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Review Stellar Blade | Jogo parece ter sido feito por um adolescente empolgado

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Shift Up
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Talvez o pessoal mais novo não faça ideia do que vou falar, mas existia nos anos 1990 uma instituição muito comum em todas as casas brasileiras que era o espelho do quarto do adolescente. Era aquele espelho na porta do guarda-roupa em que o jovem colava todos os adesivos possíveis para não deixar dúvidas sobre aquilo que ele gostava. 

Como um totem da sua personalidade, era um amontado de adesivos de bandas, personagens, discos, emissoras de rádio, paródias e o que mais pudesse ser colado ali que ele achasse legal. Não importava se o espelho ficasse inutilizável ou se a combinação não fizesse o menor sentido — o importante era parecer legal. E Stellar Blade é exatamente como um desses espelhos.

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O jogo da sul-coreana Shift Up que chega ao PlayStation 5 parece ter sido feito por um adolescente muito empolgado. Não apenas por exalar puberdade no design de sua protagonista, mas por ser esse mesmo aglomerado de referências do que seu criador acha legal. Da sua história à jogabilidade e às situações enfrentadas, o título parece uma colagem de muita coisa que você já viu antes.

É uma salada tão grande que é até surpreendente que ele funcione na maior parte das vezes. Exatamente como o espelho do quarto de um adolescente, Stellar Blade combina coisas que não se conversam entre si e que muitas vezes não funcionam, mas também consegue criar combinações curiosas que divertem e te fazem rir da cara de pau e da loucura que é aquilo tudo.

Eu já vi isso antes

Stellar Blade vem sendo muito comparado com outros jogos de ação, principalmente com aqueles protagonizados por mulheres. Não faltaram paralelos com Bayonetta e NieR Automata, sobretudo por causa da ação mais frenética e da sexualização de sua protagonista. E tudo isso é verdade, mas esses são apenas alguns dos títulos em que a Shift Up se inspirou para dar vida ao seu novo game.

A história deste mundo pós-apocalíptico em que a Terra é dominada por criaturas bizarras e que heroínas meio robóticas tentam eliminá-los bebe de muitas outras fontes. A trama é literalmente a mesma de NieR Replicant, a jogabilidade puxa muito dos soulsborne e há momentos que vão remeter a Uncharted 2, Dead Space, Crisis Core: Final Fantasy 7 e ao próprio Final Fantasy 7 original. Isso sem falar do design à lá Evangelion com pitadas de Battle Angel Alita.

É uma salada que chega a ser engraçada, ainda mais quando ela se torna óbvia demais e coerente de menos. É impossível não rir quando o jogo arranja um jeito de criar seu próprio Sephiroth. 

Ao mesmo tempo, essas referências também criam bons momentos. Há algumas áreas em que EVE fica incapaz de usar sua espada e precisa avançar apenas com uma arma. São trechos até bem curtos, mas que emulam muito bem uma estética de survival horror bem ao estilo de Dead Space que funciona surpreendentemente bem e que me fez querer ver mais disso.

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Como dito, Stellar Blade é essa enorme mistura maluca que não esconde nenhuma de suas influências. Assim como o espelho do adolescente, ele parece querer ostentar todas essas inspirações. E, embora seja muito legal ver essa ode à cultura pop, nem tudo funciona quando colocado lado a lado.

Um Frankenstein de referências

O principal ponto está na combinação das mecânicas de soulsborne com uma jogabilidade mais ágil de um RPG de ação tradicional, como o próprio NieR. Embora Stellar Blade acredite que está dando uma personalidade própria aos combates, ele está apenas criando algo que não funciona tão bem assim.

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Os soulsbornes são mais lentos por uma razão. São jogos que pedem para você saber o timing correto do ataque e da defesa, construindo sua dificuldade ao testar o domínio do jogador sobre essas características. Por isso mesmo, controlar o número de inimigos também é tão importante, porque até mesmo o mais inofensivo dos adversários pode ser fatal se você subestimá-los.

Só que Stellar Blade claramente não entendeu isso. Para ele, um soulsborne se resume a saber usar parry, ter um número limitado de poções e sempre ver os inimigos voltarem quando você vai a um checkpoint. E é por não compreender a lógica do estilo que ele acaba criando algumas anomalias.

Isso porque, acima de um soulsborne, ele quer ser um RPG de ação. Quer explosão de efeito, ataques rápidos e muitos inimigos sendo fatiados ao mesmo tempo à medida que a heroína EVE sai dando pirueta em ângulos bastante sugestivos. E é aí que as coisas não se encaixam. 

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Stellar Blade parece não saber ao certo para que lado ir e acaba criando situações que não exploram direito nenhuma das duas vertentes. É frustrante sentir-se preso quando você quer a liberdade de um combate ágil, da mesma forma que é irritante morrer várias vezes quando o jogo não consegue combinar os movimentos rápidos da protagonista com o timing preciso de defesa em grandes batalhas. O maior exemplo disso é o fato de EVE parecer pesar duas toneladas enquanto se move.

A coisa se torna ainda mais caótica quando ele tenta criar um mundo aberto. Explorar esse mundo devastado parece legal, mas se torna um pesadelo quando ele começa a jogar inimigo por todos os lados, mesmo com as mecânicas soulsborne não sendo feitas para isso. No momento em que ele precisa ser um Action RPG, você sente o peso do soulsborne quase como um açoite para castigá-lo pela ousadia de querer se divertir.  É terrível.

Por outro lado, há momentos em que essa combinação de estilos tão diferentes funciona bem. Quando o jogo se contém na empolgação e traz algo um pouco mais contido, esse combate esquizofrênico fica até bem divertido, sobretudoquando ele permite que você experimente as várias combinações de golpes e habilidades da protagonista. O problema está quando o adolescente se empolga demais e esquece o básico do design que ele próprio propôs.

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Uma estética sem coerência 

Essa mistura de coisas que o autor acha legal também aparece na estética do jogo. Assim como na sua jogabilidade, Stellar Blade não sabe ao certo o que quer ser. Tem vezes que ele quer ser um game extremamente realista, tem horas que abraça a estética anime com força e, em outros, decide pelo básico e aposta no visual boneca inflável dos personagens. 

Essa falta de unidade até pode ser justificada como um elemento narrativo, mas não convence muito. A história passa por aquela velha discussão sobre o que nos torna humanos e essa disparidade estética poderia se encaixar nisso se fosse melhor trabalhada, mas o modo como o jogo usa isso só faz parecer que é porque o estúdio achou legal. 

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Tanto que é até estranho quando o trio de protagonistas aparece junto no mesmo quadro. Adam é ultrarrealista em um nível impressionante, sendo uma espécie de mistura de Zezé di Camargo e Luisito Suárez, mas esse visual não conversa em nada com a estética anime de  Lily. E esses conflitos se repetem várias outras vezes com outros personagens, incluindo alguns que parecem bonecas LOL.

Em um aspecto geral, essa falta de noção estética é apenas um detalhe que pouco interfere na experiência geral do jogo, mas que traduz bem a bagunça que é Stellar Blade. O jogo não se importa se uma ideia casa com a outra, o importante é parecer legal.

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Uma história conhecida, mas interessante

Como dito, a trama de Stellar Blade é exatamente a mesma de NieR Replicant. Não vou entrar em detalhes para evitar maiores spoilers, mas quem jogou o game da Square Enix vai perceber logo de início qual é a grande reviravolta que o jogo tenta construir.

Só que isso não é demérito algum — até porque, sendo bem sincero, ninguém jogou Replicant. Falta um pouco de sutileza na construção desse roteiro (os personagens se chamarem EVE e Adam faz você sacar tudo desde o primeiro momento), mas ele consegue amarrar essas obviedades de forma até bem convincente.

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O destaque mesmo está na construção desse mundo pós-apocalíptico. Boa parte da ação é centrada na cidade de Xion, o último reduto humano em meio a esse caos (alô, Matrix), e há toda uma subtrama se desenvolvendo entre missões secundárias e interação com objetos que consegue ser muito mais interessante do que a própria aventura principal.

Mais uma vez, é um detalhe que não está no centro da experiência, mas que mostra que há muito valor e conteúdo dentro dessa enorme colagem de influências. É algo, inclusive, que incentiva o jogador a deixar um pouco a campanha principal de lado e mergulhar nas sidequests para conhecer mais dessa história paralela.

Como a ideia é claramente transformar Stellar Blade em uma franquia, essas boas ideias plantadas aqui podem transformar o game em algo maior do que esse pastiche que temos aqui.

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Vale a pena jogar Stellar Blade?

Eu odiei meu primeiro contato com Stellar Blade, a ponto de não conseguir terminar a demo lançada no fim de março. Contudo, com o game completo em mãos, admito que passei a gostar muito mais da experiência, sobretudo ao entender que o jogo carrega esse espírito adolescente. É extremamente bobo e é por isso que ele se torna divertido.

Muita coisa nessa colagem maluca não funciona. Os momentos de mundo aberto são terríveis e mostram como a Shift Up não tem ideia do que está fazendo, mas essa empolgação juvenil também rende bons momentos quando você percebe que nada ali merece ser levado a sério. É um jogo sobre uma boneca inflável dando pirueta com um espadão e fatiando uns monstros. Para o que é, está bom. Ainda assim, em meio a essa bagunça, ele acerta em vários pontos.

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Stellar Blade tem muito espaço para melhorar, mas para um game de estreia de um estúdio sem tradição, faz um trabalho bastante razoável. Mesmo se perdendo em decisões bastante equivocadas, é possível ver que há um caminho para virar algo mais interessante no futuro e estou disposto a pagar para ver. 

É um jogo que consegue, apesar desse amontoado de influências e replicações de outros títulos, encontrar sua personalidade. É promissor, por mais que ainda seja a personalidade caótica de um adolescente na puberdade.