Bolsonaro se reúne com executivo da Huawei para tratar de 5G
Por Fidel Forato |
As especulações sobre negócio da Huawei com o 5G brasileiro avançam mais um pouco. Após as falas do embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, em que se mostrava confiante na cooperação entre China e Brasil, o presidente Jair Bolsonaro recebeu, ontem (18), Zou Zhilei, o CEO da Huawei para a América Latina.
Vale lembrar que, na semana passada, o presidente chinês Xi Jinping esteve em Brasília com Jair Bolsonaro por conta da reunião do BRICS, entre as potências emergentes. Na ocasião, o dirigente chinês sinalizou robustos investimentos, de pelo menos US$ 100 bilhões de fundos estatais, para projetos no país, desde que o Brasil adotasse uma posição pragmática em relação à China.
Encontro da Huawei
Dentro dessa posição pragmática, pode-se especular que esteja inclusa a autorização da Huawei para participar da construção da quinta geração da internet móvel no país, o 5G. Segundo fontes próximas, a ideia da companhia chinesa é de acelerar sua construção, e para isso deve tentar financiar a instalação da infraestrutura implementada pelas operadoras de telefonia celular.
Em sua visita oficial ao Brasil, o CEO da Huawei para a América Latina disse que a empresa quer ser fornecedora para as teles no 5G e que seus equipamentos são seguros. Durante a apresentação, foi destacada a atuação da companhia por mais de 20 anos no país, com o fornecimento de equipamentos e oferecendo treinamento aos engenheiros das operadoras.
Sobre a reunião, o presidente Jair Bolsonaro se pronunciou a respeito do executivo e explicou que "não foi feita a proposta, ele apenas mostrou que quer o 5G no Brasil." Isso porque, para a Huawei, o desejo é de que o governo brasileiro não interfira nas escolhas das companhias de telecomunicações, para que essas empresas sejam livres para escolherem seus fornecedores, quando a Anatel marcar o leilão.
Ainda sobre a disputa entre as gigantes da tecnologia e, principalmente, entre os EUA e a China, Bolsonaro conta que está "sabendo que tem uma firma sul-coreana também em condições de operar 5G”. O presidente também especulou que considerará termos como a "melhor oferta" e a "conectividade".
Como poderia funcionar?
A companhia chinesa é a maior fornecedora de equipamentos de rede de telefonia no mundo e mais da metade das operadoras utiliza sua tecnologia. Nesses casos, a Huawei somente vende o equipamento de infraestrutura para que as operadoras de telefonia comprem e instalem. Com a liberação de sua participação da concorrência do 5G, o governo brasileiro não seria seu cliente.
No entanto, o presidente tem poder para barrar a participação da companhia na construção da nova tecnologia no país. Isso porque leilão do 5G deve acontecer o próximo ano, quando as operadoras devem apresentar suas propostas. Essas empresas de telecomunicações terão de instalar suas redes seguindo especificações técnicas a serem definidas pelo governo. Dependendo desses padrões, a Huawei pode ser impedida de fornecer equipamentos.
Nesse cenário, a China pode ver o impedimento como uma ofensa que interfira negativamente na nova rodada de investimentos no Brasil, anunciada anteriormente. Atualmente, são três companhias que concorrem pelo espaço 5G: a chinesa Huawei, a finlandesa Nokia e a sueca Ericsson. Por enquanto, não se sabe á qual empresa sul-coreana o presidente se referia em sua fala.
Entre os planos americanos para a questão, está o adiamento do leilão do 5G. Dessa forma, as empresas ganhariam tempo para alcançar o padrão tecnológico dos chineses e, assim, poderiam concorrer na disputa pelo mercado brasileiro.
Relação com os EUA
De olho no avanço da Huawei, os EUA têm intensificado o lobby contra a entrada da companhia chinesa no país pelo futuro do 5G. Representantes do presidente americano Donald Trump têm levantado preocupações sobre a segurança dos equipamentos da companhia chinesa em encontros com autoridades nacionais, incluindo os riscos de ataques cibernéticos e espionagem.
Ainda, os americanos alertam que o aprofundamento da parceria na área de defesa entre os dois países, como a cooperação militar e a transferência de tecnologia, dependem de garantias de que as telecomunicações usadas pelo Brasil sejam totalmente confiáveis — o que um acordo com a Huawei no setor de infraestrutura colocaria em risco.
Na contramão de suas propostas, o governo americano teve que recuar seus esforços, pelo menos nos EUA. O país acaba de conceder uma nova extensão de três meses na licença à Huawei e suas afiliadas para negociar com companhias dos Estados Unidos. Segundo um documento publicado ontem (18), somente a partir do dia 16 de fevereiro que a proibição passará a valer.
Fonte: O Globo; Folha de S. Paulo