Planetas de nova classe podem não ser tão amigáveis para a vida
Por Danielle Cassita | Editado por Patricia Gnipper | 03 de Maio de 2023 às 17h48
Os exoplanetas com atmosferas ricas em oxigênio e grandes oceanos de água líquida podem não ser tão amigáveis para a vida como se pensava. Eles pertencem a uma classe chamada “Hycean” (combinação de “hidrogênio” e “oceano”, em inglês), proposta pela primeira vez em 2021.
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Os mundos do tipo Hycean seriam maior que a Terra e menores que os planetas gigantes do Sistema Solar, com atmosfera formada por camadas densas de hidrogênio e condições para a ocorrência de vastos oceanos. Até o momento, nenhum planeta com estas características foi confirmado, mas o telescópio Kepler encontrou alguns mundos candidatos para a categoria.
Mesmo assim, os exoplanetas com estas características são de grande interesse para os astrônomos; afinal, a água líquida é uma condição importante para o desenvolvimento da vida como conhecemos. O problema, no entanto, é que as pesquisas atuais sobre estes planetas costumam depender de modelos simples demais da dinâmica atmosférica deles.
Pensando em preencher esta lacuna, os pesquisadores trabalharam com uma abordagem mais sofisticada, que os ajudou a entender como a atmosfera de um planeta Hycean e seus oceanos iria afetar o que se sabe sobre o comportamento dele ao redor de diferentes tipos de estrelas.
Eles descobriram que a atmosfera espessa de hidrogênio muda de forma significativa a forma como estes planetas se comportam em comparação com a Terra. O principal culpado aqui é o elemento, que bloqueia e permite a passagem de comprimentos de onda diferentes que, por sua vez, afetam a resposta da superfície à radiação.
O esperado é que os planetas Hycean tenham pressão atmosférica até 20 vezes maior que a da Terra. Se orbitarem suas estrelas a uma distância semelhante àquela entre o Sol e nosso planeta, é provável que as temperaturas do planeta subissem tanto que os oceanos iriam evaporar e desaparecer.
Além disso, parece que os mundos Hycean não podem receber tanta luz quanto se pensava. Os modelos anteriores apontaram que a parte interna das zonas habitáveis deles (distância entre o planeta e a estrela que permita a ocorrência de água em estado líquido) era de quase uma unidade astronômica, ou seja, uma vez a distância entre a Terra e o Sol.
Agora, os novos cálculos mostraram que, se um mundo Hycean tem 10 vezes a pressão atmosférica da Terra, a parte interna da zona habitável dele teria mais de três unidades astronômicas. Portanto, estes mundos não poderiam estar tão perto de suas estrelas, o que limita a possibilidade de abrigarem vida.
Os pesquisadores concluíram que todos os possíveis planetas Hycean existem dentro destes novos limites, ou seja, provavelmente não têm oceanos líquidos e nem chances de ter condições para a vida. Por outro lado, os exoplanetas Hycean podem existir e talvez tenham oceanos mesmo se estiverem longe das zonas habitáveis de mundos como a Terra; assim, ainda é possível encontrar mundos candidatos desta categoria.
O artigo com os resultados do estudo foi disponibilizado no repositório online arXiv.