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Invocação do Mal 3: Conheça o caso real que inspirou A Ordem Do Demônio

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Warner Bros.
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A vida imita arte, que imita a vida e o ciclo segue ao infinito. Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio foi lançado nos cinemas do Brasil e no catálogo do HBO Max, plataforma de streaming que está chegando à América Latina em julho deste ano. Com o casal Warren na história, já sabemos que o oitavo filme do universo é baseado em acontecimentos reais. Mas você conhece essa história?

O subtítulo em português traz uma ambiguidade interessante para o filme, já que A Ordem do Demônio pode significar, ao mesmo tempo, um culto e, literalmente, uma ordem dada pelo próprio tinhoso. Além de combinar com o título original, The Devil Made Me Do It, que evoca o nome do caso, chamado popularmente de “O diabo me fez fazer”, a duplicidade de sentido também evoca a ideia de um pânico que se instaurou nos anos 1980 e que envolvia diversas formas de medo com relação ao imaginário satânico.

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O julgamento de Arne Cheyenne Johnson se tornou popular por ser o primeiro caso (conhecido) dos EUA em que a defesa alegou possessão demoníaca na tentativa de provar que o réu não tinha responsabilidade sobre os seus atos, já que estava agindo de acordo com as vontades de uma entidade demoníaca.

Contexto

Um artigo do The New York Times publicado em 23 de março de 1981 nos ajuda a entender o que aconteceu e ainda transmite um pouco do clima de assombro que a história causava na época (e que se estende até os dias atuais como conteúdo de um filme de terror). O autor do artigo inicia o texto evocando uma passagem bíblica, em que Jesus encontra dois homens possuídos por demônios, o que sugere o pensamento profundamente católico do público, mas, logo em seguida, ele coloca a passagem em cheque, demonstrando que esses assuntos permeados pela fé são sempre bastante complexos.

O artigo chega a citar o filme O Exorcista (1971), que causou um tremendo impacto social e ajudou a criar o imaginário popular sobre satanismo, ocultismo e toda sorte de ideias relacionadas. Embora não sejam citados, outros filmes como O Bebê de Rosemary (1968) e os assassinatos da Família Mason em 1969 também contribuíram muito para a formação do público que, em 1981, via um caso de possessão ser levado muito a sério no contexto de um tribunal.

Mas o que aconteceu? Em 16 de fevereiro daquele ano, um homem chamado Alan Bono, gerente de um canil, foi esfaqueado após uma discussão com Arne Cheyenne Johnson, o homem de 19 anos que se tornaria réu do caso. A arma utilizada foi encontrada no local do ocorrido e garantiu que o suspeito fosse indiciado por assassinato em primeiro grau. E isso era tudo o que tinha sido divulgado para a imprensa: parecia mais um caso de crime passional, mas o que veio depois foi o que rendeu notoriedade ao caso. No dia seguinte ao ocorrido, os Warren apareceram dizendo que Johnson não tinha culpa pelo ocorrido.

Na sequência, o citado artigo evoca as figuras da namorada de Johnson e o casal Ed e Lorraine Warren, cujos depoimentos deram ao caso uma repercussão internacional na época. Enquanto a franquia Invocação do Mal sempre traz os Warren como heróis, a nota do The New York Times traz uma visão diferente da dupla: o jornalista descredibiliza os investigadores paranormais pelo seu suposto interesse comercial no caso (e hoje é inegável que o caso lhes rendeu uma popularidade ainda maior). O autor, no entanto, não descarta os depoimentos dos membros da família e de membros de clero, que também estavam envolvidos e defendiam a ideia de possessão demoníaca.

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O caso é controverso porque parece ter surfado na onda do ocultismo, cuja crença crescia de diversas formas nos EUA naquela época. A indústria editorial e cinematográfica contribuíram muito para que ficção e realidade começassem a se fundir na mente do público. O jornal chega a trazer dados percentuais de pessoas que acreditavam com muita seriedade no poder do Diabo como uma entidade que pode ser bastante íntima dos seres humanos e capaz de nos influenciar a fazer o mal.

Embora a noção deva ser respeitada enquanto crença, esse pressuposto pode ter consequências jurídicas bastante delicadas, afinal, se alguém está sob influência de uma força sobrenatural, ela não pode ser culpada por seus atos “malignos”. E foi exatamente esse dilema que se instaurou no julgamento de Johnson.

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Provas e julgamento

O ocorrido se desenrolou quando Bono, Johnson, sua namorada Deborah Glatzel e outras pessoas retornavam de um almoço de noivado. A discussão e o assassinato, no entanto, foram testemunhados apenas por duas irmãs de Glatzel. Segundo um dos depoimentos, um dos irmãos mais novos das Glatzel estava possuído e, ao tentar ajudar o quase cunhado, Johnson teria sido possuído. Embora não haja provas desse evento em especial, a mesma história foi contada por diferentes membros da família e foi assumida como uma evidência da verdade.

O jornal chega a descrever uma foto apresentada por uma das irmãs Glatzel e que supostamente mostraria o irmão caçula, David, possuído. A criança também é um personagem de Invocação do Mal 3 e foi uma das peças fundamentais para colocar o próprio anticristo na cadeira de réu. Existem outros registros da possessão, já que sessões de exorcismo chegaram a ser realizadas, com a presença não apenas dos Warren, mas também de quatro padres católicos.

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Outros membros da família Glatzel também revelaram que tiveram experiências paranormais. A mãe, Judy, chega a relatar uma ocasião em que foi estrangulada por mãos invisíveis, além de afirmar que a força é capaz de fazer desfalecer um corpo, que cai automaticamente após o contato como se fosse uma boneca de pano.

Diante de tudo isso, Johnson passa a ser tratado como uma espécie de herói segundo os Warren, já que ele teria sido possuído por vontade própria, ao pedir que o Diabo tomasse seu corpo para livrar o pequeno David do sofrimento pelo qual passava. O artigo do The New York Times, no entanto, conta esse trecho em um tom zombeteiro, digno de um bom ceticismo.

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O caso "O Diabo me fez fazer" tomou proporções grandiosas muito rapidamente e, mesmo que possamos assumir como verdade o que aconteceu, é inegável que a mídia aproveitou o momento para criar um grande circo, que foi aproveitado por todos que poderiam criar algum produto a partir da história. O julgamento teve lugar no Tribunal Superior de Connecticut em Danbury, com a primeira sessão ocorrendo em 28 de outubro de 1981 e, apesar da alegação de possessão demoníaca, a defesa também postulou a possibilidade de legítima defesa, o que permitiu ao júri ter algo mais palpável para pensar sobre. Após deliberarem por 15 horas divididas ao longo de três dias, Johnson acabou condenado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) em 24 de novembro de 1981.

Com informações: The Wrap, NYT