Novas evidências relacionam as misteriosas rajadas rápidas de rádio a magnetares
Por Daniele Cavalcante | 11 de Setembro de 2020 às 14h00
Em abril deste ano, astrônomos detectaram uma rajada altamente brilhante de ondas de rádio emanando de um magnetar localizado em nossa própria galáxia, uma descoberta inesperada que poderia dar a oportunidade de entender o mistério por trás dessas emissões, conhecidas como rajadas rápidas de rádio (ou FRBs, da sigla em inglês). Agora, um novo estudo reforça ainda mais a ideia de que esses eventos estão relacionados a magnetares.
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As FRBs são um dos fenômenos que mais intrigam os astrônomos porque ainda ninguém sabe explicar a causa dessas “explosões” de rádio. Elas contêm radiação com energia equivalente a 500 milhões de sóis e duram apenas alguns milissegundos, e muitas hipóteses já apareceram para tentar explicá-las — sem nada confirmado até agora. Dois tipos de FRBs são conhecidas até o momento: as explosões únicas e as que se repetem.
Já havia muita expectativa sobre a detecção de abril, que veio de um magnetar da Via Láctea chamado SGR 1935+2154. É que geralmente as FRBs vêm de muito longe, o que dificulta ainda mais detectar suas origens. Mas, agora, estamos falando de um objeto que fica “apenas” a cerca de 29.300 anos-luz de distância.
Um magnetar é uma estrela de nêutrons com alto valor energético e sua principal característica são as emissões de raiox-X e raios gama. Mas o que os cientistas estão descobrindo é que eles também podem estar relacionados com as emissões rápidas de rádio que tanto têm intrigado pesquisadores de todo o mundo. No caso do SGR 1935+2154, ele passou a emitir ondas de rádio além dos já esperados raios-X. Observatórios em todo o mundo ficaram alerta para não perderem a chance de explorar esse fenômeno tão raro.
A teoria de que as FRBs podem estar de alguma forma conectadas ao nascimento ou evolução dos magnetares já é um tanto popular entre os cientistas, com muitas evidências apontando para isso. O problema é que nunca havia sido observada a emissão de rádio semelhante a uma FRB vinda de um magnetar, dentro de nossa própria galáxia. Pois bem, isso acaba de mudar.
Em um novo estudo liderado por Sandro Mereghetti, uma equipe de cientistas relataram a detecção de uma série de rajadas de raios-X brilhantes do SGR 1935+2154 usando a International Gamma-Ray Astrophysics Laboratory (INTEGRAL), uma sonda da Agência Espacial Europeia (ESA) em cooperação com a agência espacial russa (Roscosmos) e a NASA. Até aí, nada de anormal. Mas as explosões de raios-X estavam acompanhadas de uma explosão de rádio que durou apenas alguns, mas o suficiente para ser detectada por dois radiotelescópios — o Canadian Hydrogen Intensity Mapping Experiment (CHIME) e o Survey for Transient Astronomical Radio Emission 2 (STARE2).
As duas rajadas — de rádio e de raios X — exibiram estruturas semelhantes entre si, ocorreram quase ao mesmo tempo, e têm semelhanças no quesito energético com algumas FRBs que vieram de outras galáxias. Para a equipe de pesquisadores, são pistas o suficiente para sugerir que a explosão do SGR 1935+2154 pode ser a peça que faltava para conectar os magnetares às FRBs. Melhor ainda, a hipótese pode ser sustentada por uma observação real, de um objeto já bem conhecido e não tão distante.
Em outro estudo, o pesquisador Ben Margalit reuniu alguns colaboradores para usar os novos dados do SGR 1935+2154 para mostrar que, talvez, existam dois tipos diferentes de magnetares: os “comuns”, como o próprio SGR 1935+2154, e um tipo que é muito mais ativo, mas de vida mais curta. Para Margalit, este segundo tipo seriam os responsáveis por FRBs que vieram de outras galáxias e tanto intrigaram os cientistas nos últimos anos.
É provável que novas emissões do SGR 1935+2154 sejam detectadas no futuro, e os novos artigos são importantes para que os cientistas possam ficar atentos para quando isso acontecer. Assim, talvez teremos a chance de encontrar novas pistas para solucionar o mistério.
Fonte: AAS Nova