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Supercomputador Tupã que prevê o tempo no Brasil sobrevive na base do improviso

Por| Editado por Claudio Yuge | 08 de Julho de 2021 às 23h00

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Divulgação/CPTEC/INPE
Divulgação/CPTEC/INPE

Um investimento milionário feito pelo Brasil em 2010 está chegando próximo ao final de seu ciclo de vida e pode deixar o país sem um sistema de previsão do tempo. O supercomputador Tupã, comprado por US$ 23 milhões (R$ 120 milhões, na cotação atual) deve ser aposentado em breve, após passar os dois últimos anos operando na base de um ajuste emergencial.

Na época em que foi adquirida, a máquina era a 29ª mais poderosa do mundo, figurando na terceira colocação entre aquelas dedicadas somente à previsão do tempo. Fornecida pela Cray, o modelo XE-6 chegou ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em setembro de 2010 equipado com 2.560 processadores AMD-Opteron Magny-Cours com 30.702 núcleos de processamento.

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O grande poder do Tupã garantia a capacidade de operar com a velocidade máxima de 258 Teraflops (unidade que mede o desempenho de hardwares), poder usado para processar dados fornecidos para os centrais estaduais de meteorologia e diversos órgãos:

  • Centro Nacional de Desastres Naturais (Cenad);
  • Agência Nacional de Águas (Ana);
  • Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha (DHN);
  • Departamento de Controle do Espaço Aéreo da Aeronáutica (Decea);
  • Centro Nacional de Monitoramente e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden);
  • Ministério de Minas e Energia;
  • Ministério da Agricultura;
  • Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O intenso poder de processamento veio acompanhado por uma vida útil relativamente curta: máquinas do tipo costumam durar entre quatro a seis anos e a consumir grandes quantias de energia elétrica para funcionar e serem resfriados. Somente com o Tupã, são gastos, em média, R$ 5 milhões em energia elétrica e R$ 1 milhão em manutenção.

Começo do jeitinho

Em 2015, o Inpe iniciou a negociação de uma série de acordos com a Cray para estender a vida útil da máquina, cuja última versão chegou ao fim em outubro de 2017. No mesmo ano, o Inpe comunicou ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) sobre a necessidade de compra de um novo supercomputador: avaliada em R$ 150 milhões, a máquina planejada pelo então diretor Ricardo Galvão prometia ser 30 vezes mais veloz, mas teve sua aquisição negada devido aos custos envolvidos.

A solução encontrada para assegurar a manutenção do Tupã foi investir R$ 9,6 milhões no modelo CX-50 da Cray, que traz 208 processador Intel Xeon Gold e velocidade máxima de 303 Teraflops. A nova máquina foi anexada ao equipamento antigo, que teve seis (entre 14) gabinetes desligados para economizar energia e preservar componentes que passaram a ser usados como peças de reposição.

O “jeitinho” encontrado pelo Inpe também resultou na divisão da máquina em duas partes: o antigo XE-60 (com capacidade reduzida para 146 Teraflops) passou a trabalhar com a geração de cenários futuros de longo prazo e com o backup de operações diárias. Já o equipamento mais recente, o CX-50, assumiu as tarefas de previsão do tempo diária e das previsões sazonais, que analisam cenários para o próximo trimestre.

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Nova máquina deve ser um paliativo para o problema

Os planos para substituir definitivamente o Tupã começaram a ser elaborados ainda em 2019, mas cortes de orçamento dificultaram o processo. Em 2021, o supercomputador chegou a ter seu desligamento cogitado para o mês de agosto — dos R$ 76 milhões planejados para o orçamento do Inpe (valor 18% menor que o de 2020), R$ 44,7 milhões haviam sido liberados até o início de junho.

Diante da repercussão do caso, o diretor do Inpe, Clézio di Nardin, anunciou a compra de um novo aparelho de US$ 720 mil (R$ 3,7 milhões) que deve ser entregue até o final de agosto. Segundo ele, o novo hardware, adquirido em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), ocupa menos espaço e tem uma capacidade técnica semelhante ao sistema atual.

No entanto, ainda permanecem questões sobre de transferência de processos para o novo equipamento, que deve passar por uma etapa de testes antes de assumir o lugar do Tupã em definitivo. Ao Estadão, Gilvan Sampaio, coordenador-geral de ciências da Terra no Inpe, afirmou que o novo computador possui uma capacidade de processamento reduzida (200 Teraflops) e não deve ser uma alternativa para o futuro das pesquisas climáticas no Brasil.

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Sampaio estima em US$ 40 milhões (R$ 210 milhões) os custos para reformar a estrutura do instituto e adquirir uma máquina capaz de substituir devidamente o Tupã. Segundo suas estimativas, mesmo que o dinheiro estivesse disponível, um novo sistema só estaria ativo em 2023 devido aos processos licitatórios de caráter internacionais envolvidos. No meio tempo, o Brasil continua correndo o risco de sofrer um “apagão meteorológico” e a depender do antigo supercomputador, que continuará responsável por parte das pesquisas e backups enquanto continuar ligado.

Fonte: Estadão Link, G1