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Rua do Medo | Por que os livros são adorados e vão ganhar filmes na Netflix?

Por| Editado por Jones Oliveira | 26 de Junho de 2021 às 17h00

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Reprodução/Netflix
Reprodução/Netflix
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Aqui no Brasil, Rua do Medo ainda não é tão conhecida quanto a outra série de livros de R.L. Stine, Goosebumps, que teve livros, séries, jogos e filmes amplamente distribuídos. Em outros lugares, no entanto, Fear Street (no original em inglês) obteve uma enorme popularidade e a chegada da Trilogia Rua do Medo (1994, 1978 e 1666) à Netflix não é menos que especial. Enquanto os livros têm classificação livre e são indicados para todas as idades, o filme será R Rated nos EUA, chegando por aqui com classificação indicativa “para maiores de 18 anos”.

Claro que a Netflix tem interesse em conquistar novos fãs para a franquia e, por isso, não deve ser necessário conhecer os livros para apreciar os filmes. Por outro lado, a mudança de classificação indicativa mostra que a adaptação, assim como a franquia Harry Potter, cresceu com os fãs e quer entregar uma obra que agrade os adultos que, outrora, eram crianças leitoras de R.L. Stine.

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Assim, a plataforma de streaming tem fortes chances de unir um público muito diversificado, atraindo também os fãs da sua série original Stranger Things com a presença de atores-mirins muito queridos do público contemporâneo como Sadie Sink, que interpreta Max Mayfield na série teen fantástica.

Para entender a importância da trilogia Rua do Medo, trouxemos algumas informações para atualizar quem não conhece o autor, os livros ou para quem simplesmente quer saber que tipo de terror (parece) ser este.

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Como é a obra de R.L. Stine?

Quando a fantasia fica sombria e a imaginação dá asas a situações que provocam medo através da arte, encontramos o terror. Este, no entanto, é um gênero diverso e, apesar de ter obras polêmicas, complexas e muito assustadoras, também é um gênero bastante pedagógico e tem sido utilizado há séculos para ditar a moral e os bons costumes (?) da sociedade ou questionar os padrões. Era de se esperar, claro, que houvesse terror para crianças, com obras que também ajudam a saciar a curiosidade dos pequenos enquanto eles ainda não têm condições de encarar algo como O Exorcista.

Os livros de R.L. Stine são uma mistura de terror e comédia, um terrir equilibrado para que crianças possam passar pela montanha-russa de emoções do terror de uma forma mais branda. Como o próprio autor explica em entrevista, mesmo quando os editores o incentivam a ser mais assustador, ele evita seguir por esse caminho porque não quer assustar as crianças. Não de verdade, só um pouquinho.

"Meu primeiro romance de terror para adolescentes se chamava Blind Date. Eu nunca tinha escrito um. Nunca planejei escrever terror. [...] Fiz visitas às escolas depois e perguntei: 'Por quê? Por que vocês gostam desses livros?' E toas as vezes as crianças diziam: 'Gostamos de ficar com medo'. E eu tenho sido assustador desde então".
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A preocupação com esse público especialmente exigente, que é o infanto-juvenil, afeta profundamente a obra de R.L. Stine, mas o autor vê esses contatos e trocas com os leitores com bons olhos. Na mesma entrevista, ele comenta sobre uma vez em que cruzou o limite e lançou um final infeliz:

"Sim. Um final infeliz, o que nunca faço. E aquele livro me assombrou. Os leitores se voltaram contra mim imediatamente. Eu recebi um e-mail que dizia 'R.L. Stine, seu idiota. Como você pode fazer aquilo? Seu idiota. Por que você escreveu aquilo?' Eu iria fazer visitas escolares por meses e as mãos iriam subir. 'Por que você escreveu aquele livro ...?' Eles odiaram. E essas crianças escreveram e disseram, 'Você vai escrever uma sequência para terminar a história?' Eles não podiam aceitar um final infeliz, então escrevi uma sequência para terminar a história. Eu nunca fiz isso de novo".

O terror de R.L. Stine é cativante justamente por ser seguro e divertido. Durante a entrevista, o tema surge e a conclusão entregue pelo diálogo é de que as crianças querem viver o medo, a tensão e o suspense, mas também querem, como uma espécie de exigência, se sentirem seguras no final. E é por isso que, nos livros, não há “maldades” reais. As ameaças são sempre fictícias.

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Ele explica que se diverte fazendo os livros e que é uma condição pessoal sua a de rir ao ler ou assistir histórias de terror. É com esse mesmo espírito que ele escreve suas séries de livros, mas o fato de ser um terrir não diminui o valor dos livros. O sucesso de Goosebumps e Rua do Medo também tem a ver com o poder de escapismo e as possibilidades de auxílio pedagógico e psicológico da obra, ainda que o autor não escreva com esse intuito, conforme explicou Stine:

"Estava conversando com um psicólogo infantil em Los Angeles uma vez e ele me disse que tinha uma paciente, uma garota que era uma criança com muitos medos, e ela entrava e simplesmente recitava os enredos dos livros de Rua do Medo. Ele pensou que isso estava ajudando ela a superar esses medos.Mas não sei, não penso nisso".

O autor também desmistificou a ideia de que livros devem conter histórias que precisam “vir do coração” e defendeu a ideia de um terror que entretém sem grandes pretensões, discussão que também foi levantada pelo personagem de Jordan Peele no último episódio da primeira temporada de Além da Imaginação, colocando duas formas de terror completamente diferentes em alguma convergência.

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"Quando os autores vão às escolas e dizem às crianças 'Escreva com seu coração', essas crianças nunca mais vão escrever! Eu digo para as crianças: 'Já escrevi 330 livros, nenhum veio do meu coração. Nem um sequer! Todos eles foram escritos para entreter o público. É isso'”.

E os filmes?

A cineasta estadunidense Leigh Janiak estreou com o terror Honeymoon, que contava com Rose Leslie como protagonista em 2014, mesmo ano em que acabou a série Game of Thrones, na qual interpretou a nortenha Ygritte. Na sequência, a diretora dirigiu episódios das séries Outcast (2016-2017), Pânico (2015-2019) e Panic (2021-). Em 2021, ela chega metendo o pé na porta com uma trilogia que tem cara de que pode sedimentar o terror teen e jovem adulto da Netflix como uma corrente do terror que merece capítulos nos próximos livros de história do cinema — embora nada disso possa acontecer; só o tempo revelará o impacto da trilogia.

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Os filmes da Netflix chegam com um conteúdo adulto, contrariando quem estava esperando uma adaptação nos moldes de Goosebumps: Monstros e Arrepios. Nos EUA, os filmes foram classificados como +18 por forte violência sangrenta, conteúdo de drogas, linguagem, conteúdo sexual, terror violento e sangrento, nudez e uso de drogas. Na versão brasileira da Netflix, as três partes já têm suas landing pages, onde podemos ler que 1994 - Parte 1 e 1666 - Parte 3 foram classificados como arrepiantes, assustadores e irreverentes, enquanto 1978 - Parte 2 é arrepiante, sangrento e para horrorizar.

O trailer nos mostra que a trilogia está toda trabalhada nas referências e, para os novos fãs do cinema de horror, deverá servir como uma obra sumária para quem ainda não foi introduzido aos títulos mais canônicos do gênero. Para quem já conhece, os filmes devem ganhar novas camadas de diversão, com as três partes podendo ser revisitadas para detectar todas aquelas coisas que fazem parte do “culto” ao filme de terror: entender as entrelinhas, buscar as referências, encontrar os easter eggs

Com a trilogia, a Netflix pode mostrar que seu terror está para o cinema assim como a obra de R.L. Stine está para a literatura infanto-juvenil: obras que prioritariamente são um entretenimento, mas que nem por isso abrem mão de serem pensadas especialmente para o seu público. Um mutualismo artístico perfeito. Só falta vermos se vai dar certo.

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Até o momento, muito do conteúdo da Trilogia Rua do Medo está sendo mantido em segredo, mas em breve mais informações devem ser divulgadas conforme o evento vai se desenvolvendo ao longo de três semanas: Rua do Medo: 1994 - Parte 1 estreia em 2 de julho na Netflix e será seguido por Rua do Medo: 1978 - Parte 2 em 9 de julho e Rua do Medo: 1666 - Parte 3 em 16 de julho.

Com informações: Gen

Fonte: Gen