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Vida em Vênus? Pesquisadores encontram bioassinatura na atmosfera do planeta

Por| 14 de Setembro de 2020 às 17h04

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Vida em Vênus? Pesquisadores encontram bioassinatura na atmosfera do planeta
Vida em Vênus? Pesquisadores encontram bioassinatura na atmosfera do planeta

Com suas condições duras, Vênus não é exatamente o planeta mais popular para a busca de vida — mesmo que, em 1967, Carl Sagan tenha proposto a possibilidade de ocorrência de vida por lá. Hoje, uma equipe internacional de pesquisadores liderada pela professora Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, anunciou a descoberta de fosfina nas nuvens de Vênus. Essa é uma substância rara, que é encontrada em nosso planeta na atividade industrial ou por processos realizados por microrganismos. O estudo foi publicado na revista Nature.

Para o estudo, a equipe utilizou o telescópio James Clerk Maxwell Telescope (JCMT), no Havaí, para detectar a fosfina, e tiveram sucesso. Depois, junto de 45 telescópios do ALMA, no Chile, eles confirmaram que haviam encontrado as moléculas. A professora Greaves vê o resultado com surpresa: “pensei que conseguiríamos descartar cenários extremos, como as nuvens estarem cheias de organismos. Quando conseguimos os primeiros indícios de fosfina no espectro de Vênus, foi um choque”.

Depois, os dados foram analisados por Hideo Sagawa, professor da Universidade Kyoto Sangyo. Ele utilizou seus modelos da atmosfera venusiana para interpretar os dados coletados, e descobriu que, de fato, a fosfina está presente, mas é escassa — existem apenas vinte moléculas para cada bilhão. Então, o cientista Dr. William Bains liderou a pesquisa para verificar formas de produzir fosfina, mas nenhuma das possibilidades pareciam produzir o suficiente da molécula.

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Para criar a quantidade de fosfina observada em Vênus, os organismos terrestres precisam de apenas 10% da sua capacidade de produtividade máxima; entretanto, precisamos ter em mente que os microrganismos de Vênus seriam bem diferentes daqueles da Terra. Durante anos, os astrônomos especulam que as nuvens altas em Vênus poderiam abrigar microrganismos; o problema desta possibilidade é que eles teriam que resistir a uma acidez altíssima. Por isso, a descoberta das moléculas de fosfina — compostas por hidrogênio e fósforo — poderiam ser uma indicação destas formas de vida “aéreas”. A equipe sabe que a descoberta é significativa, porque exclui outras formas de produzir fosfina, mas ainda são necessários mais estudos.

Muita calma nessa hora

Vênus tem condições extremas, de modo que o planeta está longe de ser um dos favoritos para a busca de vida. Mesmo assim, existem hipóteses antigas sobre formas de vida microscópicas que poderiam estar presentes no planeta, e esta evidência descoberta pelos pesquisadores dá apoio a esta hipótese. Porém, ainda há um caminho a ser percorrido até descobrirmos se realmente existe vida por lá.

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Neste primeiro momento, é importante manter a cautela: o anúncio de hoje é o primeiro sobre uma detecção de altíssima dificuldade. Para chegarem aos resultados, os pesquisadores tiveram que analisar dados e modelos complexos. Neste processo, podem existir erros ou eles podem ter até deixado de considerar informações importantes que poderiam distorcer os resultados. A melhor forma de saber se isso ocorreu é por meio da análise por equipes científicas independentes, que ainda será feita.

Além disso, encontrar uma só bioassinatura não confirma que a vida foi encontrada em outro planeta — basta lembrar do episódio em que metano foi encontrado em Marte, que poderia significar uma bioassinatura, mas essa é apenas uma das possibilidades para explicar sua presença. O problema é que, ao estudar o gás mais profundamente, os resultados obtidos se mostraram contraditórios e inconclusivos. No caso de Vênus, ainda é necessário verificar se foi encontrada uma molécula que tem assinatura química semelhante à fosfina. Para isso, também são necessários mais estudos.

Por fim, os pesquisadores reconhecem no estudo que não conseguem explicar o motivo de haver fosfina na atmosfera venusiana. A presença de vida pode ser uma explicação, mas ela traz alguns questionamentos sobre a apresentação dos dados, as limitações da pesquisa e outros pontos do estudo que precisam ser observados criticamente. Até o momento, o time parece ter feito um bom trabalho para verificar os resultados e limitar possíveis influências pessoais nas análises. Então, precisamos esperar pesquisas futuras, que irão contribuir para o debate científico desta questão.

Fonte: Space Ref, Sociedade Planetária