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Mistério sobre a origem das rajadas rápidas de rádio pode estar perto do fim

Por| 04 de Novembro de 2020 às 19h30

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ESO/L. Calçada
ESO/L. Calçada

O mistério das emissões de rádio que chegam de galáxias distantes intriga os cientistas há mais de uma década. Conhecidos como rajadas rápidas de rádio (ou FRBs, da sigla em inglês), os sinais têm sido alvo de grande interesse científico, justamente por não haver uma resposta muito convincente sobre o que eles são de fato. Agora, três estudos reforçam uma hipótese que parece cada vez mais perto de ser comprovada.

Até então, as FRBs chegavam de muito além da Via Láctea, mas em abril os cientistas descobriram a primeira dessas emissões na nossa própria galáxia. Tratava-se de um pequeno e giratório remanescente de uma estrela colapsada, localizado a cerca de 30.000 anos-luz da Terra. Por estar relativamente perto, foi possível analisar melhor esses dados do que nas ocasiões anteriores em que as FRBs chegavam de outras galáxias.

Com isso, os cientistas encontraram a evidência mais forte de que algumas, senão todas as FRBs, são causadas por estrelas de nêutrons compactas e altamente magnetizadas — também conhecidas como magnetares. “Esta é a explosão de rádio mais luminosa já detectada em nossa galáxia”, disse Daniele Michilli, astrofísica da Universidade McGill, referindo-se à detecção de abril. Ela trabalha no telescópio Chime, o mesmo que detectou esses sinais na Via Láctea.

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Um magnetar é uma estrela de nêutrons com alto valor energético e sua principal característica são as emissões de raios-X e raios gama. Mas o que os cientistas estão descobrindo é que eles também podem estar relacionados com as emissões rápidas de rádio que tanto têm intrigado pesquisadores de todo o mundo. A teoria de que as FRBs podem estar de alguma forma conectadas ao nascimento ou evolução dos magnetares já é um tanto popular entre os cientistas, mas ainda não havia sido observada nenhuma a emissão de rádio semelhante a uma FRB vinda de um magnetar, dentro de nossa própria galáxia.

A detecção de abril mudou esse cenário. Ela veio de uma região do céu onde existe um magnetar chamado SGR 1935+2154, e desde então pesquisadores têm se dedicado a estudar os dados coletados. Um estudo anterior já havia mostrado como esse sinal específico poderia relacionar a maior parte — ou todas — as FRBs com magnetares, e agora três novos artigos científicos apontam para a mesma direção (1, 2 e 3).

Esse sinal detectado em abril, recebendo o nome de FRB 200428, indica que o magnetar em questão emitia tanta energia em ondas de rádio a cada milissegundo quanto o Sol emite em meio minuto. Ou seja, é muita coisa! Os três artigos que trataram do assunto são independentes entre si e foram publicados na revista Nature.

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Ainda é cedo para afirmar categoricamente que todas as FRBs vieram de magnetares, mas as novas evidências apontam para esta possibilidade, e agora os astrônomos podem trabalhar com a hipótese com mais afinco. Caso seja confirmado que os magnetares são de fato a fonte desses sinais, restará descobrir como exatamente esses objetos emitem radiações tão intensas. Já existem algumas ideias sobre isso, também. Uma delas é que os magnetares são distorcidos por tremores que partem suas superfícies e liberam grandes rajadas de energia.

Vale lembrar que em um estudo do pesquisador Ben Margalit, pode ser que existam dois tipos diferentes de magnetares: os “comuns”, como o próprio SGR 1935+2154, e um tipo que é muito mais ativo, mas de vida mais curta. Para Margalit, magnetares deste segundo tipo seriam os responsáveis ​​por FRBs que vieram de outras galáxias. Portanto, talvez nem todo magnetar emita sinais como este. 

Seja como for, é emocionante acompanhar toda essa jornada. As FRBs começaram a ser detectadas em 2007, e muitos de nós tivemos a chance de nos surpreender e ver como os astrônomos ficaram perplexos e trabalharam sobre várias hipóteses e, agora, talvez estejamos testemunhando o fim do mistério. É possível que novas emissões do SGR 1935+2154 sejam detectadas no futuro, e os novos artigos são importantes para que os cientistas possam ficar atentos para quando isso acontecer. 

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Por enquanto, este magnetar específico não gerou radiação que correspondam a nenhuma explosão significativa de ondas de rádio. Outro fator que pode ser um  banho de água fria é que o sinal de abril é mil vezes mais fraco do que o FRB mais fraco visto vindo de fora de nossa galáxia. Ou seja, ainda falta algum caminho para preencher as lacunas.

Contudo, os astrônomos têm outros objetos para observar nessa pesquisa. Existem cerca de 30 outros magnetares conhecidos que provavelmente estarão na mira dos telescópios, na tentativa de encontrar neles algum sinal parecido com as famosas FRBs, que tanto surpreenderam a comunidade científica de todo o mundo. O melhor é que os astrônomos podem se concentrar em encontrar FRBs em outras galáxias, onde os sinais parecem ser muito mais fortes.

E se os magnetares forem descartados nas futuras observações? Bem, os astrônomos têm pelo menos 50 teorias diferentes sobre o que causa as FRBs, incluindo alienígenas! Aliás, é possível que haja dois tipos de explosões rápidas de rádio, que viriam de diferentes fontes. Isso poderia tornar o cenário um pouco mais complexo (e muito mais interessante).

Fonte: Phys-orgThe Guardian, The Verge