Destaques da NASA: fotos astronômicas da semana (23/04 a 29/04/2022)
Por Danielle Cassita • Editado por Rafael Rigues |
O fim de abril foi marcado por alguns fenômenos incríveis, como a chuva de meteoros Líridas e o alinhamento de Saturno, Marte, Vênus e Júpiter no céu antes do amanhecer. Caos você não tenha conseguido acompanhá-los, não se preocupe, as fotos astronômicas reunidas pela NASA no site Astronomy Picture of the Day trazem ótimos registros deles.
Planetas e meteoros à parte, você irá conferir também imagens de algumas "queridinhas" dos entusiastas da ciência espacial: desta vez, o compilado trouxe duas belas galáxias do tipo espiral, sendo que uma aparece quase totalmente na lateral, enquanto a outra até parece estar "recheada" por faixas de poeira. Como de costume, você encontra as fotos e várias curiosidades sobre os objetos presentes nelas.
Veja:
Sábado (23) — Galáxia Messier 104
Esta é a galáxia Messier 104, formada por uma bela estrutura espiral. Contudo, há outra característica que chama a atenção nela: a Messier 104 é bastante conhecida por aparecer quase totalmente na lateral na nossa perspectiva de observação — tanto que nós a vemos a apenas 6º ao sul de seu plano equatorial, marcado por uma faixa espessa de poeira escura.
Também conhecida como “Galáxia do Sombrero”, a Messier 104 (ou apenas “M104”, se preferir) fica a aproximadamente 28 milhões de anos-luz de nós. Ela mede cerca de 50 mil anos-luz de extensão, e seu centro abriga um buraco negro supermassivo com 1 bilhão de massas solares. Além disso, também é rica em aglomerados globulares.
A M104 é considerada o primeiro objeto do famoso catálogo do astrônomo Charles Messier que não fazia parte da publicação original, e foi adicionada manualmente por ele em 1781. A imagem acima foi produzida a partir de dados do telescópio espacial Hubble, obtidos ao longo de mais de 10 horas de observações. Depois, eles foram processados para destacar detalhes.
Domingo (24) — Um experimento virtual
Imagine que você consegue pressionar o botão vermelho na imagem; antes disso, há dois universos possíveis, mas depois que apertá-lo, você irá viver em apenas um. Pensando nisso, considere que o botão é uma espécie de ilustração do experimento conhecido como “gato de Schrödinger”.
O tal experimento imagina o seguinte cenário: um gato estaria em uma caixa selada contra observadores de fora. Dentro dela, haveria um contador Geiger (um medidor de radiação), veneno e material radioativo, cujos átomos podem ou não entrar em decaimento ao longo de uma hora. Se um átomo decair, o contador vai detectar a radiação e um gatilho irá liberar um martelo, que quebrará a estrutura do veneno e matará o gato. Se nada acontecer com os átomos, o bichano segue vivo.
Como a caixa é selada, é impossível conhecer o resultado do experimento até que ela seja aberta. Portanto, enquanto isso não acontece, o gato pode estar tanto vivo quanto morto. É como se existissem dois universos em superposição, uma em que o gato morreu, e outra em que não. Ao abrir a caixa, um desses universos colapsa e deixa de existir, enquanto o outro segue seu curso.
Todo o dispositivo é teórico, e Schrödinger o propôs durante uma discussão com Einstein como uma resposta a interpretações errôneas da mecânica quântica na época.
Segunda-feira (25) — Os detalhes da Grande Nebulosa em Carina
Esta mistura de cores e formas nos mostra um pouco do que existe em NGC 3372, uma nebulosa localizada em uma das regiões mais brilhantes da Via Láctea. Também conhecida como a “Grande Nebulosa de Carina”, a NGC 3372 abriga estrelas massivas, aglomerados estelares abertos e outras nebulosas em mudanças constantes, sendo que uma delas aparece aqui.
Vale a pena observar com atenção a área pouco abaixo do centro da imagem; é ali que está a nebulosa NGC 3324, apelidada de "Nebulosa da Fechadura”. Ela é uma nuvem pequena e escura com moléculas frias, que contém filamentos de gás quente e brilhante. A aparência dela mudou significativamente desde quando foi observada pela primeira vez, e isso provavelmente aconteceu em função das ondas eletromagnéticas de radiação ionizante vindas da estrela Eta Carinae.
Descoberta em 1752, a Nebulosa de Carina se estende por mais de 300 anos-luz e fica a aproximadamente 7.500 anos-luz de nós. Ela é uma das maiores nebulosas difusas que vemos no céu noturno e, embora seja quatro vezes maior e até mais brilhante do que a Nebulosa de Órion, a Nebulosa de Carina é muito menos conhecida em função de sua localização no céu do hemisfério sul.
Terça-feira (26) — Desfile planetário na Austrália
Quem acordou bem cedo nos últimos dias pode ter conferido uma visão parecida com esta. No céu de Sydney, na Austrália, logo antes de amanhecer, o céu estava decorado por Saturno, Marte, Vênus e Júpiter (de cima para baixo, em direção ao centro da imagem). Além de ser fascinante poder observar os planetas juntos no céu, uma curiosidade interessante é que eles aparecem na vertical no hemisfério sul; já no norte, o alinhamento aparece na direção horizontal.
Os alinhamentos planetários acontecem quando as órbitas dos planetas os trazem para áreas próximas no céu, em nosso ponto de vista. Apesar de não serem raros, os alinhamentos levam algum tempo para acontecer: por exemplo, Vênus, Marte e Saturno estavam juntos no céu desde o fim de março, mas foi somente na metade de abril que Júpiter se juntou ao trio. Lembre-se que, apesar de pareceram próximos, os planetas estão separados por grandes distâncias entre si.
Vale ficar de olho no céu nos próximos dias: entre as madrugadas dos dias 30 de abril e 1º de maio, Vênus e Júpiter vão aparecer bem pertinho um do outro no céu durante a chamada "conjunção ultra próxima". Já durante a metade do mês de junho, Mercúrio se juntará aos demais planetas, expandindo o desfile no céu.
Quarta-feira (27) — Sombra em Júpiter
Júpiter é o lar da Grande Mancha Vermelha, uma das maiores tempestades que conhecemos no Sistema Solar. Só que, de tempos em tempos, outras "manchas" aparecem no planeta, como esta que vemos no lado esquerdo da foto. Na verdade, esta não é uma mancha ou uma tempestade, mas sim a sombra da lua Ganimedes projetada sobre o topo das nuvens do gigante gasoso. Se você estivesse na área na sombra, iria observar um eclipse solar total.
Estes fenômenos são mais comuns em Júpiter do que aqui, e parte disso se deve à quantidade de luas que o planeta tem. Dentre suas 79 luas, são as luas galileanas que passam com mais frequência entre o planeta e o Sol. Assim, em uma semana, Ganimedes fica entre Júpiter e o Sol uma vez, enquanto Europa faz este trânsito duas vezes e a lua Io, por fim, o faz quatro vezes.
O registro foi capturado pela sonda Juno, que realizou um sobrevoo de Júpiter no fim de fevereiro. Como estava bem próxima do planeta, a Juno conseguiu coletar dados em alta resolução; depois, o cientista cidadão Thomas Thomopoulos processou o material, obtendo o resultado que você viu acima.
Quinta-feira (28) — Meteoros Líridas
O rastro brilhante no canto direito da foto pertence a um dos meteoros da chuva dos Líridas, que iluminou o céu nos arredores do lago Nian, na China. O rastro luminoso da bola de fogo aponta para o radiante (o ponto de onde todos os meteoros parecem surgir) na constelação Lira, no hemisfério norte.
A chuva de meteoros Líridas, a primeira do ano, é causada por fragmentos do cometa Thatcher. Observado pela primeira vez em 1861, este cometa leva mais de 400 anos para completar uma volta ao redor do Sol, e sua trajetória o traz para o interior da órbita da Terra. Se ocorrer em uma noite sem o brilho da Lua, observadores poderiam perceber que cerca de 25% dos meteoros da chuva deixariam um rastro persistente de gás ionizado, que segue brilhante por alguns segundos após a passagem dos detritos do cometa.
Outra curiosidade é que esta chuva é uma das mais antigas que conhecemos: existem registros que descrevem o fenômeno há cerca de 2.700 anos, e registros antigos sugerem que os chineses parecem ter observado a chuva durante o ano 687 a.C. Esta é considerada uma chuva de média intensidade, que pode trazer de 10 a 12 meteoros por hora — mas esta quantidade não é uma regra já que, em 1982, observadores nos Estados Unidos conseguiram acompanhar quase 100 meteoros Líridas por hora.
Sexta-feira (29) — Hambúrguer espacial
Você percebeu que esta galáxia parece estar dividida no meio por um "recheio", como se fosse um sanduíche? Pois é, as faixas de poeira escura que cortam a galáxia NGC 3628 ajudaram a inspirar o apelido "Galáxia do Hambúrguer". Localizada a mais de 35 milhões de anos-luz de nós, em direção à constelação do Leão, a Galáxia do Hambúrguer é do tipo espiral, e se estende por quase 100 mil anos-luz.
Uma característica interessante da galáxia é que seu disco é torcido, acompanhado de uma longa "cauda" formada pela gravidade das forças de maré. A NGC 3628 está acompanhada das galáxias M65 e M66, também do tipo espiral; juntas, elas formam o Trio de Leão. É provável que as interações gravitacionais com estas vizinhas cósmicas sejam as grandes responsáveis pela cauda e torção no disco espiral da Galáxia do Hambúrguer.
A NGC 3628 é considerada uma galáxia espiral sem barra, ou seja, não parece ter uma estrutura central em forma de barra em seu centro, formada por estrelas. Por outro lado, há estudos que descrevem um bojo nela visível em diferentes comprimentos de onda, sugerindo a existência da barra estrelada.
Fonte: APOD