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Crítica Rua do Medo: 1978 - Parte 2 | Mais no passado, mais sobre nós

Por| Editado por Jones Oliveira | 07 de Julho de 2021 às 19h00

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Rua do Medo: 1978 - Parte 2 dá seguimento à história que vimos “começar” em 1994 e, assim, a Trilogia Rua do Medo começa a fazer um interessante movimento: enquanto avançamos rumo ao passado em cada filme, com o próximo nos levando para 1666, a história principal se desenrola cronológica e paralelamente aos flashbacks. Assim temos um início no primeiro filme e estamos nos encaminhando para o princípio da maldição de Sarah Fier, conforme promete a sinopse do terceiro filme.

Com isso, a diretora Leigh Janiak dá um passo além nos ensinamentos de Wes Craven e mistura o terror cult e pop, respeitando a regra de que pode fazer qualquer coisa, desde que não estrague o original. Aqui, porém, o original não é apenas a série de livros de R. L. Stine, mas todos os filmes que são referenciados pela produção e que indicam como as fórmulas do terror não só podem ser atualizadas, como parecem que foram criadas para isso.

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Atenção! A partir daqui, a crítica pode conter spoilers.

Além de Halloween

Halloween: A Noite do Terror foi, por muito tempo, o grande paradigma do slasher e mantém o merecido respeito com a nova trilogia, mas este é um título que faz parte do braço mais sério do terror. A diversão, no entanto, muitas vezes está em outros lugares que não na virtuose do diretor. Rua do Medo: 1978 - Parte 2 pega justamente esse lado mais farofa do terror e explora as fórmulas de adolescentes fazendo “coisas que não devem” no meio do mato, sem (muitos) adultos por perto. O cenário perfeito para dar tudo errado.

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Assim, Janiak deixa um pouco de lado as referências a Halloween e Pânico a dá abertura para um slasher ao estilo de Sexta-feira 13, com uma entidade à solta matando quem aparecer pela frente: a essência da diversão dos slashers. Ao longo da trama, o assassino de Camp Nightwing acaba ganhando a máscara de saco de estopa que vimos no primeiro filme, deixando ainda mais clara a alusão a Jason Voorhees, que não usava a máscara de hóquei desde o princípio.

Como prometido, o segundo filme choca mais com a violência. Embora 1994 tenha mostrado uma cabeça sendo fatiada (e deixando a franquia Jogos Mortais orgulhosa), 1978 pega mais pesado matando criancinhas, ainda que não mostre isso acontecendo, deixando para nós apenas as marcas de sangue como provas dos horrores. Assim, não existe mais inocência que salve, libertando os personagens de consequências ligadas a seus estereótipos.

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Um passo além

Enquanto os filmes mais genéricos dos anos 1970 e 1980 ajudaram a sedimentar certos estereótipos como indícios de quem iria morrer primeiro, ajudando a perpetuar preconceitos e salvando sempre a mocinha virgem, os anos 1990 começaram a questionar esses padrões de forma mais incisiva e, até recentemente, continuamos vendo como os mesmos estereótipos continuam servindo aos roteiristas, mesmo quando a ideia parece ser quebrar essa lógica.

Pânico nos mostra um personagem tentando se salvar do assassinado simplesmente por pertencer a um grupo sub-representado, e o recente A Babá: Rainha da Morte traz um personagem negro comemorando por não ser o primeiro a morrer. Esses exemplos mostram como os estereótipos mudam ao longo do tempo, corroborando a frase que encerra Rua do Medo: 1994: “Os tempos mudam. O demônio não.”

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Janiak vai fundo no aprendizado e encontra os elementos necessários para não precisar aprofundar os vilões que, até então, surgiram apenas como “marionetes” da bruxa Sarah Fier. Assim como o vilão essencialmente maligno de Halloween, os assassinos bizarros de Rua do Medo têm como única intenção cumprir a missão de matar quem a bruxa achar que deve morrer. Assim como acontece com Michael Myers, os encontros com os assassinos são quase sempre fatais em 1978, porque há pouco espaço para a reação das vítimas, que são atacadas sem dó e sem piedade (para a sorte de quem se diverte com os baldes de sangue e com o foley super convincente e capaz de causar muita agonia).

Retrospectivamente, consigo entender o movimento genial que faz A Hora do Pesadelo, de Wes Craven, quando termina indicando que a cartilha foi seguida e que a virgem se salva no final. Só que não. Pouco antes de iniciarem os créditos, as imagens revelam que a "vida normal" era apenas o início de mais um pesadelo com Freddy Krueger: ninguém se salva, porque o mal sempre consome tudo até o fim.

Esse movimento, no entanto, permite que a direção se volte para os personagens adolescentes e, em Rua do Medo, o que vemos é uma trama que aponta os adolescentes como responsáveis pelos próprios atos, ainda que acidentes do acaso permeiem a normalidade com caos e sangue. Os tradicionais temas de amizade, fraternidade e romance estão lá, claro, mas com um teor bastante bem atualizado, com questionamentos racionais e uma construção mais realista de estereótipos: nem toda patricinha é loira, nem toda excluída é gótica, nem sempre a mais sexualizada é a líder de torcida… e nem sempre Romeu e Julieta ficam juntos até o fim.

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O evento continua...

Rua do Medo: 1978 - Parte 2 é um grande flashback e, por ser uma história contada, adquire uma áurea de nostalgia nos moldes de Stranger Things (não à toa, este é o filme estrelado por Sadie Sink), marcando algumas características como elementos que se repetem nas produções Netflix. A história dentro da história permite que o roteiro se desdobre sobre a parte mais divertida do slasher, porque não está contando muito além da história de um massacre que, por acaso, acaba revelando pistas importantes pelo caminho.

Com o segundo filme, Rua do Medo mantém o ótimo nível de qualidade do primeiro, mas, pelo que vimos no trailer, é provável que Rua do Medo: 1666 - Parte 3 dê um salto estético que pode surpreender os fãs. Como comentamos acima, a volta ao passado na história tem nos levado a diferentes referências e as imagens indicam que o terror mais sóbrio do relativamente recente A Bruxa, de Robert Eggers.

Rua do Medo: 1978 - Parte 2 chega ao catálogo da Netflix na sexta-feira, dia 9 de julho.

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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.