durante o processo de produção, o bioTAL é combinado com outros produtos químicos, o que resulta em um plástico biorrenovável e reciclável, que inicialmente tem essa cor terrosa.
Onde o novo plástico pode ser usado?
O interessante é que o plástico desenvolvido a partir de bactérias é bastante versátil, podendo ser usado em adesivos, materiais rígidos ou ainda flexíveis, como cabos de computadores e pulseiras de relógio. Tudo depende do tratamento dado ao material.
No entanto, algumas melhorias ainda são necessárias para viabilizar a produção deste tipo de plástico em larga escala, como o aumento da velocidade na qual as bactérias convertem os açúcares no biomaterial. Isso pode ser alcançado a partir de testes com outros tipos de açúcares, por exemplo.
Quando o processo estiver todo estabelecido, os pesquisadores apostam que o plástico polidicetoenamina será uma boa opção para o mercado, considerando que a produção será mais barata que a média e que a emissão de gás carbônico será bem menor que a de seus concorrentes.
Pensando no uso das bactérias e a questão do plástico, outros pesquisadores estudam o uso de agentes infecciosos, como a Ideonella sakaiensis, para reciclar os materiais não reciclados, como aqueles que vão parar em ilhas de plástico nos oceanos. De qualquer forma, parece que a solução para o problema deve surgir entre os micróbios.
Fonte: Nature Sustainability e Berkeley Lab