Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Análise | Sony WH-1000XM4, o fone mais poderoso que já testamos no CT

Por| 24 de Agosto de 2020 às 08h00

Link copiado!

Luciana Zaramela/Canaltech
Luciana Zaramela/Canaltech
Sony WH-1000XM4

Ora, ora, ora... e não é que a Sony lançou neste ano o sucessor do seu tão bem conceituado fone de ouvido premium de 2018? Estamos falando do WH-1000XM4, modelo de ponta da companhia japonesa que, mesmo em meio a uma pandemia, conseguiu seu lugar de lançamento (talvez o mais importante e aguardado da categoria em 2020) e chegará muito em breve ao mercado nacional.

Robusto, com design semelhante ao do irmão mais velho, porém com acabamento melhorado, alguns detalhes fazendo a diferença no visual e uma série de upgrades internos, o M4 é o segundo modelo circumaural Hi-Res da empresa a desembarcar no país, traz Alexa embutida e tem uma série de atributos que o fazem competir pesado com nomes no topo da concorrência, como o Bose 700 e o Beats Studio3.

Com as já conhecidas (porém incrementadas) tecnologias de cancelamento de ruído, além do novo recurso 360 Reality Audio, ser totalmente sem fios (porém com opção cabeada) e trazer um conforto primoroso, já adiantamos este review com um spoiler: o M4 conseguiu melhorar o que o XM3 já tinha de excelente e se tornou o melhor fone do segmento, dentro do mercado atual. Vamos conhecer o brinquedo mais a fundo!

Continua após a publicidade

Design & Ergonomia

À primeira vista, assim que a gente "bate o olho" no M4, temos a impressão de que a Sony não focou muito em mudar o visual do modelo em relação ao XM3. Mas com uma análise mais detalhada, a gente nota, sim, alguns detalhes novos, principalmente quando colocamos as mãos no headphone.

O primeiro upgrade é na textura: agora o M4 tem um acabamento estilo matte (fosco) "emborrachado" nas conchas e no arco, bem mais confortável ao tato, que deixa de lado aquele "feeling" plástico do modelo anterior. Isso dá a impressão de que o modelo seja mais premium que o irmão mais velho, por assim dizer, já que a textura empregada aqui lembra o acabamento siliconado das capinhas dos iPhones. Isso, além de melhorar a pegada e o "look-and-feel" que temos do modelo, também nos passa mais confiança no quesito durabilidade. Além, claro, de deixá-lo mais bonito. O Canaltech recebeu o M4 na cor preta com detalhes em bronze — o que é muito elegante, por sinal.

Continua após a publicidade

O arco foi reprojetado e agora está mais delicado, levemente mais fino, o que impacta diretamente o conforto durante o uso. E não é só o arco: a espessura geral das conchas também foi reduzida, e o aparelho está com emendas mais rentes, com espaçamentos mínimos entre as articulações. Apesar de trazer drivers do mesmo tamanho do modelo anterior (40 mm de cada lado), as conchas se apresentam ligeiramente maiores em circunferência. Aliás, dentro da concha esquerda você percebe que há um sensor instalado em um ducto, sobre o qual falaremos adiante.

Quanto à questão da ergonomia e do conforto, a primeira impressão que tivemos foi de clara melhora. Os fones abraçam a cabeça com delicadeza, não apertam as orelhas, não pressionam e nem machucam o topo do crânio após longos períodos de uso. Esquentam as orelhas? Sim, esquentam, como todo fone over-ear fechado tem o costume de fazer. Mas a leveza do modelo (254 gramas) e o material acolchoado de primeira são a chave para o conforto, enquanto a excelente adaptação das conchas, mesmo para quem usa óculos, torna o cancelamento de ruído da Sony ideal e (mais um spoiler) ainda melhor que no modelo anterior. Até o case de transporte foi melhorado, ficou mais refinado e bonitinho.

Continua após a publicidade


Bateria

Com um fone over-ear, as empresas conseguem incrementar suas capacidades de bateria porque existe espaço para acomodar os componentes eletrônicos no interior das conchas. A Sony segue firme no quesito durabilidade de bateria, com tempo de reprodução que, segundo ela, dura 30 horas — mas nos nossos testes ultrapassou essa marca por três horas ou mais, talvez por não exigirmos demais do volume e não usarmos cancelamento de ruído o tempo todo.

O legal aqui é que essas 30 horas já são com o ANC (cancelamento ativo de ruído) ativo. Sem o recurso, o fone pode facilmente ultrapassar 35 horas de reprodução.

Cabeado, aliás, o fone trabalha no modo passivo, isto é, não consome bateria. Ponto de novo para a Sony, já que alguns modelos de fones topo de linha no mercado exigem que o headset esteja ligado para funcionar cabeado.

Continua após a publicidade


Conectividade

O novo over-ear da Sony traz conectividade Bluetooth 5.0 e possui duas entradas: uma USB-C para carregamento (apenas, não suportando áudio nessa porta), e outra P2 para opção de áudio cabeado (ou analógico) — o que, na nossa opinião, é essencial, por uma série de motivos que vão desde a emergência (se acabar a bateria no meio de um voo longo, por exemplo, você pode "espetar" o fone no painel do avião) à comodidade de se ter um fone analógico em casa (para ouvir seus discos de vinil ou usá-lo com qualquer equipamento mais antigo, sem Bluetooth) e não gastar bateria.

Nesse caso, o pré-amplificador do fone fica desligado e o que você ouve é um outro perfil sonoro, totalmente passivo, que discutiremos daqui a pouco.

Além disso, o M4 traz conectividade NFC e consegue se conectar com dois aparelhos simultaneamente via Bluetooth, como smartphone e PC, por exemplo.

Continua após a publicidade

Já com Alexa incluída de fábrica, outra boa novidade dos produtos da linha 2020 da Sony, você pode facilitar suas tarefas do dia a dia perguntando coisas para a assistente pessoal da Amazon. Prefere Google Assistente ou Siri? Sem problemas, o fone é compatível com eles também (sendo a Siri apenas através do smartphone).


Comandos e recursos inteligentes

Quando a gente analisou aqui no Canaltech o modelo anterior, o WH-1000XM3, deixamos nossa sincera opinião sobre os controles do fone, que não eram tão responsivos ao toque quanto gostaríamos. E essa queixa também não é só nossa: o consenso na mídia especializada fez com que a Sony incrementasse a superfície de comando do M4. Claro que, aqui no Brasil, não conseguimos simular um ambiente de testes em um frio abaixo de zero, mas podemos afirmar que a resposta ao toque está, agora, muito mais rápida e também teve sua precisão melhorada.

Na concha esquerda, temos dois botões físicos: Power e Custom (que você pode mapear no aplicativo para ativar o cancelamento de ruído, ou ativar a assistente pessoal). Na direita, temos os controles táteis bem na superfície externa da concha. O esquema é idêntico ao do M3, em que você desliza o dedo para cima ou para baixo (para aumentar ou diminuir o volume), para a direita ou para esquerda (avançar e retroceder faixas) e aplica duplo toque para pausar/reproduzir ou atender/recusar chamadas.

Continua após a publicidade

Ao tapar a concha direita com a mão, você ativa o modo Quick Attention — que reduz o volume da música para você conversar com alguém rapidinho. Se pressionar por mais tempo o centro da concha, você vai ativar o assistente digital (Alexa, Google Assistente, Siri). Como já é de praxe em superfícies com comandos "ocultos", pode levar um tempinho até você pegar o jeito de usá-los sem errar.

Por falar em comandos de voz, pelo app Headphones Connect, você pode configurar como quer que eles funcionem: o M4 pode parar de tocar música automaticamente assim que você começa a falar, por exemplo.

Essa é um coisa legal que a Sony integrou ao novo modelo: a funcionalidade "Speak-to-Chat". Basicamente, funciona assim: se você estiver com o fone, ouvindo música, e precisar falar com alguém, basta… falar. O fone vai reconhecer sua voz, pausar o áudio automaticamente para deixar você conversar sem precisar tirá-lo da cabeça, nem colocar a mão sobre a concha direita. Basta ativar o recurso ao colocar dois dedos sobre a concha direita (e desativar depois que terminar de falar ou configurar um tempo predeterminado no app, caso queira).

Continua após a publicidade

Aqui nos testes do Canaltech, isso funcionou muitíssimo bem, porque além de pausar a música, mesmo que você esteja com o cancelamento de ruído no máximo, o fone vai ativar a passagem de ruídos ambientes para que você possa ouvir tudo ao redor, tudo mesmo.

Em até dois dias, a inteligência artificial do M4 vai se familiarizar para reconhecer a voz do "dono". Além dessa tecnologia, outras merecem destaque: o sensor que fica no interior da concha esquerda serve para que o fone entenda quando está em uso, ou seja, na cabeça do usuário. Além dele, sensores de movimento, pressão e acelerômetros detectam quando você está andando ou parado, e assim criam o nível mais adequado de cancelamento de ruído — automaticamente.

Notamos uma pequena falha: ao tirar o fone da cabeça e deixá-lo no pescoço, o sensor não captou que demos uma trégua e a música continuou tocando.

Microfones e ligações telefônicas

Continua após a publicidade

Talvez seja impressão, já que o número de microfones do M4 é o mesmo do XM3 e provavelmente os componentes também sejam… mas, aparentemente, a qualidade de áudio nas conversas (seja por telefone, videoconferência ou VOIP) melhorou para quem te escuta. O que temos de oficial aqui é que a Sony deu uma "pimpada" na tecnologia de processamento de sinal sonoro, que capta a sua voz (e os ruídos ambientes para ativar o ANC), a fim de gerar conversas livres de interferências e com áudio cristalino.

Não sabemos ao certo quantos microfones a Sony empregou na anatomia interna de seu novo headphone, dado que o material de divulgação da empresa cita apenas a expressão "múltiplos microfones". Seja para funcionar nas chamadas e gravações de áudio no WhatsApp ou Telegram, por exemplo, ou para ajudar no cancelamento ativo de ruído, os múltiplos microfones funcionam muitíssimo bem.

Testamos o M4 em ligações e gravando áudios em aplicativos, e ele foi elogiado por todos os interlocutores no quesito clareza de voz. Com o cancelamento de ruído ligado, o barulho de uma motosserra que estava ao fundo em um dos testes foi filtrado e, do lado de lá da "linha", o interlocutor pensou que estivesse havendo algum chiado. Reduzir uma serra cortando galhos de árvores a apenas um chiado, na nossa opinião, é uma vantagem incrível que mostra o poder dos microfones ao filtrar ruídos externos. Foi possível realizar um call inteirinho a pouco mais de 10 metros da tal motosserra.


Aplicativo Headphones Connect

Continua após a publicidade

Disponível para Android e iOS, o Headphones Connect é o aplicativo da Sony que vai controlar seu fone, seja em questão de cancelamento de ruído, de som ou mesmo de atualização de firmware. São muitas possibilidades que o app traz para o usuário, divididas em três abas: Status, Som e Sistema.

Lá você comanda o Controle de Som Adaptativo do fone (que muda quando você está andando, sentado ou em ambiente movimentado, para ajustar o melhor nível de cancelamento de ruído naquele momento), pausa, reproduz e muda de faixa, com total integração com o app de streaming que você usa, controla o nível de cancelamento de ruído (do mínimo ao máximo), ativa algumas funcionalidades (como falar para bater papo), configura o 360 Reality Audio, determina a qualidade do som e, o melhor, equaliza suas músicas com presets ou manualmente. Você pode fazer tudo isso manualmente ou configurar a inteligência do fone para se adaptar automaticamente aos movimentos que você faz no dia a dia.

O Speak-to-Chat também é controlado pelo aplicativo. Você pode ativar a função e determinar por quanto tempo ela vai ficar ativa — de 15 segundos a um minuto.

Continua após a publicidade


Cancelamento ativo de ruído

A Sony nem pensa duas vezes antes de falar: o M4 traz o melhor cancelamento de ruído do mercado atual. Se você achava o do M3 bom o suficiente, o do modelo atual, claro, recebeu melhorias para justificar o upgrade, caso o usuário faça questão.

Ao ativar o Noise Cancelling do M4, você pode determinar o nível desejado pelo aplicativo: se quer uma imersão relativa ou total na sua bolha sonora. Com o ANC no máximo, o fone consegue filtrar tão bem o ambiente que praticamente nada interfere na sua música. O foco da tecnologia é filtrar médias e altas frequências, como os típicos barulhos de escritórios, aeroportos, aviões e locais movimentados. Mas nos nossos testes, o M4 também segurou muitíssimo bem a barra dos ruídos graves, como motores de ônibus nas ruas e até o ensaio de uma banda em estúdio, em volume moderado. Pouco, mas muito pouco mesmo do contrabaixo passou pelo filtro. Ruídos comuns como cães latindo, gente conversando, criança gritando, rua com muito movimento de veículos nem ousam passar pelo ANC quando estiver setado no máximo.

O ensaio da banda em home studio, aliás, foi a situação máxima a que expusemos os fones: dada a condição atual de pandemia, não conseguimos fazer tantos testes quanto gostaríamos, e partimos então para as simulações: em uma sala de 25 m2 com guitarra, contrabaixo, bateria eletrônica, voz e teclado, ensaiando a um volume médio, o WH-1000XM4 conseguiu, com seu cancelamento de ruído no nível máximo, bloquear quase 100% do contrabaixo e das médias e altas frequências, criando uma bolha de isolamento ainda melhor que a do XM3.

Se você precisa se concentrar enquanto trabalha (seja em home office ou na empresa, mesmo), o investimento vale a pena. Você vai ficar imerso no seu mundo como nunca! E sim, concordamos: até agora, o WH-1000XM4 possui o melhor cancelamento ativo de ruído de todos os fones que já passaram pelo Canaltech. Segundo a Sony, a tecnologia é líder no setor.

E em tempo: o chip HD QN1 segue cumprindo seu papel, e é ele o cérebro do headphone, controlando conectividade, qualidade sonora, controle adaptativo, e, claro, cancelamento de ruído, o que faz do M4 um brinquedo para lá de inteligente.


Áudio

Apesar de o M4 ter os mesmos drivers do M3, qual seria o propósito da empresa japonesa lançar um fone com perfil sonoro idêntico ao irmão mais velho? A resposta está no poder de processamento, que foi onde rolou o upgrade, aqui. Com um "cérebro" mais refinado, o impacto na qualidade de áudio é direto, apesar de discretamente melhorado em relação ao fone de 2018.

O que queremos dizer com isso é que a assinatura sonora da Sony persiste: graves encorpados e profundos, definição bem bacana de médios e, principalmente, de agudos — o que fazem do modelo ser premium, além de todas as outras tecnologias que ele traz. O palco sonoro é bacana, ainda mais pelo fato do M4 suportar a nova tecnologia 360 Reality Audio (que merece um tópico só para ela dentro deste review)... isso faz do M4 uma excelente escolha para ouvidos exigentes, que buscam um som dinâmico, impactante e com presença.

Sobre codecs: no M4 a Sony "matou" o aptX e o aptX HD, da Qualcomm, compensando sua ausência com a tecnologia própria da marca: LDAC. É ela que permite ao M4 fazer streaming de áudio de alta qualidade no modo sem fio — incluindo smartphones com Android 8.0 ou superior. O fone conta, atualmente, com os codecs AAC e SBC, além do próprio LDAC.

Para gerar upscale na qualidade de áudio, a Sony depende da tecnologia DSEE Extreme, que inclusive foi melhorada em relação ao que o M3 entregava. Em um breve tecniquês: essa engine transforma o áudio comprimido dos serviços de streaming em algo o mais próximo possível de um som de alta fidelidade, graças a uma inteligência artificial que faz todo o processo. A engine analisa a música que está sendo reproduzida em tempo real (sinal de 32 bits) para fazer o upscale via DAC + amplificador embutidos no fone, e o resultado é bem interessante, fazendo o possível para deixar a faixa do streaming mais próxima dos famigerados 44100 Hz (qualidade de CD), mas ainda assim, com compressão, obviamente.

Antes de questionarmos a ausência do APTX HD, vale informar que a taxa de transferência do codec LDAC pode chegar a 990 kbps — contra um máximo de 576 kbps do APTX HD. O LDAC suporta faixas com amostragem de até 96 kHz, enquanto o APTX HD suporta até 48 kHZ. Trocando em miúdos: é um upgrade, mas que não contempla smartphones Android mais antigos, por exemplo.


WH-1000XM4 à prova

Ditas todas essas considerações, vamos ao que mais interessa: o som! Como de costume, a gente usa algumas canções para dar exemplo de graves, médios e agudos. Para este review, utilizamos o Deezer Hi-Fi para streaming de músicas. Então, vamos lá:


Graves

A assinatura sonora da Sony não deixa nada a desejar no quesito baixas frequências, captando e entregando bem a região dos 20 Hz aos 200 Hz. O fone tem punch e profundidade suficientes para agradar quem gosta de batidas modernosas, música eletrônica e afins, mas também é inteligente o suficiente para não embolar os graves nas frequências médio-graves.

Em Chicken Soup (Skrillex, Habstrakt), os graves e subgraves chegam a baforar nos ouvidos, deixam até a gente meio tonta. Brincadeiras à parte, dá para imaginar o quanto os drivers dinâmicos pulam dentro das conchas, os fones literalmente tremem, mas o que é bom: sem saturar. E se você quiser que o pancadão seja mais intenso, é só usar o equalizador via aplicativo e causar destruição: o fone vai aguentar o tranco. Quem curte drum & bass pode usar o preset "Aumento do baixo" no app para empurrar mais ainda as batidas.

Para pegar a dinâmica do contrabaixo propriamente dito, o M4 também é bom de serviço. Vamos usar de exemplo o tema Detroit, do baixista Marcus Miller, que passeia pelas escalas do instrumento e vai do "gravão" cheio às frases melodiosas mais médias e brilhantes. O resultado é bem equilibrado com os demais instrumentos (algo bem requerido em temas de jazz/fusion/funk pelos ouvintes), não sobrepõe os teclados e os bumbos e chega com bastante presença e impacto aos ouvidos. Muito bacana poder, além de tudo, contar com o equalizador para deixar a música do jeito que você gosta de ouvir.


Médios

A gama média do M4 também é muito interessante e dá uma liga boa nas músicas, apesar de o perfil sonoro do fone apresentar médios recuados — o que, atualmente, é uma exigência do público mais jovem, de modo geral.

Para dar exemplo aqui, uma música bacana é Graceland, do Paul Simon. Apesar do baixo chamar mais a atenção até mesmo do que a voz do próprio Simon, a trilha toda é recheada de recursos que exploram os médios. A voz de Paul Simon soa bem clara e presente, tal como os fraseados de guitarra meio country, os backing vocals e até os bongôs africanos, preenchendo bem sem "abocanhar" graves ou agudos. O próprio contrabaixo nessa faixa é bastante médio, e chega bem legal aos ouvidos, com excelente equilíbrio.

Chegando no Brasil dos anos 1980, vamos de Paralamas do Sucesso com Vital e Sua Moto, uma velha conhecida dos brasileiros e que explora muito bem o espectro de médios com a voz de Vianna cheia de reverb, guitarrinhas repletas de chorus, solos e uma masterização bem oitentista. Tudo isso chega com tudo aos ouvidos pelo M4, e com uma excelente clareza. Graves a agudos têm, claro, seu lugar ao sol, e a receita disso tudo é bem legal aos ouvidos. Um ponto legal: você ouve claramente os backing vocals femininos nessa trilha, bem como os efeitinhos de sintetizador ao final da música. Viva os médios bem colocados!


Agudos

Dispensa dizer que análises de equipamentos de som são personalíssimas, pois cada ouvido é único — mas a impressão mais clara que tivemos do M4 foi seu incremento na região de agudos. A riqueza de detalhes deixa à flor da pele a sutileza de All of Me, da Chaka Khan. Tanto a voz da cantora, que se sobressai em meio ao cool jazz muitíssimo bem executado ao lado de ícones como Stanley Clarke no rabecão, Chick Corea no piano, Freddie Hubbard no trompete, Joe Henderson no sax e Lenny White na bateria. Num time desses, o destaque é de todo mundo, e no M4 é fácil perceber isso. Os agudos são precisos, responsivos, rápidos e pungentes — ainda mais quando Khan estoura o gogó alcançando as notas mais altas após o solo de piano. O brilho do piano, aliás, não é ofuscado pelo trompete mudo nem quando ambos fraseiam ao mesmo tempo. E os chimbais têm uma presença essencial. Em uma música na qual tantos instrumentos agudos tocam ao mesmo tempo, não há competição pelo espectro: o M4 divide e escalona cada um deles com muita maestria. Nítido ao ponto de satisfazer até os ouvidos mais exigentes, mas que buscam um fone sem fio: você consegue escutar o ar passando pela palheta do sax tenor de Henderson durante o solo, mesmo na presença da condução sempre cirúrgica de White.

Em Chovendo na Roseira, na versão de Elis Regina com participação de Tom Jobim, também temos um cenário parecido: a voz sempre atual e poderosíssima de Elis à frente de notas agudas de piano e flauta e uma bateria jazz-bossa bem calminha, com uma base de violão delicada ao fundo. O peso do rabecão contrasta muito bem com a cadência das flautas e das cordas. Hora nenhuma, aliás, você sente falta de impacto ou presença dos instrumentos agudos — desde o piano triste e o violão de Tom, à impactante e arrebatadora voz de Elis, com todos os detalhes que lhes foram carcaterísticos. O legal é que, nessa música, arranjada por César Camargo Mariano, temos umas bases de piano elétrico, que apesar de médias, aparecem bem nítidas no M4. Uma delícia prestar atenção nestes detalhes. No mesmo disco, a clássica Águas de Março mostrou que a Sony se preocupou tanto com agudos que você ouve a respiração curta de Jobim após cada término de verso que ele canta. E ouve também os fôlegos que Regina tomava antes de iniciar uma longa estrofe. São detalhes como esses que se perdem no áudio de streaming, já que as frequências altas como a da passagem do ar são simplesmente decapitadas no processo de compressão. Sensacional a capacidade da tecnologia DSEE, aqui — lembrando que o Deezer Hi-Fi utiliza arquivos FLAC para streaming.


Áudio cabeado

É sempre uma alegria ver que um fone moderno tem entrada para cabo P2. Por N motivos: você pode preferir usar o fone com o cabo porque gostou mais do som no modo passivo, ou então tem equipamentos antigos/que não têm Bluetooth e vai poder usar o M4 sem problemas, ou ainda terá um plano B caso sofra com falta de bateria.

Testamos a ligação cabeada do M4 em um receiver com toca-discos dos anos 1980 e na placa de áudio do computador. O cabo em si é feito de material bastante flexível e ranhurado para evitar quebras, conferindo mais resistência que um cabinho comum. Os conectores são banhados a ouro — mas se quiser usar o fone no modo cabeado para falar ao telefone, esqueça. Ele fica 100% passivo e funciona sem bateria, portanto nenhum componente ativo (como microfones e pré-amplificadores ou DAC) estará ligado — e isso modifica o áudio, em relação ao que o fone entrega no Bluetooth, claro.

Geralmente, com o poder do processamento ativo de áudio, você tem como resultado uma música com mais ganho e graves mais encorpados, além de todos os outros recursos, como cancelamento ativo de ruído, codecs e tecnologia DSEE.

No cabo, o M4 se transforma em um fone mais flat, equilibrado, mas ainda assim bem bacana. Os graves perdem corpo, os médios chegam um pouco mais à frente, os agudos ficam mais discretos e, claro, o fone perde o nível de detalhamento processado pelo chip HD QN1. "Nossa, mas então o fone fica ruim?" Claro que não, ele só fica… diferente. Menos encorpado, com menos ganho. Mas ainda assim, com a assinatura sonora de um Sony, obviamente. Pode ficar tranquilo se você tem interesse em usá-lo cabeado para ouvir seus discos ou plugá-lo na sua placa de áudio.

Cerejinha do bolo, aqui: não é porque você quer usar o fone cabeado que você, obrigatoriamente, vai perder toda a inteligência de processamento do fone. Se você cabear com o fone ligado, shazam! A mágica acontece e você vai conseguir ouvir música com tecnologia lá em cima — e qualidade também. Fizemos o teste ouvindo CD em um aparelho de som e espetando o fone na placa de áudio do home studio. Funcionou! Claro que sem suporte algum aos comandos táteis, já que pelo cabo, passa só áudio mesmo — que é processado internamente.


360 Reality Audio

Essa tecnologia suportada pelos fones mais novos e de topo de linha da Sony tirou o lugar do surround, no aplicativo Headphones Connect para trazer um novo conceito de áudio intimista e realista ao ouvinte: a tecnologia ransforma uma gravação digital e comprimida de streaming em uma experiência que chega a lembrar o conceito de captação binaural, ou seja, traz aquela noção espacial ao ouvinte, porém, com mais "canais". É como se, ao redor da sua cabeça, você ouvisse cada instrumento posicionado em uma altura e a uma distância diferente de você. Igual em um palco de um pub, por exemplo. Isso dá a impressão de campo mais aberto, traduzindo a intenção dos artistas. É como se a música ficasse circulando ao seu redor.

Os engenheiros da Sony tiveram o trabalho de "separar" trilha a trilha das gravações já existentes para disponibilizá-las no formato 360. Ou, em casos mais recentes, mudaram a maneira de captação, edição, mixagem e masterização, gerando discos e músicas novas já dentro do novo conceito de áudio — que, aliás, já deixou de ser conceito e está rolando em grandes serviços de streaming (aqui nesta análise usamos o Deezer 360, a que você tem acesso pela assinatura do Deezer Hi-Fi — mas o TIDAL e o nugs.net também suportam o 360 RA).

Para funcionar, você precisa fazer algo inusitado: tirar fotos das suas orelhas com o aplicativo da Sony. Sim: o app vai analisar o formato delas e trazer a melhor qualidade possível com base nessa anatomia. Desde que fizemos o review do 360 até agora, novas músicas foram incorporadas às plataformas de streaming, e a tendência é que isso só aumente.

Por exemplo: em Take Five, do Dave Brubreck Quartet, gravada em 1959, temos um banho de modernidade que simula um ambiente real de captação e traz para dentro da sua cabeça: a impressão que dá é de estarmos dentro do estúdio onde a banda tocou — e você ali no meio. É legal ouvir o ruído do sopro a cada nota, sentir a bateria crescer com uma ambiência incrível a partir dos 2:13 de música (com um reverb digno de palco pequeno), o roncar das cordas do rabecão durante o solo da bateria (quando o baixista nitidamente se empolga), que dá mais tensão à música e aparece à frente com um nível muito bom de detalhamento. Agora imagina tudo isso "espalhado", como se fosse uma experiência ao vivo. Imaginou? É algo próximo disso que o 360 RA quer trazer nos fones mais parrudos da Sony.

O que vem na caixa

  • WH-1000XM4
  • Cabo USB-C para carregamento
  • Cabo P2 para conexão passiva
  • Adaptador para avião (conversor)
  • Case de transporte
  • Manuais

Especificações

  • Driver: 40 mm, tipo dome (bobina de voz CCAW)
  • Tecnologia DSEE HX: Sim
  • Resposta de frequência (analógica): 4 Hz-40.000 Hz
  • Resposta de frequência (Bluetooth( 20 Hz - 20.000 Hz (amostragem de 44,1 kHz)/20 Hz - 40.000 Hz (amostragem LDAC 96 kHz, 990 kbps)
  • Resposta de frequência (operação ativa) 4 Hz-40.000 Hz
  • Operação passiva: sim
  • NFC: sim
  • Cabo de headphone: aproximadamente 1,2 m, fios OFC, miniplug estéreo banhado a ouro


Preço e onde comprar

Atualmente, o WH-1000XM4 está em pré-venda pelo site oficial da Sony, disponível nas cores preta e prata aqui no Brasil, pelo valor de R$ 2.249,99. No e-commerce nacional, já é possível encontrar alguns exemplares, à venda por cerca de R$ 2.600.


Veredicto: o melhor fone da categoria

De maneira geral, o upgrade que a Sony deu no M4 foi bem interessante. Particularmente, a qualidade sonora de um fone Hi-Res pesa mais na decisão de compra do que o nível do cancelamento de ruído. Mas o cancelamento, como sabemos, é o fator decisório para grande parte do público que está de olho no WH-1000XM4 — e ele é realmente incrível, melhor ainda que do modelo anterior. Justifica o upgrade? Ainda é cedo para dizer, pois nos falta um comparativo para traçar um páreo, mas arriscamos um palpite de que, ainda, se for apenas por esse motivo, o XM3 (que já saiu de linha) consegue se manter por muuuito tempo.

Apesar dos serviços de streaming estarem longe ainda de oferecer um som ideal próximo ao que ouvimos em mídias físicas como o CD ou até mesmo o vinil, o upscaling que a tecnologia DSEE da Sony dá nessas músicas dá realmente uma sensação de fidelidade alta. É tudo na base dos chips e processadores de áudio, claro, até porque o nível de compressão de arquivos de streaming (sejam FLAC ou qualquer outro tipo de áudio) precisa ser alto, senão ninguém ia conseguir escutar música no celular com uma conexão 4G sem derreter o plano de dados rapidinho.

O áudio é bem bacana: graves encorpados, bem definidos e super redondos. Médios no lugar, embora levemente recuados. Agudos… de parabéns! Seja no áudio tradicional dos serviços de streaming, seja no cabeado ou ainda no 360 Reality Audio (muito embora sofra com a pouca quantidade de títulos disponíveis, mas é questão de tempo), o WH-1000XM4 veio para melhorar ainda mais a reputação da Sony no segmento — e olha que ela conquistou uma legião de adeptos após lançar o M3 em 2018. Nos testes de fogo, com músicas masterizadas nos anos 1980, o fone passou com tranquilidade. Quanto ao palco sonoro, mesmo sendo um fone fechado, a inteligência artificial faz com que a dinâmica de música e abertura de palco sejam bem bacanas, dando mais leveza e movimento às canções (o que corta aquela impressão de que você está ouvindo música dentro de uma caixa, principalmente se considerarmos o 360 Reality Audio). Ter o apoio do app para equalizar e definir certos parâmetros na sua música é algo de que gostamos muito — e o app da Sony é bem bacana nisso (embora tenha uns errinhos de tradução, vai…).

Ergonomia, design, leveza, estabilidade de conexão… tudo isso é upgrade leve, mas ainda assim, upgrade. Não teve uma diferença significativa, em questão de design e conforto, em relação ao modelo anterior — mas teve melhoria. Pessoalmente, a morte do codec AptX não fez a mínima diferença, e fará apenas para quem quer parear o headphone com um Android mais antigo. Nos nossos testes, usamos aparelhos da Apple (tanto computador, quanto celular) e um smartphone com Android 10 (além dos aparelhos analógicos e da placa de áudio do computador).

"Ah, mas esse fone não tem defeitos?", você deve estar se perguntando. Para sermos bem honestos, e como nada é perfeito, tem sim: o preço, as discretíssimas atualizações no visual (que podem desagradar quem adora upgrade em visual de produtos), e o detalhe da conexão USB-C: não dá para usá-la para transmitir áudio, só energia, mesmo. Outro ponto que pode ser incômodo para alguns usuários: o aplicativo precisa usar sua geolocalização toda vez para funcionar. Segundo a Sony, faz parte do controle adaptativo do fone.

O que podemos dizer é que, apesar do preço elevado, o fone está à altura de concorrentes tão caros quanto, porém se sai ainda melhor que eles. Até o momento, é o melhor headphone com cancelamento ativo de ruído que já testamos aqui no Canaltech. E, ousamos dizer: é o fone mais inteligente e inovador de todo o mercado atual.

Para quem é o WH-1000XM4?

  • Para quem procura unir o melhor entre áudio de alta qualidade e liberdade de fios
  • Para quem precisa se concentrar em tarefas que exigem foco, isolando-se em uma "bolha"
  • Para quem curte ou quer descobrir novas tecnologias (como o 360 Reality Audio)
  • Para quem tem uma boa quantidade de grana para investir
  • Para ouvidos exigentes, ou quase audiófilos, que apreciam equalização e parâmetros de personalização via app
  • Para quem viaja bastante de avião e/ou faz questão de um ótimo nível de isolamento de ruído

Com quais modelos ele compete?

  • Bose 700
  • Bose QC 35II
  • Beats Studio3
  • Sennheiser Momentum 3
  • JBL Club One

Nota: 9,8