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Nova explicação para o Oumuamua é a mais simples de todas — e pode estar correta

Por| Editado por Patricia Gnipper | 23 de Março de 2023 às 20h05

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 ESA/Hubble; NASA; ESO; M. Kornmesser
ESA/Hubble; NASA; ESO; M. Kornmesser

O objeto interestelar 1I/ʻOumuamua recebeu uma nova explicação, muito mais simples que as anteriores. Um novo artigo mostra que ele teria atingido a velocidade observada em 2017 graças à água — isso mesmo, o mecanismo mais simples para cometas pode resolver o mistério de quase seis anos envolvendo o visitante de outro sistema estelar.

Quando foi descoberto, o Oumuamua deixou os astrônomos perplexos por sua velocidade inexplicável. Era tão fora do comum que alguns cientistas acreditam até hoje que se tratava de um objeto artificial, ou seja, feito por alienígenas. Mas, como disse Carl Sagan na célebre série Cosmos, alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias.

Só que a velocidade do Oumuamua o empurrou de volta para fora do Sistema Solar, sem dar aos astrônomos a oportunidade de melhores observações, então é impossível obter evidências concretas quanto à natureza artificial do objeto.

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Em casos assim, os cientistas sempre podem propor explicações e apresentar ideias, mas as explicações mais prováveis, em termos probabilísticos, recebem preferência. Isso não torna a tarefa de desvendar o Oumuamua mais fácil, mas restrições “forçam” os cientistas a encontrar ideias mais sólidas.

O novo estudo propõe um mecanismo físico simples para a órbita do objeto interestelar: liberação de hidrogênio à medida que o cometa aquece sob a luz do Sol. Essa liberação funciona como uma propulsão de foguete, empurrando o objeto para a direção oposta.

Jennifer Bergner, professora assistente de química da UC Berkeley, procurou Darryl Seligman, bolsista de pós-doutorado da National Science Foundation na Cornell University, para testar essa ideia. Seligman foi um dos autores que propuseram que o Oumuamua poderia ser um cometa de hidrogênio molecular.

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Na época, o artigo de Seligman recebeu resistência de colegas, como aqueles que propuseram uma tecnologia alienígena para o objeto desde sua descoberta. No ano seguinte, outro artigo sugeria que o visitante interestelar seria pedaço de um “exoplutão”, ou seja, um planeta anão semelhante a Plutão na órbita de uma estrela distante.

Se tais propostas não convenceram o suficiente, elas parecem ter inspirado algumas pessoas, como Bergner. “Um cometa viajando pelo meio interestelar basicamente está sendo cozido pela radiação cósmica, formando hidrogênio como resultado”, disse. “Se isso estivesse acontecendo, você poderia realmente prendê-lo no corpo, de modo que ao entrar no Sistema Solar e fosse aquecido, poderia desgaseificar aquele hidrogênio?”

Ela encontrou pesquisas experimentais das décadas de 1970, 80 e 90 demonstrando que o gelo, ao ser atingido por partículas de alta energia semelhantes aos raios cósmicos, produz uma grande quantidade de hidrogênio molecular, que fica preso dentro do gelo.

Uma vez que os raios cósmicos podem penetrar dezenas de metros no gelo, é possível converter um quarto ou mais da água em gás hidrogênio. “Para um cometa com vários quilômetros de diâmetro, a liberação de gás seria de uma casca muito fina em relação ao volume do objeto”, disse Bergner. Mas este não é o caso do 'Oumuamua.

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Com cerca de 115 x 111 x 19 metros de tamanho, o visitante interestelar era pequeno o suficiente para que o hidrogênio realmente pudesse produzir força suficiente para alimentar essa aceleração. “O que é bonito na ideia de Jenny é que é exatamente o que deveria acontecer com os cometas interestelares”, disse Seligman.

Essa é uma das explicações mais genéricas sobre objetos como os cometas que apresentam aceleração mas não possuem cauda. Jamais saberemos o que era o Oumuamua, mas, se essa explicação “sobreviver” às críticas e contrapontos, pode se tornar a mais aceita pela comunidade científica, simplesmente por ser a mais provável até agora.

Bergner e Seligman publicarão o artigo na revista Nature.

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Fonte: Cornell Chronicle