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Graças a cometa, ventos na estratosfera de Júpiter são medidos pela primeira vez

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  | 

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NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Kevin M. Gill
NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Kevin M. Gill

As faixas coloridas ao redor de Júpiter estão sempre em movimento, e às vezes mudam de cor à medida que o planeta passa por alterações atmosféricas. Isso ocorre porque elas são nuvens rodopiantes de gás, muito úteis para que os astrônomos descubram os ventos na baixa atmosfera de Júpiter. Agora, pela primeira vez, eles conseguiram também medir os ventos da estratosfera, e tudo graças a um cometa que caiu por lá há 27 anos.

Em nosso planeta Terra, a estratosfera é a segunda camada da atmosfera. Ela começa em uma altitude de 15 km e se estende até os 50 km, quando começa a terceira camada, chamada mesosfera. Às vezes, os astrônomos usam essas nomenclaturas para se referir às diferentes camadas de outros planetas, como Júpiter, que difere de nosso planeta ao não possuir uma mesosfera.

Para medir a velocidade dos ventos na troposfera jupiteriana, os pesquisadores usam as faixas de nuvens coloridas — que estão nesta camada atmosférica. Mas nas camadas superiores não há nuvens para servir de referencial através da velocidade de deslocamento, então as condições climáticas por lá permaneciam em mistério. Contudo, graças a um cometa que colidiu com Júpiter em 1994, os astrônomos conseguiram finalmente medir a velocidade dos ventos na estratosfera.

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O cometa em questão é o Shoemaker-Levy 9, que se tornou mundialmente famoso quando "caiu" em Júpiter. Os equipamentos na época detectaram dois flashes brilhantes durante a queda e cientistas de todo o mundo voltaram suas atenções para saber tudo sobre os efeitos do evento no planeta gasoso. Hoje, quase 30 anos depois, uma equipe decidiu procurar pelos resíduos do cometa nas camadas atmosféricas superiores, e o que encontraram foi surpreendente.

Liderada por Thibault Cavalié, do Laboratoire d'Astrophysique de Bordeaux, na França, a equipe utilizou o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) para procurar moléculas deixadas pelo Shoemaker-Levy 9, e encontraram cianeto de hidrogênio (HCN) na estratosfera de Júpiter. Essas moléculas estão se movendo por lá, arrastada pelos ventos, e as variações minúsculas na frequência da radiação emitida por elas mostraram com que velocidade elas se deslocam. Ao medir estas variações, os cientistas puderam determinar que a velocidade dos ventos podem chegar até a assustadores 400 metros por segundo!

Essa velocidade, correspondente aos ventos localizados por baixo das auroras jupiterianas, perto dos polos do planeta, é duas vezes superior às velocidades máximas da tempestade localizada na Grande Mancha Vermelha. Equivalentes a cerca de 1.450 km/h, os ventos da estratosfera polar são três vezes mais velozes que os ventos dos tornados mais fortes da Terra. “Estes jatos podem se comportar como um vórtice gigante com um diâmetro de até quatro vezes o tamanho da Terra e com cerca de 900 km de altura”, disse o co-autor do estudo Bilal Benmahi, que apelidou vórtice de “monstro meteorológico”.

Além dos surpreendentes ventos polares, a equipe usou também mediu os ventos estratosféricos na linha equatorial do planeta. Os jatos descobertos nesta região, também medidos pela primeira vez neste estudo, têm velocidades médias de aproximadamente 600 km/h. Com estes resultados, os pesquisadores esperam abrir uma nova janela no estudo das regiões aurorais de Júpiter, algo inesperado a apenas alguns meses atrás”, de acordo com Cavalié. O próximo passo é realizar medições mais extensas, dessa vez através da missão JUICE, de acordo com a equipe.

Fonte: ESO