Novo sinal repetitivo de rádio é detectado vindo do espaço e intriga cientistas
Por Daniele Cavalcante |
Uma equipe internacional de astrônomos detectou um novo sinal repetitivo de rádio (fast radio bursts, ou simplesmente “FRB”), semelhante a outro que foi rastreado em 2019. Desta vez, a fonte do sinal é um pouco mais próxima de nós - uma galáxia espiral a meio bilhão de anos-luz de distância, o que torna este FRB o mais próximo já detectado. Outro sinal do tipo já foi detectado em 2018, também.
Os FRBs são um dos fenômenos que mais intrigam os astrônomos porque ainda ninguém sabe explicar a causa dessas “explosões” de rádio. Eles contêm radiação com energia equivalente a 500 milhões de sóis e duram apenas alguns milissegundos. Dois tipos de FRBs são conhecidos até o momento: as explosões únicas e as que se repetem.
Um FRB repetitivo foi detectado em 2019, mas os sinais recém-descobertos vieram de uma fonte diferente, aumentando o mistério da origem das emissões. Não apenas isso, mas, de acordo com o astrônomo Kenzie Nimmo, da Universidade de Amsterdã, a galáxia de onde vieram os novos sinais “é radicalmente diferente de todos os FRBs estudados anteriormente".
Nimmo explica que essa diferença dificulta ainda mais entender a natureza dessas "explosões". “Pode ser que os FRBs sejam produzidos em um grande zoológico de locais em todo o universo e exijam algumas condições específicas para que sejam visíveis". Até o momento, apenas três FRBs tiveram sua origem localizada em uma galáxia.
Batizado como 180916.J0158+65, o novo FRB veio de uma galáxia chamada SDSS J015800.28+654253.0, com apenas sete anos-luz de diâmetro (para comparação, a Via Láctea tem 105.700 anos-luz de diâmetro), mas que está bastante ativa em sua formação de estrelas. A região de origem do sinal é distante do centro galáctico, e ele não sofreu a mesma distorção eletromagnética encontrada no FRB 121102 - a primeira rajada rápida de rádio repetida a ser localizada.
Quando os astrônomos detectaram o FRB 121102, perceberam que ele emanava de uma galáxia anã pobre em metais a mais de 3 bilhões de anos-luz de distância. Também concluíram que o sinal foi distorcido por algo chamado efeito Faraday, que ocorre quando radiação eletromagnética interage com um campo magnético. Isso sugere que aquele sinal repetitivo foi produzido em um ambiente extremo, como a região em torno de um buraco negro supermassivo em algum centro galáctico.
Este não é o caso do FRB atual. Ele não foi tão distorcido pelo efeito Faraday, ou seja, sua localização não era tão magnética. Além disso, foi encontrado bem longe do centro galáctico e do buraco negro supermassivo. Todas essas novas peças do quebra-cabeças desafiam a ideia que os cientistas têm sobre essas rajadas e suas fontes.
Existem muitas hipóteses sobre a origem dos FRBs - estrelas de nêutrons, buracos negros, pulsares com estrelas companheiras, magnetares, entre outras. A pesquisa sobre o FRB 180916, publicada na revista Nature, não esclarece essa dúvida incômoda, mas já começa a descartar algumas das hipóteses. É que, ao determinar a fonte dessa explosão, o argumento de que as origem dos FRBs seja emissões parecidas com as de pulsares perde força.
Fonte: Science Alert