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Crítica Invocação do Mal 3 | Demônio no tribunal ou propaganda para os Warren?

Por| Editado por Jones Oliveira | 16 de Junho de 2021 às 22h00

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Divulgação/Warner Bros
Divulgação/Warner Bros

Sabemos desde o início que os casos do casal Warren são (mais ou menos) baseados em fatos, mas Invocação do Mal 3: A Ordem Do Demônio chegou com a moral de estar adaptando o famoso caso “The Devil Made Me Do It”. Havia a possibilidade de se tornar um terror meio “filme de tribunal”, o que teria sido interessante, mas esta também era uma oportunidade para mostrar a visão da mídia sobre Ed e Lorraine. Não podemos ignorar, porém, que eles são as grandes estrelas heroicas da franquia e que, portanto, não poderão ser postos em xeque. Será?

Pela primeira vez sem James Wan, era esperado também que a franquia ganhasse um novo ritmo sob o comando de Michael Chaves, que fez um trabalho bem melhor se comparado ao outro filme que dirigiu para o mesmo universo, A Maldição da Chorona. De modo geral, a atmosfera se mantém, com aquele quê de terror gótico que dialoga com um público mais sedento por sustos. A recorrência (ainda que criativa) a recursos básicos de susto, como o jump scare, também demonstram a dependência que essas produções têm do cinema, o que quase justifica o lançamento exclusivo.

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Atenção! A partir daqui, a crítica pode conter spoilers.

Contexto

O filme abre com sequências que apresentam a casa e, aproveitando a regra clássica, o diretor consegue colocar o local como um personagem, indicando que algo antecede a história de possessão da família Glatzel. Após alguns outros eventos, o filme insere uma belíssima referência ao clássico do terror O Exorcista, filme bastante apontado como grande influenciador do pânico ao ocultismo que se instaurou nos EUA e que povoava a mente dos contemporâneos do julgamento.

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As referências se somam quando vemos David (Julian Hilliard) em uma cena que parece misturar duas imagens icônicas do suspense e do terror, o ataque no chuveiro de Psicose e a "chuva" de sangue que deixa o personagem lembrando Carrie, a Estranha. A reminiscência dessas imagens é suave e soa como se todo o terror encontrasse um grande ponto de convergência na cena que, aqui, ainda consegue soar essencialmente original.

Depois disso, ainda somos presenteados com o trecho em que David descobre o colchão de água, que evoca memórias de O Exorcista e A Hora do Pesadelo, além de rememorar um objeto que foi popular nos anos 1980 e teve uma aparição icônica também em Edward Mãos de Tesoura. O uso de luzes também é interessante em Invocação do Mal 3 e auxiliam no terror, mas infelizmente parece que o roteiro evitou qualquer vespeiro, pecando pelo excesso de segurança.

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Os jornais de 1981 registraram, sob diversos ângulos, o desenvolvimento do caso, que ficou bastante famoso na época e chegou a ganhar uma adaptação cinematográfica (ainda mais fictícia) em O Exorcista do Demônio (1983). O tom desses textos, no entanto, retrata um pouco como os Warren poderiam estar supostamente se aproveitando da cobertura jornalística, que se voltou para o primeiro caso em que a defesa alegou inocência usando possessão demoníaca como justificativa. A Ordem do Demônio, no entanto, não entra muito nesse aspecto da história.

Provas

Quando o assassinato ocorre, os Warren prontamente se colocam ao lado da família Glatzel, iniciando uma trama investigativa que colocará diversos obstáculos paranormais no caminho do casal. O julgamento inicia a corrida para reunir as provas necessárias, o que poderia ser esperado, mas o filme se desvia completamente desse percurso, retornando ao julgamento somente no final, para nos entregar o veredito, sem nos mostrar como o tribunal e, sobretudo, o júri, reagiu ao caso.

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Fugindo do direito, o roteiro acaba colocando os Warren em situações bastante delicadas em um caso de assassinato. É quase risível quando vemos Ed resolver o problema da funerária arrombada dizendo que deixará um bilhete explicando, como se isso fosse resolver o problema de eles terem invadido um estabelecimento que não é propriedade deles (e ainda é repleto de tabus) para tocar em um corpo que era peça fundamental de outro crime.

Embora os eventos mostrados por Invocação do Mal 3 sirvam como provas no contexto do filme, não podemos assumir que eles também serviram como provas no tribunal e acaba que os espectadores podem ficar sem saber o quão sério (ou não) foi esse caso. Com isso, Invocação do Mal 3 deixa transparecer as fragilidades dos Warren como heróis incorruptíveis.

Ficção

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O terceiro filme começa a explorar com mais vigor a figura de Lorraine e a montagem é ótima ao nos conduzir da realidade às visões com fluidez. No papel, Vera Farmiga concede uma sinceridade necessária à verossimilhança do filme e ajuda a criar a ilusão de que estamos vendo o caso real. Por outro lado, o Ed de Patrick Wilson começa a se revelar cada vez mais como um empresário dos empreendimentos Warren, ainda que isso seja profundamente entrelaçado pelo amor, com um destaque para um momento fofinho de casal no final.

As atuações dão aos personagens a dubiedade que o roteiro se recusa a criar, deixando o filme aparentemente mais inteligente, ainda que isso tenha acontecido acidentalmente. De qualquer forma, é preciso lembrar que “inspirado” e “baseado” não é o mesmo que “reprodução literal”, de modo que há um bocado de fantasia nessa história, o que fica ainda mais claro diante da falta de implicações legais que as atitudes do casal têm.

Ainda assim, Invocação do Mal 3 não desce ao fundo do poço da franquia e fica entre os melhores do universo, mesmo este não sendo o mais assustador de todos os filmes. A excelente qualidade do primeiro terço do filme infelizmente se perde numa série de patacoadas espirituais que, ao invés de servirem à história, removem seu peso e resumem a potência da história de David e Arne (Ruairi O'Connor) a mais uma promoção dos Warren, dessa vez na ficção.

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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.