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Coronavírus no espaço? O que a NASA faria caso um vírus do tipo chegasse à ISS

Por| 13 de Março de 2020 às 17h30

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Em tempos de pandemia do novo coronavírus, uma curiosidade acabou pairando na mente de muitos: o que seria feito caso um astronauta enviado à Estação Espacial Internacional (ISS) levasse um vírus do tipo para lá? Ou melhor, quais são os protocolos da NASA com relação ao assunto?

Astronautas já ficaram doentes em algumas raras ocasiões desde o início da habitação contínua na ISS, no ano 2000. Foram registrados casos de infecções do trato respiratório superior, de pele e do trato urinário, por exemplo. Mas, muito antes disso, astronautas já chegaram a adoecer em missões espaciais, como aconteceu em 1968 com a tripulação da Apollo 7, quando os membros ficaram resfriados durante a missão — um dos astronautas provavelmente embarcou com um resfriado leve, espalhando-o aos colegas. E situações semelhantes aconteceram nas Apollo 8 e 9, cujos tripulantes também ficaram resfriados durante a viagem.

Depois disso, a NASA decidiu impor uma quarentena antes de qualquer voo espacial, garantindo que todos os astronautas da missão em questão estivessem realmente saudáveis antes do lançamento. Ainda assim, as experiências mais recentes na ISS mostram que é possível adoecer no espaço, mesmo saindo saudável da Terra.

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Doenças se manifestam de um jeito diferente no espaço

Sem um centro médico à disposição no laboratório orbital, os astronautas a bordo da ISS precisam "se virar nos 30" caso apresentem qualquer sintoma de alguma doença. Contudo, eles contam com assistência remota de médicos aqui na Terra, como aconteceu recentemente quando um astronauta teve uma trombose venosa enquanto estava na ISS — graças ao atendimento rápido, ainda que a distância, ele soube exatamente o que fazer para impedir um problema ainda maior.

Para que tal atendimento seja mesmo eficaz, é preciso considerar que doenças se manifestam de um jeito diferente no ambiente de microgravidade em comparação com a maneira como elas ocorrem aqui na Terra. Voos espaciais alteram a forma como o organismo funciona de várias maneiras, e tudo isso ainda vem sendo estudado, inclusive usando os astronautas da ISS como espécies de "cobaia" nessas pesquisas.

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Quando estão fora da Terra, humanos apresentam alterações nos níveis do hormônio do estresse e seus sistemas imunológicos também são afetados, o que abre caminho para uma gama de potenciais problemas de saúde. Afinal, um sistema imunológico prejudicado deixa o indivíduo suscetível a doenças oportunistas, e até mesmo reações alérgicas podem surgir, aparentemente "do nada".

Jonathan Clark, ex-cirurgião da NASA que atuou no programa dos ônibus espaciais, conta que vírus, como o da gripe ou mesmo o novo coronavírus, podem ser ainda mais facilmente transmitidos em um ambiente de microgravidade como a ISS. "A ausência de gravidade impede que as partículas se depositem, então elas ficam suspensas no ar e podem ser transmitidas com mais facilidade. Para evitar isso, os compartimentos são ventilados e os filtros HEPA do ar removem as partículas", explica.

Ainda assim, é preciso lembrar que, recentemente, descobriu-se que vírus adormecidos reagem ao estresse dos voos espaciais, e alguns deles, como o da herpes simples, acabam "despertando" por conta disso.

Além disso, estudos recentes também mostraram ser possível que a virulência bacteriana, aumentada no espaço, torne os tratamentos tradicionais com antibióticos menos eficazes.

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O que fazer se uma doença for disseminada no espaço?

Aqui na Terra, ainda estamos descobrindo como se dá a propagação da COVID-19 para que surjam medidas de contenção da pandemia. Mas o que fariam astronautas em um futuro habitat lunar, por exemplo, ou em uma colônia marciana, caso algum viajante leve um vírus do tipo para lá? Especialmente ao considerar que vírus se espalham mais facilmente no espaço e que os tratamentos convencionais podem funcionar de um jeito diferente?

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Neste cenário hipotético, a primeira medida a ser tomada, segundo Clark, seria a quarentena — ainda que isso seja desafiador em uma nave espacial ou habitat pequeno. "É muito difícil implementar uma quarentena em pequenos espaços, mas um membro infectado na equipe seria isolado em seu dormitório enquanto estivesse sintomático, usando uma máscara para contenção", explica. Além disso, culturas seriam obtidas e analisadas para identificar o microorganismo presente em seu sistema, para que um tratamento apropriado fosse providenciado com urgência.

Depois disso, caso a missão em questão não conte com um médico a bordo, o jeito será fazer como, hoje, fazem os astronautas da ISS: contar com a assistência remota emergencial. Mas fica a pergunta: "Como assim missões espaciais não têm médico a bordo?". Calma, pois não é como se os astronautas fossem enviados ao espaço totalmente despreparados para lidar com eventuais emergências médicas.

Astronautas têm treinamento médico

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A NASA fornece treinamento médico intensivo a astronautas que estão se preparando para irem ao espaço, prevendo um preparo para a maioria dos problemas de saúde que podem acontecer quando o indivíduo estiver fora da Terra. São ensinadas coisas como técnicas de reanimação, costurar feridas, aplicar injeções e até mesmo extrair dentes.

Esse treinamento prevê os problemas médicos mais comuns que podem ser enfrentados na ISS, incluindo como lidar com enjoos, dores de cabeça e nas costas, afecções de pele, queimaduras, etc. Mas claro que se trata apenas de um treinamento e, por mais intensivo que possa ser, não substitui o conhecimento de um médico que estuda o assunto por anos a fio.

O kit médico existente na ISS é básico, incluindo itens de primeiros socorros, um livro sobre condições médicas e alguns equipamentos de utilidade geral, como um desfibrilador, um ultrassom portátil, um dispositivo para se observar os olhos profundamente, e soluções salinas.

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Sendo assim, espera-se que a maioria dos problemas de saúde enfrentados por astronautas no espaço, seja na ISS ou nas futuras missões tripuladas à Lua e a Marte, sejam contornados sem grandes problemas — com a ação dos próprios astronautas, ou com auxílio médico à distância. Contudo, no caso de uma infecção viral mais grave, como a do novo coronavírus, a coisa pode mudar de figura: é possível que tal astronauta infectado precise ser enviado de volta à Terra em caráter emergencial.

Por isso, a NASA precisa ter um plano B caso esse tipo de situação aconteça, ainda que as chances sejam extremamente baixas de um astronauta infectado ser lançado ao espaço — afinal, hoje em dia eles passam por uma avaliação médica completa antes do embarque, incluindo quarentena preventiva. Esse plano B envolveria ter ao menos uma nave espacial à disposição para trazer o astronauta doente de volta ao planeta.

Fonte: Space.com, BBC, NASA