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Review Sea of Stars | RPG retrô tem brilho próprio e aura de obra-prima

Por| Editado por Jones Oliveira | 28 de Agosto de 2023 às 13h39

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Sabotage Studios
Sabotage Studios

O saudosismo e a nostalgia são grandes armas de marketing, mas também armadilhas perigosas para qualquer experiência. Afinal, toda tentativa de emular algo já conhecido pode ficar no meio do caminho — uma lembrança incompleta daquilo que já foi. Só que, embora se vista dessa aura nostálgica dos RPGs clássicos da era 16-bits, Sea of Stars é muito mais do que esse aceno ao passado. É uma evolução daquilo que tanto nos toca, mas sempre mirando em frente, sempre buscar ser algo novo e original, mas ainda familiar.

A inspiração em jogos como Chrono Trigger é óbvia e o próprio criador do game, Thierry Boulanger, já falou diversas vezes o quanto se baseava no clássico da Squaresoft para criar esta aventura. Só que esse é apenas o ponto de partida para um título que sabe aproveitar muito bem as memórias de um gênero e as referências em torno delas para construir seu próprio caminho e ser original.

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Sea of Stars é um daqueles raros jogos que acerta em praticamente tudo o que propõe. Desse saudosismo muito bem dosado às mecânicas que, embora não sejam originais, são muito bem costuradas para criar uma experiência muito bem ritmada que une jogabilidade a uma ótima narrativa, o novo lançamento da Sabotage Studio é tudo aquilo que os fãs de um bom RPG tanto buscam.

Uma colagem perfeita

Entender as influências usadas por Boulanger e a Sabotage para dar vida a Sea of Stars é fundamental para compreender seu apelo. Além do visual que remete imediatamente aos clássicos jogos da geração do Super Nintendo, como o próprio Chrono Trigger, toda a jogabilidade da aventura focada nos Guerreiros do Solstício resgata elementos já conhecidos de outros títulos.

O sistema de combate em turno, mas que traz uma dinâmica de apertar o botão no momento certo para otimizar seu ataque ou defesa, é algo que já existia em Super Mario RPG e Paper Mario, por exemplo. Da mesma forma, a exploração transversal dos cenários é algo que foi declaradamente inspirado em Illusion of Gaia, um jogo de SNES de 1994.

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Só que o mérito de Sea of Stars não está na originalidade em criar mecânicas revolucionárias, mas em fazer essa colagem de recursos presentes em títulos clássicos, antigos e até desconhecidos para criar uma experiência muito coesa e robusta que consegue ficar à altura de tudo o que veio antes. É saber quais peças usar para construir um quebra-cabeça tão bom quanto o original.

E é isso que faz com que a aventura se torne tão envolvente já nos seus primeiros momentos, seguindo em uma crescente constante a cada nova etapa da jornada. Os confrontos não se limitam apenas a coletar experiência para melhorar seus atributos e desbloquear novas magias, mas de saber o melhor ataque para cada momento, entender o padrão de ataques dos inimigos e tentar desarmá-los em momentos específicos.

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É uma simples mudança que mexe em toda a dinâmica e torna esses embates desafiadores e divertidos na mesma medida e sem cair no risco de se tornar repetitivo.

Mais do que isso, é algo que faz com que Sea of Stars se preocupe em levar o gênero para frente ao invés de apenas olhar para trás. Ele ainda é um RPG por turnos, mas exige muito mais precisão e domínio das táticas e dinâmicas do seu time do que a maioria dos jogos de ação modernos que chegam aos consoles. E tudo isso com uma roupagem bastante clássica.

O mesmo acontece na exploração dos cenários. Seja em cidades ou em meio a desertos ou ilhas paradisíacas, a dupla Zale e Valere tem muita liberdade para subir em plataformas ou pular de grandes alturas em praticamente todo o mapa. Adicione acessórios ao melhor estilo The Legend of Zelda, como o arpéu, e você tem um novo leque de possibilidades pouco usado dentro do gênero.

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É algo simples, mas que quebra aquela lógica de camadas tão presente nos RPGs — incluindo os modernos — em que tudo é limitado por escadas e acessos pré-determinados. O resultado é um convite à exploração que torna cada momento nesse mundo ainda mais interessante.

O equilíbrio entre jogabilidade e narrativa

A inspiração da Sabotage Studio em Chrono Trigger não é apenas visual. Já durante o período de crowdfunding de Sea of Stars, a equipe apontava como o clássico RPG da Square era um modelo a ser seguido em vários aspectos, principalmente pela sinergia perfeita que a aventura de Chrono tinha entre sua jogabilidade e sua narrativa.

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E esse objetivo é alcançado com louvor. O ritmo com que Sea of Stars conduz o jogador em sua história ao mesmo tempo em que apresenta novas mecânicas e incentiva o domínio delas beira a perfeição, de modo que você está sempre sentindo que está avançando tanto na trama quanto no controle de tudo o que está acontecendo. Tanto que dificilmente você vai se ver questionando o quê está fazendo ou com que finalidade, já que tudo é muito coeso.

Isso faz com que a trama um tanto simples ganhe contornos muito mais interessantes à medida que avança. A história acompanha a dupla Zele e Valere, dois jovens que carregam os poderes do Sol e da Lua e que precisam viajar o mundo para impedir o despertar de uma entidade ancestral trazida à vida por um grupo de vilões. Só que esse roteiro genérico de salvar o mundo vai ganhando mais personalidade a cada nova etapa.

Um exemplo bem claro disso é a própria formação da equipe. Os personagens que entram no grupo adicionam novas mecânicas ao combate e mexem de forma significativa na estratégia. Mais do que apenas contar com novos elementos para além do Sol e Lua, são movimentos que exigem mais da sincronia, assim como habilidades que alteram as táticas de cada confronto.

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Capricho ao máximo

E não há como falar de Sea of Stars sem citar o quanto ele é um jogo lindo. Provando o quanto o pixel-art é atemporal, é impossível não se encantar com o belíssimo trabalho visual na construção desse mundo. E, mais uma vez, temos essa ideia de remeter aos clássicos ao mesmo tempo em que traz novidades que levam o estilo para frente.

Não se trata apenas de emular o visual 16-bits, mas de usar as tecnologias atuais para fazer aquilo que a geração do Super Nintendo não era capaz, seja ao criar ambientes mais detalhados e refinados graças à quantidade de pixels ou de adicionar efeitos que os hardware antigos não conseguiam reproduzir.

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E, assim como no caso das mecânicas, não é nada original ou criado especialmente para este jogo. Contudo, Sea of Stars demonstra um domínio da técnica para tirar o que há de melhor dela — o que inclui até mesmo o carisma e o charme de personagens, ambientes e do próprio roteiro.

Em paralelo, temos toda a parte sonora que é um show à parte. E, nesse caso, a ligação com Chrono Trigger é direta, já que o jogo da Sabotage Studios contou com participação do compositor Yasunori Mitsuda, responsável pelas icônicas melodias do RPG de viagem temporal. E ele mostra ainda ser um mestre na arte de empolgar e cativar com suas melodias, já que todas as canções de Sea of Stars são incríveis.

Muito mais do que nostálgico

Todo o marketing em torno de Sea of Stars foi construído a partir dessa imagem de ser um retorno aos RPGs clássicos, quase como um sucessor espiritual de Chrono Trigger — embora ninguém tenha tido a pretensão de se anunciar assim. Só que bastam algumas horas de gameplay para perceber que esse saudosismo é apenas um verniz que se limita à primeira camada. Na verdade, o jogo é muito mais do que isso.

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O game é a prova do quanto referência e bagagem são tão interessantes e poderosas quanto aquela ideia criativa e revolucionária. A criatividade e a genialidade também se fazem na remodelagem. Mesmo sem reinventar a roda, a Sabotage Studios reúne tantos elementos bons e os costura de forma tão eficiente que leva os RPGs retro a um novo nível.

Não há melhor homenagem para os clássicos do passado do que tê-los como um modelo a se seguir e, a partir disso, brilhar com suas próprias cores. E, nesse sentido, Sea of Stars tem uma constelação de motivos para se orgulhar.

Sea of Stars chega no dia 29 de agosto para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch e PC.