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Análise | Huntdown tem tudo que um bom bullet hell precisa

Por| 09 de Junho de 2020 às 09h18

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Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing
Coffee Stain Studios/Coffee Stain Publishing

Existe um desafio muito grande em trazer novas propostas para gêneros de jogos que nasceram nos arcades. Naquela época, o objetivo era ter fases curtas, desafiadoras, que fizessem o jogador morrer e lutar por altas pontuações. Contudo, há muito tempo a lógica não é mais essa nos consoles domésticos.

Uma das crias do arcade é o gênero bullet hell (algo que pode ser entendido como tempestade de tiros), cuja ideia é colocar o jogador em um cenário 2D repleto de plataformas para enfrentar inimigos na base do “tiro, porrada e bomba”.

Essa é a descrição de Huntdown, uma bela surpresa do gênero lançada para PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. O jogo é a estreia da Easy Trigger Games, estúdio sueco fundado em 2016 pelo programador Andreas Rehnberg e pelo designer Tommy Gustafsoon.

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O trabalho de Huntdown basicamente foi assim: Rehnberg fez toda a programação, controle de gameplay e mecânicas. Já Gustafsoon trabalhou na história, conceito, música e direção do game. Eles ainda contaram com mais três pessoas para colaborar na programação, arte e música do título. Diante de um grupo de apenas cinco pessoas, é incrível pensar como Huntdown é tão polido em tantas plataformas diferentes.

Ambientação

A Easy Trigger bebe de fontes dos anos 1980, mas, diferente de outros títulos (alô, Streets of Rage 4), sabe que o passado está no passado. A trama se passa em um mundo futurista decaído, bem cyberpunk, como em filmes como Blade Runner.

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O jogador pode escolher entre três caçadores de recompensas. A primeira é Anna Conda, uma humana ex-comandante militar especializada em armas brancas. Ela lança uma machadinha nos inimigos e sua pistola semiautomática solta três tiros leves de uma só vez.

Já John Sawyer é um policial de operações especiais que perdeu parte do seu corpo em ação, sendo, portanto, meio ciborgue. Ele conta com uma pistola mais poderosa, mas com tiros mais espaçados em comparação aos outros personagens. Além disso, ele carrega um bumerangue, que atinge inimigos tanto na ida quanto na volta.

Por fim, há o androide Mow Man, municiado com software roubado e proibido, o que o levou a ser um caçador de recompensas. Ele conta com tiros rápidos e adagas que podem ser lançadas nos inimigos.

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Os três saem em uma caçada para limpar as ruas de uma decadente cidade futurista fictícia e precisam enfrentar quatro gangues (que funcionam como quatro mundos com fases próprias): os punks, os motoqueiros, os hooligans e os lutadores de artes marciais. Repare que tudo até aqui remete aos anos 1980.

“Muita gente associa essa época com otimismo e personagens bronzeados de paletó dirigindo sua Ferrari Testarossa com um belo por-do-sol atrás. Não em Huntdown. Nós quisemos pegar a raspa daquela época, e o que podemos aprender de coisas como Blade Runner, RoboCop e Exterminador do Futuro”, conta Gustafsson.

De fato, tudo isso está em Huntdown. Contudo, de uma forma tão natural e criativa que não cansa como parca referência pela referência. Isso porque os desenvolvedores souberam como brincar com os detalhes sem que isso fosse óbvio.

Por exemplo, em uma das fases, há um outdoor com o rosto de uma pessoa que lembra David Bowie. Contudo, no lugar do clássico raio colorido no rosto, está um rasgo no cartaz no mesmo desenho. Ou seja, ambienta o jogador em um mundo que ele conhece, sem que seja um objeto estranho a todo o resto. No caso, Bowie não faz parte daquele mundo, mas um outdoor quebrado cabe no cenário de cidade deteriorada de Huntdown.

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As fases são cheias desses detalhes, que casam muito bem com a história que a fase quer contar naquele momento. Isso mostra o trabalho de Gustafsson em amarrar muito bem todos os elementos sem deixar pontas soltas ou referências sem sentido só pela referência.

Com isso, Huntdown oferece um ambiente autêntico e imersivo, que leva o jogador para universos cyberpunks de filmes dos anos 1980. Até mesmo na fala dos personagens, há referências a RoboCop ou Blade Runner, mas com variações para não deixar assim tão óbvio. Assim, é o reconhecimento de que a lembrança do passado precisa ainda se manter como uma lembrança, e não um protagonista da sua trama.

Novas propostas 

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Se Huntdown vai ao passado para contar suas histórias e ambientar o jogador, na jogabilidade coloca muitas cartas novas na mesa do gênero bullet hell. A começar, propõe que o tiro e as bombas não sejam as únicas ferramentas de combate.

O jogador conta com armas de ataque próximo, como adagas, machadinhas, bumerangue, tacos variados, chaves de fenda e outros. Só isso estimula mais a aproximação aos inimigos, mesmo que isso seja um risco.

Outra mecânica nesse sentido são os pulos. O jogador tem um botão para deslizar, permitindo desviar de ataques físicos e agilizar na hora de se esconder. Contudo, caso aperte o botão enquanto estiver no ar, cai com força em cima dos inimigos, mandando-os para longe. Essa pode ser uma boa estratégia para quando há muitos oponentes ao mesmo tempo e você não tem onde se esconder.

Huntdown também leva para os bullet hells uma mecânica típica de jogos de tiro em terceira pessoa: o chamado cover (ou cobertura em bom português). Os personagens podem se proteger atrás de carros, caixas e muros apenas se aproximando deles ou escorregando agachados até lá. Também se enfiam em portas e buracos na parede, como se estivessem atrás de uma coluna para evitar os tiros.

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Outra boa adição ao gênero é a variação de equipamentos. Cada personagem pode carregar até duas armas diferentes: uma pistola base e outra que se pega dos inimigos quando eles morrem. O mesmo acontece com acessórios: cada personagem tem o seu básico, mas pode pegar explosivos e objetos que os inimigos deixam cair.

Tudo isso faz do jogador muito poderoso, mas, como todo bom bullet hell, também mais frágil. As armas dos oponentes geralmente são mais fortes que as suas, ou eles são em maior número. Os hooligans e os motoqueiros, por exemplo, atacam em velocidade em cima de patins e veículos, o que também os fazem bem mais difíceis de serem eliminados.

Assim, não espere que a variedade de armas, explosivos e estratégias seja uma vantagem muito grande ao seu favor. O caminho pelas fases mostra um alto desafio, principalmente se você escolhe jogar nos modos mais difíceis.

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Ciclo de gameplay

Inspirado em jogos jogos arcade, Huntdown ainda mantém alguns elementos daquela época. Os desenvolvedores utilizaram referências a jogos para Commodore como base para o que queriam neste game. Assim, ele tem uma estrutura bem fácil de entender, sendo que jogador precisa enfrentar as quatro gangues. Para isso, o caçador de recompensas vai atrás de inimigos importantes dentro das facções, eliminando-os para pegar informações que levam a outros oponentes até chegar ao líder da gangue.

Ao final de cada fase, o jogador precisa enfrentar um pequeno chefe. Esses inimigos têm rotinas interessantes e desafiadoras, que podem exigir duas ou três tentativas para serem eliminados. No final de cada fase, há uma pontuação de acordo com o seu desempenho, como nos antigos arcades.

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Ainda, em toda fase há três maletas coletáveis escondidas. Assim, vale sempre ficar ligado em portas que podem ser explodidas, ou plataformas mais elevadas. Além disso, os níveis têm um inimigo que tem de ser interceptado (entenda, morto) antes que fuja em um helicóptero. Caso você não pegue esses itens, não consegue os 100% no cenário.

Ideal para o Switch

As fases são bem curtas, tomando de cinco a dez minutos, a depender da habilidade do jogador. Isso faz de Huntdown um jogo perfeito para o Switch, com um gameplay bem mais parecido ao de jogos para plataformas mobile. Ou seja, é possível pegar o console da Nintendo e jogar uma ou duas fases no intervalo de outras tarefas, caso você não tenha muito tempo para jogar. O Canaltech também testou o game no PC, via Epic Game Store, e ele apresentou bom desempenho, mas sem a facilidade e conveniência do Switch.

Vale lembrar também que Huntdown tem um multiplayer local para até duas pessoas na mesma tela. Assim, como o Switch já vem com “dois controles” (os dois joy-cons separados), não há necessidade de ajustes para jogar com outra pessoa.

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Aqui, vale um relato pessoal: ouvi de amigos que a versão do console da Nintendo apresentava queda de quadros em alguns pontos. Contudo, não tive problemas jogando a versão no Switch, mesmo em fases com mais explosões.

Huntdown também é um game leve, o que significa que pode rodar na maioria dos computadores, mesmo sem uma configuração parruda.

Vale a pena? 

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Diante do exposto, Huntdown é uma excelente surpresa. Vindo de um estúdio estreante no mundo dos games, chega como um dos títulos mais bem polidos e pensados do gênero bullet hell.

Os desenvolvedores souberam muito bem balancear as referências aos anos 1980, incluindo a temática cyberpunk nos cenários e narrativa, sem que isso fique cansativo e bobo. Junto disso, inovaram bastante na proposta de adicionar elementos de combate como as armas brancas e itens que podem ser pegos do chão.

O jogo é vendido por uma média de R$ 70 nas principais lojas para PC (via Epic Games), Xbox One, PlayStation 4 e até mesmo no Switch. Um preço justíssimo para as cerca de 5 horas de jogatina em uma primeira zerada.

Huntdown foi desenvolvido pela Easy Trigger Games e publicado pela Coffe Stain. No Canaltech, esta análise foi feita com cópias para PC e Switch cedidas gentilmente pela publicadora.