Turismo espacial | Como ficará a saúde dos candidatos a viajantes siderais?
Por Natalie Rosa |
Desde que a humanidade começou a se aventurar em viagens espaciais, há muita preocupação e debates sobre o impacto dessas experiências na saúde dos astronautas. E, muito em breve, endinheirados poderão viajar ao espaço, fazendo as vezes de astronautas, graças ao iminente mercado do turismo espacial — e, por isso, a medicina espacial precisa evoluir.
Em um artigo recente, escrito por três especialistas em medicina espacial, alguns aspectos críticos são avaliados para que médicos fiquem mais alertas na hora de cuidar de um paciente que está planejando ir ao espaço.
"Historicamente, a medicina espacial era a competência de médicos que cuidavam de populações altamente selecionadas de astronautas — indivíduos excepcionalmente saudáveis, aptos e tolerantes ao estresse, sem nenhuma condição médica de qualquer tipo", conta Jan Stepanek, autor principal do estudo e prestes a se tornar especialista em medicina espacial pela Mayo Clinic. Mas para o turismo espacial, a exigência não é tanta assim, o que pode ser preocupante.
A estratégia da NASA é deixar em terra qualquer um de seus candidatos a astronautas que, possivelmente, não conseguiriam lidar com viagens espaciais, seja física ou psicologicamente. Para Richard Scheuring, cirurgião no Johnson Space Center da NASA, isso é o certo a se fazer.
No entanto, no caso de turistas espaciais, o processo não é o mesmo. Ashley Shew, especialista em estudos de deficiência e interseção de ciência, tecnologia e sociedade da Virginia Tech, comenta a prática atual que diz que organismos que não estão de acordo com certos ideais são problemáticos, quando deveriam ser considerados apenas diferentes.
Shew conta ainda que a medicina espacial não costuma visar os benefícios de organismos diferentes, muito pelo contrário. "Os organismos que sempre escolhemos são os que consideramos os melhores, mas esses não são os melhores para o espaço em geral", disse a cientista.
Centenas de pessoas já visitaram o espaço
Até então, quase 600 pessoas já tiveram a oportunidade de viajar pelo espaço, mas apenas sete delas foram clientes pagantes. Milhares já estão esperando pela sua vez, enquanto empresas como SpaceX, Virgin Galactic e Blue Origin planejam transformar o turismo espacial em uma tendência.
Médicos e cientistas ainda têm dúvidas sobre como esses voos afetam o corpo humano, até porque pouquíssimos astronautas passaram muito tempo no espaço, até então. No máximo, três pessoas ficaram mais de 200 dias seguidos em órbita, rumo à quarta, Christina Koch, que foi lançada para a ISS em 14 de março e teve sua missão prolongada justamente para que a NASA tenha mais chances de estudar os efeitos da longa exposição à microgravidade ao organismo.
Stepanek e os outros autores do estudo analisaram as diferentes reações e desafios que alguns tipos de voos podem trazer. No caso de voos suborbitais, por exemplo, as consequências podem ser sensações de ansiedade e enjoo, além de terem de lidar com ruídos altos, pequenos espaços e a mudança na sensação da força da gravidade. Segundo três estudos citados no artigo, realizados pela FAA (Administração Federal de Aviação), quatro a cada cinco pessoas com idades entre 19 e 89 anos podem tolerar a força da gravidade associada a voos suborbitais.
Até o momento, não existem regras que exijam que as empresas de turismo espacial estabeleçam ou atendam a qualquer critério de saúde para selecionar passageiros; os interessados precisam apenas assinar uma declaração dizendo que entendem os riscos, além de, claro, ter muito dinheiro. "Eu não acho que nenhum dos praticantes do espaço comercial vão assumir riscos excessivos com as pessoas", completa Scheuring.
O artigo completo e com mais abordagens sobre o tema está disponível para consulta online.
Fonte: Space