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Review Horizon Forbidden West | Expandindo o mundo e a si mesma

Por| Editado por Bruna Penilhas | 14 de Fevereiro de 2022 às 05h05

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Divulgação/Guerrilla Games
Divulgação/Guerrilla Games

O final relativamente positivo de Horizon Zero Dawn foi apenas o começo de uma das maiores lutas da vida de Aloy, e aqui, não estamos falando apenas de seu combate contra as máquinas e a briga para reverter uma extinção em massa. Ao continuar a saga, reencontramos uma protagonista muito mais preparada e comprometida com sua missão, algo que surge, ao mesmo tempo, tanto como um sinal de capacidade quanto de uma obstinação que beira a barreira do saudável.

No início de Horizon Forbidden West, reencontramos a caçadora Nora ainda engajada em seus objetivos e, principalmente, sem tempo para descansar. A batalha em Meridiana, longe de ser uma salvação, se provou o início de uma saga ainda mais séria para ela, além de revelar a traição de quem julgava ser um de seus principais aliados. Aloy segue sozinha, abandonando até mesmo seus companheiros mais próximos e qualquer pensamento sobre o que ela realmente representa nesse mundo.

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Nessa continuação, a Guerrilla Games investe e amplia tudo aquilo que fez do primeiro game um sucesso. O mundo é maior e completamente novo, com máquinas adicionais e segredos para descobrir, assim como novas tribos, tradições e ruínas do velho mundo. Em cima dessa base sólida e já bem-sucedida, entretanto, está o verdadeiro combate, dentro da cabeça da protagonista, que abafa necessidades reais e até mesmo alianças para cumprir um objetivo que parece tão imposto quanto as próprias tradições das tribos que habitam o que sobrou da Terra.

Sem descanso para quem é especial

Ainda assim, ela segue, mas não sem quebrar alguns tabus pelo caminho. Antes do Oeste Proibido que dá título ao game, ela precisa enfrentar mais uma barreira de tradição. É neste momento em que o jogador vai conhecer algumas novas mecânicas de Horizon Forbidden West, revisitar um ambiente conhecido com novos visuais e relembrar os controles básicos, assim como os diferentes elementos, acessórios e bugigangas da heroína.

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As primeiras horas do novo game são apenas a ponta do iceberg e mesmo a entrada no Oeste Proibido leva algumas horas, diálogos com novos ou velhos personagens e missões para acontecer. Ao mesmo tempo que, no início, estamos impressionados com os gráficos repaginados do game (principalmente no PS5), surge aqui um sintoma narrativo que deve nos acompanhar durante toda a jornada: a sensação de que, às vezes, a Guerrilla Games está adiando as coisas.

Logicamente, estamos falando de um mundo aberto, daqueles que pode ocupar centenas de horas de sua vida caso você deseje explorar bem o universo e todas as atividades disponíveis. Elas são muitas, passando desde missões de caça, coleta de itens e escalada de Pescoções, até as já conhecidas até ruínas antigas, que ganham mais protagonismo e personalidade, Caldeirões que assumem uma nova forma ou simples conversas com NPC, que contam rumores traduzidos em informações sobre o ambiente.

Por outro lado, o próprio ímpeto de Aloy, motivado pela pressa diante da extinção iminente e certo ressentimento por uma missão mal cumprida no primeiro game, entra em conflito com as dinâmicas da própria narrativa. Não é raro que ela, junto com o jogador, sejam colocados em uma postura de esperar por uma decisão ou resolver um problema pontual antes de partirem novamente para o problema maior que, uma ou duas missões importantes depois, pode ser interrompido novamente por uma preocupação de menor escala.

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É uma graduação que pode ser interessante para alguns jogadores, e que sem dúvida contribui para a expansão deste mundo, mas depõe contra o senso de urgência que é impresso como forma de dar ainda mais seriedade a toda a situação, como se ela já não fosse grave o suficiente. Horizon Forbidden West acaba sendo um jogo para experimentar com calma e cuidado, ainda que o ensejo visto na tela nem sempre contribua para esse sentimento.

Um certo desbalanceamento também serve como incentivo paralelo para que o jogador desbrave o mundo e cumpra mais do que, apenas, a missão central e mais importante de Aloy. Assim como o antecessor, o novo game carrega traços fortes de um RPG, que se traduzem em um sistema de níveis e diferentes equipamentos, também com suas próprias graduações, melhorias e variações, que conversam diretamente com a dificuldade das missões e o nível dos combates que serão enfrentados.

Que eles serão muitos, não é novidade, mas nunca foram tão caóticos. A evolução no nível de detalhes do título, o conforto da Guerrilla com seu próprio motor gráfico e também seu principal título trouxeram a Horizon Forbidden West um nível ainda maior de profundidade nos combates, com a sensação de que cada elemento realmente faz diferença, enquanto um erro ou a falta de preparo pode colocar tudo a perder, principalmente nas dificuldades mais altas ou nos confrontos quase sempre caóticos, contra robôs diferentes em um mesmo local.

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Não se trata mais de elementos óbvios como usar a flecha elemental correta de acordo com a vulnerabilidade de um oponente ou ter a graduação adequada para a missão escolhida. Como tudo nesta continuação, as árvores de habilidades ficaram maiores, assim como as opções de armas disponíveis e até as vestes de Aloy, que ganham mais relevância tanto diante das missões em si quanto de acordo com o estilo de cada usuário. É o tipo de game que te deixa livre para criar e seguir, mas ao mesmo tempo, pode puxar seu tapete caso decida usar sempre a mesma tática.

Entram aqui as funcionalidades do controle DualSense, com um feedback tátil do peso de diferentes arcos e de estruturas com as quais Aloy pode interagir. Arrombar uma porta ou destruir uma parede carregam a resistência necessária, enquanto as vibrações e o retorno ajudam a criar uma memória muscular dos equipamentos disponíveis. Não é um uso impressionante, mas serve como outro elemento de imersão no título.

Assim como no passeio pelo mundo aberto, os combates do novo Horizon também convidam à exploração e às diferentes abordagens, que podem envolver diferentes disciplinas de furtividade e confronto direto, assim como o posicionamento de armadilhas e o uso combinado de armas. É preciso saber a hora de se afastar ou bater de frente, e com dezenas de criaturas mecânicas novas, incluindo diferentes variações, há muitos caminhos possíveis.

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Isso vale principalmente para os combates contra os chefes de fase e para as batalhas de arena, outra das tantas novidades de Horizon Forbidden West. Entre tempo limitado, combates com objetivos específicos ou simplesmente na luta contra criaturas gigantescas e poderosas, não é raro que o jogador se veja sem suprimentos ou tendo de mudar de estratégia ao vivo. Por isso, sempre é bom experimentar armas e possibilidades contra oponentes mais fracos ou simplesmente gastar um pouco de munição em áreas abertas para entender o arsenal; conhecimento é poder e estar ciente de tudo o que se tem em mãos é essencial.

Engrenagens míticas

Além dos gráficos e do nível de detalhes impressionante, de que falaremos a seguir, também chama a atenção o quanto os elementos de Horizon Forbidden West parecem se encaixar. Enquanto as dinâmicas do original aparecem aprimoradas, as novidades não são meras adições e, sim, partes de uma mecânica universal do game, que está sempre convidando o jogador a fazer mais, buscar recursos ou investigar o mundo.

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Claro, como todo game aberto, ele não foge de certas artificialidades, como punir o jogador com uma batalha difícil demais caso ele decida explorar mais longe do que deveria, indo contra os alertas dos aliados, ou o colocar em situações de alto gasto de recursos obrigatoriamente. Neste segundo caso, novamente, se trata de um reflexo do andamento nem sempre dinâmico da história.

Horizon Forbidden West traz opções de níveis de dificuldade que dialogam com o já citado desafio. Quem preferir uma experiência mais focada no combate pode elevar a barra, enquanto aqueles que desejam explorar e seguir a história podem optar por um desafio mais baixo; da mesma forma, opções de interface podem fazer aparecer ou sumir com os indicadores na tela, entregando experiências mais guiadas ou focadas na exploração.

Às vezes, as circunstâncias podem parecer um pouco confusas e avassaladoras, e o jogador vai ser ver inserido em uma situação da qual não consegue sair, sem saber exatamente qual o atributo que está colocando tudo a perder. Por outro lado, são tantos elementos envolvidos que há espaço até mesmo para um pouco de sorte, desde que, como dito, você não insista sempre nas mesmas estratégias caso perceba que elas não estão dando certo.

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Fora das missões centrais, há amplo espaço para evolução, recompensando os jogadores que decidirem investir no mundo. Um jogo de tabuleiro concede itens especiais, enquanto uma dinâmica de receitas de alimentos pode trazer vantagens temporárias durante os combates; e no meio disso tudo, claro, o jogador está sempre coletando recursos que podem ser usados em outros upgrades, além de conhecer personagens e histórias que ajudam a engrandecer o mundo.

Muito para ver

Entre todas as pequenas e grandes novidades de Horizon Forbidden West, é o conjunto gráfico que, acima de tudo, chama a atenção. Não apenas temos aqui um game dos mais belos, mas também um avanço significativo em relação ao primeiro, que já era bem bonito por si só. E isso vale, inclusive, para a versão PlayStation 4 da sequência, mesmo rodando na versão mais básica do console.

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Os limites da plataforma são visíveis e, claro, os olhos mais atentos notarão diferenças na distância que é possível enxergar, quedas na taxa de quadros por segundo ou até alguns pequenos problemas no carregamento de texturas. Por outro lado, impressiona o trabalho da Guerrilla com a plataforma, entregando um resultado ainda mais bonito que o seu antecessor.

Além da direção artística absurda, o investimento está nos detalhes. Há sempre pólen, vapor, fumaça e outros elementos convivendo nos cenários, com a maioria deles servindo não só como estética, mas também como indicadores do que está acontecendo. A presença maior de uma praga vermelha que está destruindo a biosfera, por exemplo, é o indicador de áreas um pouco mais inóspitas, enquanto nevascas, tempestades de areia e redemoinhos podem surgir de forma dinâmica durante as viagens, dificultando a visibilidade ou servindo de motivador natural para um ataque furtivo.

Por outro lado, tantos elementos lançam dúvidas sobre outro aspecto inédito da jogabilidade, com Aloy agora sendo capaz de escalar mais áreas do que apenas as indicadas em amarelo. Há tanta coisa no cenário que, muitas vezes, entender onde ela pode se agarrar ou não vira um jogo de tentativa e erro — felizmente, há uma configuração que permite ao Foco, dispositivo usado por ela, indicar de forma sutil esse tipo de superfície, facilitando a exploração.

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Com isso, Horizon Forbidden West dá mais ênfase à verticalidade, tanto nas áreas externas quanto internas. Um planador ao melhor estilo Breath of the Wild permite que a protagonista vença distâncias pelo ar ou alcance plataformas, enquanto o gancho serve tanto para escalar estruturas quanto abrir caminhos pelos destroços. Novamente, caso o olho do jogador não consiga enxergar tais pontos diante da riqueza de detalhes do game, o Foco sempre estará lá, ao toque de um botão, para ajudar.

Também no rol das opções a serem desativadas está um incômodo desfoque de movimento que é aplicado, principalmente, quando usamos uma montaria. Nestes momentos, a câmera se aproxima demais da personagem, o que pode dificultar a movimentação, enquanto tal aspecto dificulta ainda mais a visualização do caminho. Desligar o recurso, entretanto, mostra porque ele está ali, escondendo alguns problemas na taxa de quadros por segundo e renderização que aparecem mesmo no PS5.

Este é, entretanto, um dos poucos problemas visuais de um título bastante apurado graficamente. Como dito, a Guerrilla Games mostra mais conforto e experiência com sua engine proprietária para entregar um espetáculo ainda maior de visual, aprimorando as bases sólidas do game anterior que também permitiram a adição de elementos que vínhamos falando até aqui.

Mergulho

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As fases aquáticas estão presentes e, enquanto não são geniais a ponto de servirem como exemplo de quebra da maldição sobre esse tipo de elemento nos games, servem como um refresco interessante, com o perdão do trocadilho. Nadar com Aloy é simples e direto, ainda que ela não possa combater e o game traga poucos elementos para se explorar em tais momentos. Trata-se de uma mecânica bem objetiva, mas usada com qualidade.

Não vamos falar muitos detalhes da história já que Horizon Forbidden West deve ser experimentado diretamente, mas o maior exemplo do bom uso das aulas de natação da protagonista aparece no segundo arco do título. Quem se encanta pela história desse mundo com certeza não vai se esquecer dos mergulhos pelas ruínas iluminadas de uma Las Vegas futurista, um dos tantos cenários conhecidos que nos enchem de curiosidade ao longo da aventura.

Em meio a isso, também se desenrola uma trama que se prova ser bem maior do que a já gigantesca cadeia de eventos apresentada em Zero Dawn. Enquanto Aloy luta para combater uma extinção em massa e completar a agenda de Sobeck centenas de anos no futuro, elementos desse mesmo passado retornam não apenas para tentar impedir sua ação, mas também fazer com que ela questione o próprio papel nisso tudo.

Horizon Forbidden West vale a pena?

O confronto entre a tradição e a tecnologia aparece mais forte do que nunca — conflito, aliás, é uma boa palavra-chave para resumir toda a trama de Horizon Forbidden West. Aloy está batendo de frente com as máquinas, com novos e velhos oponentes, antigos aliados, amigos de sempre e, principalmente, com ela mesma e seu ímpeto de concluir uma jornada que, se pararmos para pensar bem, foi dada a ela por circunstâncias acima de seu próprio controle.

Incomoda, sim, a quebra no senso de urgência que é tão presente na personagem, enquanto o game, em si, coloca à nossa frente missões obrigatórias que parecem não contribuir tanto assim para o andamento geral. Entre elementos e resoluções que levam mais tempo do que deveriam ou certas barrigas em missões principais que, às vezes, poderiam ser mais curtas, estamos diante de um game com no mínimo algumas dezenas de horas para ser completado e que pode ultrapassar facilmente a centena caso o jogador esteja engajado.

A beleza visual é um dos grandes destaques aqui, e também o que mais salta aos olhos, mas esta é apenas a superfície do que o título tem para oferecer. Jogar no PS5 mostra um pouco do que o hardware de nova geração é capaz de fazer, tornando um mundo que já era belo em algo magnífico, enquanto quem ainda estiver no PlayStation 4 poderá aproveitar a íntegra da experiência, ainda que com limitações visíveis. Tem um pouco para todos aqui.

Escolha você jogar de maneira objetiva, ter uma experiência casual ou mergulhar fundo neste planeta devastado, mas habitado por muita vida, Horizon Forbidden West sempre tem algo a oferecer. E ao fazer isso, entrega uma qualidade absoluta e um primor visual como poucos games do mercado atual, em um universo onde nada é fácil demais nem dado de bandeja. Você pode escolher o nível do seu envolvimento, mas não existem dúvidas de que será, sim, capturado por tudo o que está adiante e também no passado distante.

Horizon: Forbidden West está disponível para PlayStation 4 e PlayStation 5, com upgrade gratuito para o console de nova geração. No Canaltech, o game foi analisado na versão PS5, em cópia digital gentilmente cedida pela Sony.