Aminoácido glicina parece ter sido descoberto na atmosfera de Vênus
Por Patricia Gnipper |

Depois da "bomba" de uma provável presença de fosfina na atmosfera de Vênus, o que pode (ou não) ser uma bioassinatura (ou seja, resultado da ação de seres vivos), agora é hora de mais uma novidade por lá: pesquisadores afirmam terem descoberto que a atmosfera venusiana também abriga o aminoácido glicina, que é um dos aminoácidos do código genético, sendo um dos componentes das proteínas dos seres vivos.
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O artigo que anuncia a descoberta ainda aguarda a revisão por pares, para que então seja aceito e publicado em um periódico científico. É importante frisar que, embora a glicina (bem como outros aminoácidos) não seja uma bioassinatura, ela faz parte dos blocos de construção da vida como a conhecemos — especificamente, o bloco de construção das proteínas. A glicina também foi uma das primeiras moléculas orgânicas que surgiram na Terra.
Para detectar o que entenderam ser glicina na atmosfera de Vênus, pesquisadores liderados por Arijit Manna, do departamento de física da Midnapore College, na Índia, contaram com o observatório Atacama Large Millimeter / submillimeter Array (ALMA), usando espectroscopia. A glicina parece ter sido detectada nas proximidades do equador venusiano, com nada sendo observado nos polos.
Para os autores, a detecção de glicina "pode ser uma das chaves para a compreensão dos mecanismos de formação de moléculas prebióticas na atmosfera de Vênus", pois a atmosfera superior do planeta "pode estar passando por quase o mesmo método biológico que a Terra bilhões de anos atrás". Ou seja: a descoberta levanta ainda mais a dúvida quanto a algum processo biológico realmente acontecendo no "planeta infernal".
Vale lembrar que Vênus é um planeta extremamente inóspito: ele tem uma densa atmosfera ácida e temperaturas superficiais altas o suficiente para derreter uma espaçonave, com uma pressão atmosférica intensa que é capaz de esmagar qualquer coisa que pouse por lá. No entanto, em determinadas altitudes da atmosfera venusiana, a coisa muda de figura: entre cerca de 48 e 60 km acima da superfície, as temperaturas médias são análogas às que temos na superfície da Terra, variando entre -1 °C e 93 °C.
Por isso, há a hipótese de que algum tipo de vida poderia sobreviver nessas regiões, se reproduzindo e prosperando sem nunca chegar à superfície impossível do planeta. E a nova descoberta da glicina, se confirmada, aumenta ainda mais esse mistério — até porque os dados apontam a presença de glicina de maneira que coincidiria com a presença da fosfina.
Mas vale lembrar que o estudo ainda está no processo de ser validado por pares e publicado oficialmente, então ainda é cedo demais para afirmar que existe, de fato, glicina ao lado de fosfina na atmosfera de Vênus. Aguardemos mais estudos!
Fonte: Universe Today