Meteorito que veio de Marte tem compostos orgânicos ligados ao florescer da vida
Por Daniele Cavalcante |
Hoje, Marte é um mundo seco e hostil, mas há muitos indícios de que nem sempre foi assim. E um novo estudo mostra ainda mais possibilidades de que o Planeta Vermelho já teve, há muito tempo, lagos e córregos em lugares como a cratera conhecida como Gale.
Em 1984, foi descoberto, na Antártida, um meteorito que recebeu o nome Allan Hills 84001 (ou ALH 84001), e os cientistas descobriram que ele muito provavelmente veio de Marte após o impacto de um asteroide sobre a superfície marciana. Agora, o novo estudo encontrou, nessa rocha, algumas moléculas orgânicas de 4 bilhões de anos, incluindo nitrogênio.
Essas moléculas, que formam os blocos de construção da vida como a conhecemos, foram encontradas nos minerais carbonáticos, que geralmente se formam em águas subterrâneas. Portanto, o meteorito provavelmente se soltou do Planeta Vermelho após um impacto que ocorreu na época em que Marte era úmido e potencialmente habitável, muito tempo atrás - há cerca de 16 milhões de anos, calculam os cientistas.
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Não é a primeira vez que o Allan Hills 84001 foi alvo de uma pesquisa como esta. Em 1996, uma equipe disse ter encontrado evidências convincentes de vida microbiana antiga no meteorito, incluindo glóbulos carbonáticos e moléculas orgânicas. Mas a comunidade científica, no geral, considerou que essas evidências não eram muito convincentes, já que fatores abióticos - ou seja, não orgânicos - poderiam explicar essas assinaturas na rocha.
No novo estudo, pesquisadores liderados por Mizuho Koike analisaram a rocha de uma nova maneira. A equipe usou técnicas analíticas altamente precisas, incluindo um tipo de espectroscopia de raios-X. Como resultado, eles conseguiram, pela primeira vez, encontrar orgânicos que contêm nitrogênio na rocha. Os pesquisadores calculam que os orgânicos ficaram presos no carbonato cerca de 4 bilhões de anos atrás.
Mas isso ainda não prova que esses compostos orgânicos sejam, de fato, de origem biológica. No entanto, há boas notícias. Eles não encontraram nada indicando que o nitrogênio seja inorgânico, o que é uma evidência de que ele tenha sido ligado às moléculas orgânicas. Os cientistas também acham que é bastante improvável que esse nitrogênio tenha de alguma forma entrado na amostra enquanto esteve no gelo antártico.
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Ainda é preciso responder outras perguntas. Por exemplo, será que esses compostos se formaram mesmo em Marte? O co-autor do estudo, Atsuko Kobayashi, diz que "no início da história do Sistema Solar, Marte provavelmente foi inundado com quantidades significativas de matéria orgânica, como meteoritos ricos em carbono, cometas e partículas de poeira". Pode ser que algum deles se dissolveu dissolvido na água marciana e ficaram presos dentro dos carbonatos.
É preciso enfatizar que ainda não podemos dizer que foram encontradas evidências concretas de vida marciana. Novamente, os compostos orgânicos podem ser de origem abiótica. O método que os cientistas usaram é mais preciso, mas ainda não é capaz de distinguir compostos de origem biológica ou abiótica. Ainda assim, o importante no estudo é que ele traz evidência nítida de que moléculas orgânicas portadoras de nitrogênio podem sobreviver em um meteorito, mesmo após um enorme impacto e uma longa jornada no espaço.
Então, se houver moléculas orgânicas mais complexas em meteoritos como este, elas também poderão permanecer intactas, apesar de mortas. Ainda não podemos dizer que existiu vida em Marte, mas já temos novas técnicas para procurar. Em breve, o rover Perseverance, da missão Mars 2020 da NASA, será lançado para buscar sinais de organismos antigos que, talvez, existiram no Planeta Vermelho. Ele coletará amostras que futuramente serão trazidas à Terra e, assim, os cientistas terão ainda mais material para estudar.