Nosso primeiro contato com alienígenas pode demorar 400 mil anos, diz estudo
Por Daniele Cavalcante • Editado por Rafael Rigues |
Se a humanidade quiser mesmo fazer o primeiro contato com uma civilização alienígena, talvez tenha que esperar um pouquinho. Quanto? Uns... 400 mil anos. Essa foi a conclusão de um novo estudo realizado por astrônomos chineses e publicado no The Astrophysical Journal.
Curiosamente, este não foi o primeiro cálculo sobre o tema já realizado — e mais, alguns resultados foram bem diferentes. Por que será?
- Afinal, quais as chances de confirmarmos a existência de vida extraterrestre?
- Será que alienígenas estão ouvindo nossas mensagens mas não querem responder?
Há vida alienígena na Via Láctea?
O novo estudo sobre comunicação com “civilizações inteligentes extraterrestres” (CETIs, da sigla em inglês), foi publicado por Wenjie Song e He Gao, ambos do Departamento de Astronomia da Universidade Normal de Pequim. Os autores reconhecem a complexidade de estudar algo que nem sabemos se existe, mas isso não os impediu de tentar.
Saber quando teremos nosso primeiro contato com aliens depende de diversas variáveis confusas, que tornam as coisas mais difíceis de prever. Por exemplo, onde estão essas civilizações? Essa é uma pergunta essencial, porque quanto mais longe, mais tempo os sinais de comunicação demoram para chegar até eles e vice-versa.
Nossa galáxia pode ter até de 400 bilhões de estrelas, e cerca de uma a cada cinco são semelhantes ao Sol. Destas, metade pode ter planetas habitáveis em suas órbitas. E para poder abrigar vida como a conhecemos, além de estar nesta zona os planetas devem ser rochosos.
Esses critérios são bastante rigorosos e funcionam como um funil. A possibilidade de haver vida inteligente em outros mundos é astronômica (literalmente) e, com todas essas exigências, as civilizações podem estar realmente muito distante de nós.
Além disso, a Via Láctea tem cerca de 120.000 anos-luz de diâmetro. Embora não estejamos exatamente em uma das extremidades, os planetas habitados podem estar a 50 anos-luz de distância… ou a 50.000 anos-luz, por exemplo. Quanto mais longe, mais teremos que esperar para obter respostas.
Tal espera é um limite que a própria natureza do universo nos impõe, pois sinais de comunicação (como o rádio) só podem viajar à velocidade da luz. Isso significa que para um sinal chegar a um planeta a 50.000 anos-luz de distância, levará 50.000 anos. Para obtermos uma resposta — se houver uma civilização tecnológica por lá —, aguardaremos mais 50.000 anos.
Simulando as probabilidades
Mas como estimar onde essas civilizações habitam? Bem, é aí que entram os jogos de probabilidade matemática. Um deles é a Equação de Drake, que tenta estimar quantas CETIs podem existir em nossa galáxia. Claro, não obteremos um número muito confiável, mas é um bom experimento mental que ajuda a começar a estimar.
Os autores do novo estudo usaram alguns pressupostos, como os de um artigo anterior que estimou a existência de 36 CETIs na Via Láctea. Esse número veio de cálculos envolvendo aqueles critérios rigorosos, como a probabilidade de estrelas hospedarem planetas semelhantes à Terra em suas zonas habitáveis.
Em seu novo estudo, os autores usaram dois parâmetros: quantos planetas terrestres são habitáveis, com que frequência a vida nesses planetas evolui para uma CETI e em qual estágio da evolução de uma estrela hospedeira nasceria uma CETI. Novamente, isso se trata de estimativas envolvendo probabilidades, e não uma certeza.
Para calcular essas probabilidades, precisamos de dados sobre a população de estrelas da Via Láctea - incluindo suas idades, categorias e seus estágios evolutivos - além de modelos computacionais. Song e Gao executaram suas simulações usando valores diferentes para as variáveis e chegaram a dois cenários.
O primeiro cenário foi otimista e utilizou os seguintes valores: uma estrela deve estar em um estágio de pelo menos 25% de sua vida antes que uma CETI possa surgir em um planeta em sua órbita. Para cada planeta terrestre, haveria há apenas 0,1% de chance de uma CETI aparecer. Essas variáveis não parecem tão otimistas assim, mas, na simulação, apontaram para mais de 42.000 CETIs.
Nesse caso, teríamos que esperar (e sobreviver enquanto espécie) por mais 2.000 anos para obter uma comunicação bidirecional com os aliens. Considerando que isso é mais ou menos a duração de nosso calendário atual, parece razoável (se frearmos os problemas ambientais que ameaçam nosso planeta).
Já no cenário pessimista, os autores incluíram as seguintes variáveis: uma estrela deve estar em um estágio de 75% de sua vida e, claro, ter planetas terrestres em sua zona habitável. Isso nos leva a uma porcentagem de 0,001%, ou cerca de 111 civilizações em toda a galáxia. Isso é pouco, considerando o tamanho da Via Láctea.
Se esse for o caso, precisaríamos sobreviver por nada menos que 400.000 anos para ter comunicação bidirecional com outras espécies tecnologicamente avançadas. Isso nos coloca em um problema muito maior do que a ansiedade individual de cada um de nós por descobrir que não estamos sós: civilizações podem não durar tanto tempo.
Alguns cientistas estimam que civilizações possuem um determinado prazo de validade e se extinguem devido a problemas populacionais, mudanças climáticas repentinas, choque com asteroides e cometas, explosões de supernovas e outros eventos que podem interromper a evolução de uma espécie.
Isso implica que nós podemos desaparecer em alguns milhares de anos, mas também significa que em outros mundos a vida pode não ter evoluído até o mesmo estágio em que estamos. São muitas as incertezas, mas não precisamos ser tão pessimistas.
Outras estimativas
Em 2021, vimos dois estudos sobre o mesmo tema obterem resultados extremamente opostos. No mais pessimista, os autores propuseram algo chamado “modelo de alienígenas grabby”, e concluiu que levaremos 200 milhões de anos para encontrarmos alienígenas. Nada animador.
Já o outro artigo, publicado pelo professor Abraham "Avi" Loeb e seu aluno Amir Siraj, trabalhou com o princípio de Copérnico, ou seja, a declaração de que a Terra não está em uma posição especialmente favorecida, ou central, e tampouco vivemos em uma época privilegiada. O resultado não deu uma previsão específica, mas definiu um limite mínimo de espera: 2.000 anos.
Curiosamente, esse resultado foi muito semelhante à simulação otimista do novo artigo, da dupla Song e Gao. Será que nós, ou os cientistas que buscam realizar o primeiro contato, devemos ser tão otimistas quanto essas duas estimativas?
Talvez a resposta seja um sonoro sim. É que, segundo o estudo de Loeb e Siraj, encontraremos uma civilização inteligente daqui a 2.000 anos caso enviemos sinais de comunicação agora! Se os cientistas fizerem isso (e já fazem há algumas décadas), as chances de obtermos respostas no século 4.000 parecem razoáveis.
Fonte: The Astrophysical Journal; via: Phys.org