Sagitário A*: buraco negro da Via Láctea pulsa a cada 76 minutos
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |
O buraco negro supermassivo da Via Láctea, chamado Sagittarius A* (Sgr A*), é considerado adormecido, pois não está consumindo matéria. Apesar disso, os cientistas detectaram vários sinais de atividade por lá, e agora uma nova pesquisa encontrou evidências de um objeto em órbita muito próxima dele e com velocidade relativística.
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Desde a última década, os cientistas detectam radiação emitida dos arredores de Sagittarius A* (lê-se Sagittarius A estrela) em diferentes comprimentos de onda do espectro eletromagnético. Em 2017, foram relatadas explosões de raios X em intervalos de 149 minutos, enquanto um estudo de 2022 revelou ondas de rádio em períodos de 70 minutos.
Em 2021, uma radiação gama detectada foi associada ao Sgr A*, aumentando ainda mais o mistério. Os pesquisadores Gustavo Magallanes-Guijón e Sergio Mendoza, da Universidade Nacional Autônoma do México, decidiram analisar melhor esse fenômeno.
Com dados públicos do Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi, coletados entre junho e dezembro de 2022, a dupla procurou por padrões periódicos nesse tipo de radiação e descobriu novas flutuações periódicas. Precisamente, a cada 76,32 minutos, o fluxo de raios gama do buraco negro “pulsa”.
A descoberta tem semelhanças com as pulsações de rádio e raios X na mesma região, sugerindo o movimento orbital de algum objeto ao redor do buraco negro. As emissões de rádio tem mais ou menos a mesma periodicidade de 76 minutos, enquanto as de raios X tem o dobro da periodicidade.
Se o artigo de 2022 estiver correto em sua sugestão de que as emissões de rádio são produzidas pela órbita de uma bolha de gás quente, é provável que o mesmo objeto seja o responsável pelos raios X e gama. A bolha viajaria bem próxima ao buraco negro, a uma distância semelhante àquela entre Mercúrio e o Sol.
O período orbital (tempo que levaria para completar uma volta ao redor do centro gravitacional) da bolha seria de apenas 70 a 80 minutos, o que exige 30% da velocidade da luz. Um campo magnético poderoso, além de impedir que o objeto se desintegre, forma uma radiação síncrotron no processo.
Para Magallanes-Guijón e Mendoza, seus resultados são consistentes com essa proposta, ainda que haja detalhes para serem ajustados. Portanto, novos estudos em outros comprimentos de onda devem ser realizados para completar o cenário.
A pesquisa foi publicada no arXiv.org e ainda não foi revisada por pares.
Fonte: arXiv.org; via: ScienceAlert