Quem é O Homem Mais Odiado da Internet?
Por Felipe Demartini • Editado por Jones Oliveira |
Com tanto ódio correndo solto na rede, não é tarefa fácil se tornar O Homem Mais Odiado da Internet. Mas Hunter Moore conseguiu e, agora, a história de seus crimes e da luta de uma mãe para levá-lo à Justiça serão o assunto de uma das séries mais aguardadas da Netflix em julho, que estreia no dia 27 no Brasil.
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Dos mesmos produtores de O Golpista do Tinder e Don’t F**k With Cats, O Homem Mais Odiado da Internet é a história do indivíduo por trás de um site com o "intuito de destruir vidas", nas palavras de uma das fontes ouvidas no documentário. Não apenas fotos e vídeos íntimos eram postadas lá, como também nomes completos, detalhes de ocupação ou estudo e links para redes sociais das mulheres retratadas, de forma a garantir que as imagens que deveriam ser privadas invadissem a vida pública das vítimas.
Tudo enquanto Moore lucrava com o alto número de acessos e, publicamente, assumia uma faceta de remorso zero e menos culpabilidade ainda. Capas de revistas, reportagens na TV e denúncias oficiais não eram suficientes para pará-lo, com a ação da mãe de uma das vítimas sendo a principal responsável por encerrar suas atividades e fazê-lo responder pelos crimes que cometeu.
É justamente nessa história que O Homem Mais Odiado da Internet foca, assim como nas pessoas que seguiam Moore quase como em um culto, emulando suas atitudes e ameaçando as vítimas das publicações gerenciadas por ele. Serão três episódios relatando essa história e os impactos dela nas vidas das vítimas e envolvidos na derrubada do site de pornô de vingança.
Quem é O Homem Mais Odiado da Internet?
Hunter Moore tinha 24 anos de idade quando fundou o Is Anyone Up? (Alguém Acordado?, em inglês), um site que, durante os dois anos em que esteve no ar, se tornou um centro de compartilhamento de imagens íntimas na internet. Lá, os usuários eram convidados a hospedarem não apenas imagens e vídeos, mas também informações pessoais dos retratados, principalmente mulheres jovens — incluindo menores de idade.
Ex-namorados, cibercriminosos ou desafetos eram os principais alimentadores da página, motivada por vingança e ataques pessoais. Não apenas as próprias mulheres eram citadas, como também locais de trabalho e detalhes de pais e cônjuges, como um convite à perseguição e difamação pública de quem aparecia no site.
Na medida em que a página ganhava reconhecimento, Moore começou a se referir a si mesmo como um “arruinador profissional de vidas” e “o rei do pornô de vingança”, exibindo em suas redes sociais um estilo de vida regado a festas, álcool e mais, enquanto deixava claro que todo o dinheiro vinha dos lucros de um site dedicado a exibir imagens privadas. Ele publicava, até mesmo, os pedidos que vinham por e-mail para retirada das imagens do ar, deixando claro que seu objetivo final era a humilhação, pura e simples.
Entre agradecimentos pela maldade cometida por terceiros, como afirmava a mensagem que confirmava o envio de imagens ao Is Anyone Up?, Moore também zombava das autoridades. Ele respondia a intimações e ordens de retirada de conteúdo do ar com risadas, da mesma forma que fez quando foi atacado fisicamente por uma das jovens cujas imagens foram publicadas no site. Ela desferiu um golpe com uma caneta no ombro do responsável pelo site, gerando uma onda ainda maior de ódio e escárnio.
O termo “O Homem Mais Odiado da Internet”, que também batiza a série da Netflix, foi cunhado por uma reportagem da rede britânica BBC em 2012, quando Moore ainda acreditava estar no auge. Afinal de contas, ele gerenciava um serviço com 100 milhões de acessos e que rendia US$ 25 mil de lucro mensal sem fazer absolutamente nada além de falar bobagem na internet.
No mesmo ano, porém, os eventos começaram a virar quando ele começou a ser investigado pelo FBI, um reflexo direto das ações de Charlotte Laws, ativista e mãe de uma das vítimas, que reuniu um dossiê com provas de mais de 40 vítimas das ações do criador do site. Após bravatas que incluíam a compra de uma arma para atacar quem publicasse sobre a história na imprensa e até uma ameaça de incendiar a redação de um jornal americano, o processo seguiu adiante.
Ao mesmo tempo, se desenrolava nos bastidores uma trama envolvendo James McGibney, fundador de um site voltado para expor traições em relacionamentos, e o grupo hacktivista Anonymous. Juntos, ele e Laws acabaram contribuindo ativamente para o fim do Is Anyone Up? e, principalmente, para dar fim ao estilo de vida de Moore.
Enganado, investigado e preso
Antes mesmo da investigação vir à tona, Moore vendeu o Is Anyone Up? à Bullyville, uma organização estadunidense de combate ao bullying que retirou a página do ar em abril de 2012. O criador, porém, não sabia disso e, na ocasião, disse estar cansado de receber ameaças de morte e processos judiciais, ainda que afirmasse que esse não era o seu fim no mundo da pornografia. A realidade, porém, logo veio à tona quando seu nome foi estampado nas páginas dos jornais como parte de um inquérito do FBI.
Entra aqui, também, outro trunfo de Laws. Ainda que, no início dos anos 2010, o pornô de vingança fosse desconhecido do público, a ponto de muitas autoridades atribuírem às vítimas retratadas nas imagens a responsabilidade por se deixarem registrar dessa maneira, o mesmo não valia para crimes cibernéticos. Essa ainda era uma novidade na época, mas bem mais reconhecida como algo que exigia investigação das autoridades.
A ativista descobriu que muitas das imagens disponíveis no Is Anyone Up? haviam sido obtidas pelo próprio Moore em parceria com um cibercriminoso chamado Charles Evens, que era pago para invadir contas de e-mail de mulheres cujas imagens acabavam indo parar no site. Isso rendeu acusações de conspiração, acesso não-autorizado a computadores e roubo de identidade para o autointitulado “rei do pornô de vingança”, que foi preso em 2014.
Enquanto isso, McGibney estava ao lado de membros do Anonymous na obtenção de informações sobre Moore, que incluíam não apenas seus dados privados como também detalhes da operação do Is Anyone Up?. Descobriu-se, por exemplo, que ele não ganhava tanto dinheiro quanto alegava nas redes sociais, o que facilitou o aceite de uma proposta baixa de compra diante das acusações que estavam no horizonte.
O repentino sumiço das imagens íntimas e o redirecionamento do Is Anyone Up? para um site de luta contra o bullying machucou até mesmo a reputação de Moore diante de seus seguidores. Ele chegou a afirmar publicamente que abriria um novo site pornográfico, enquanto acusava McGibney de pedofilia e fazia ameaças de abuso à esposa dele, antes de desaparecer do olhar público na medida em que o cerco das autoridades se fechava e novos ataques do Anonymous o intimidavam.
Em 2015, ele admitiu culpa das acusações e foi condenado a dois anos e meio de prisão, com mais três de liberdade condicional, além de uma multa de US$ 2 mil. Ele também foi condenado a pagar US$ 250 mil a McGibney pelas ameaças realizadas após a venda do Is Anyone Up?.
Morre também está banido de usar o Facebook desde 2011, mesmo ano em que a banda A Day to Remember se recusou a tocar em um festival de música ao descobrir que o acusado estava na plateia. A atitude foi tomada em respeito às vítimas que incluíam o baixista Joshua Woodard, cujas imagens íntimas haviam sido publicadas no Is Anyone Up? poucas semanas antes da apresentação.
Moore deixou a prisão em 2017 e, nas raras ocasiões em que falou sobre si publicamente, disse estar escrevendo um livro sobre sua história e trabalhando em um projeto de música eletrônica. Seu perfil no Instagram segue no ar como um dos poucos registros dos tempos de esbórnia em que ele jurava ser intocável.
Quando O Homem Mais Odiado da Internet estreia na Netflix?
O Homem Mais Odiado da Internet chega à Netflix no dia 27 de julho, às 5h. Os três episódios de uma hora da minissérie documental chegam de uma só vez; a produção é de Alex Marengo (Bandidos na TV) e Adam Hawkins (Três Estranhos Idênticos), com direção de Rob Miller (The Trial of Ratko Mladic).