10 dos filmes mais subestimados disponíveis no streaming do Telecine
Por Sihan Felix |
Se escrever uma lista já é uma tarefa pessoal e quase que totalmente subjetiva, taxar se um filme é subestimado eleva esse sintoma. Na verdade, superestimar ou subestimar algo é muito abstrato. Essas colocações acabam criando uma noção de verdades absolutas, quando não passam de ponderações pessoais e particulares, que dependem exclusivamente de quem as escreve.
Por outro lado, há filmes que passam realmente despercebidos – seja pela crítica, seja pelo público –, permanecem em alguma espécie de limbo ou são inferiorizados em sua época e ganham corpo com o passar dos anos. Alguns ficam, justamente, esperando para serem descobertos ou para terem o reconhecimento merecido.
Lembrando que o que é subestimado para mim pode não ser para você; o que é bom para mim, pode ser ruim para você. Não há regras. E a lista não é de filmes taxativamente excepcionais. Escolhi 10 filmes do catálogo do streaming do Telecine que merecem uma luz, um novo olhar, um carinho a mais.
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Sem mais demora e dentro dessa abordagem subjetiva, sem verdades absolutas e muito pessoal, vamos à lista de 10 dos filmes mais subestimados para assistir no streaming do Telecine.
10. Cake: Uma Razão para Viver
O primeiro filme da lista é um dos que mais passaram despercebidos nos últimos anos. Nele, uma mulher depressiva e traumatizada interpretada por Jennifer Aniston fica obcecada pela história do suicídio de uma colega. Claire (Aniston), após alguns acontecimentos, decide investigar a vida de Nina (a colega, que é interpretada por Anna Kendrick).
Por mais que a direção de Daniel Barnz, do também subestimado A Luta por um Ideal (de 2010), seja sensível e muito consciente em sua abordagem – procurando não ser expositiva demais nos planos e, ao mesmo tempo, construindo uma relação muito próxima com a protagonista –, o destaque maior é Aniston. A atriz acaba se entregando ao drama de uma forma tão competente e crua que dificilmente deixará ligação entre Claire e a Rachel da sitcom Friends.
Cake: Uma Razão para Viver merece uma visita de peito aberto, deixando-se levar pela experiência de um filme que está disposto a ser muito recíproco nessa entrega.
9. Horton e o Mundo dos Quem!
Cheio de metáforas e subtextos, Horton e o Mundo dos Quem! Trata da história de um elefante (o Horton) que luta para proteger uma comunidade microscópica que se recusa a acreditar que ele existe.
Deixando muito visível a linha que divide a percepção infantil da adulta – podendo ficar muito clara a aventura com intenção de fazer graça para as crianças e, ao mesmo tempo, as sutilezas interpretativas mais profundas a serem compreendidas –, cada minuto dessa animação baseada em uma obra de Dr. Seuss pode passar sem qualquer esforço.
É uma pena que, em seu ano de lançamento, tenha sido engolido pelo também ótimo Kung Fu Panda e pela obra-prima WALL·E.
8. O Impossível
Histórias reais, especialmente de desastre, são sempre complicadas de se contar. Se parte do público já sabe o final, o filme nasce sabendo que praticamente tudo que for exibido já terá existido algum tipo de spoiler. A questão então, precisa ser a forma e não para o conteúdo.
O Impossível não só é um filme subestimado como é dirigido por um dos diretores mais subestimados de sua geração. O espanhol J.A. Bayona (de Jurassic World: Reino Ameaçado) impõe profundidade aos seus personagens desde o início, quando fundamenta com planos quase aconchegantes a família protagonista. A ação que se inicia devido ao tsunami é conduzida com uma visão muito próxima, quase sufocante, e o trabalho com o elenco mirim – inclusive com o adolescente Tom Holland – é muito acima da média.
7. Mandy: Sede de Vingança
Panos Cosmatos e Casper Kelly, diretores de Mandy: Sede de Vingança, não se perdem em suas referências e transformam tudo ao seu estilo, criando uma espécie de terror exploitation põem. Cheio de referências, o filme ainda remete a outros clássicos do gênero, como Uma Noite Alucinante 2 (de Sam Raimi, 1987), O Massacre da Serra-Elétrica 2 (de Tobe Hooper, 1986), Raça das Trevas (de Barker, 1990) e, especialmente em sua morte final, Sexta-Feira 13, Parte 3 (de Steve Miner, 1982).
Se, no final das contas, trata-se de terror em sua camada mais visível, a verdade é que o filme é um romance dos mais sensíveis. Psicodélico talvez, mas cheio de verdade e de uma competência técnica exuberante. É um clássico-cult instantâneo.
Na história, a vida encantada de um casal é brutalmente destruída por um culto hippie. A partir de então, inicia-se uma onda vingativa surreal de Red (Nicolas Cage) contra adoradores, motoqueiros demoníacos e seu líder Jeremiah (Linus Roache).
6. A Noite Devorou o Mundo
Se Hollywood tem tantos filmes com zumbis celebrados (e séries), A Noite Devorou o Mundo é um exemplar que carrega toda a identidade do cinema francês para o subgênero. Com mais respiros do que o normal para um filme de terror, o filme de Dominique Rocher é uma pérola para os amantes dos dois mundos: tem toda a proximidade e linguagem francesa e, ao mesmo tempo, o melhor do terror pós-apocalíptico.
Talvez tenha passado despercebido pela falta de abertura que se tem, aqui, para a comercialização de filmes mais diferentes e sem o apelo comercial hollywoodiano, mas a história de um jovem que acorda após uma festa e encontra Paris invadida por zumbis pode valer muito a pena e merecer ter sobrevida.
5. Operação Overlord
Operação Overlord diverte sem ter pretensões de ser grandioso. Perceber essa ausência de pretensão faz com que qualquer arte seja vista com outros olhos. E é esse olhar, justamente, que torna os verdadeiros filmes B (aqueles das décadas de 1930 e 1940) tão cultuados hoje e tão importantes para se entender o cinema em um contexto histórico.
É provável que, em pouco tempo, Operação Overlord seja esquecido (talvez já tenha sido por muita gente), mas ele deixa mais uma sementinha plantada: nem sempre o cinema precisa ter um mundo de conteúdos para ser relevante; nem sempre o cinema precisa ter uma importância social exuberante; nem sempre o cinema precisa ser cabeça, culto e enraizado em conceitos filosóficos. Cinema é arte e, por mais que a arte não tenha a obrigação de entreter, ela pode entreter. Operação Overlord é o cinema (a arte, portanto) em uma pura, divertida e louca procura por entretenimento.
4. O Quarto do Pânico
O Quarto do Pânico é um dos filmes menos lembrados de David Fincher e, ao mesmo tempo, um dos que ele trabalha com mais intensidade a relação entre duas personagens... porque ambas estão trancadas em uma espécie de bunker que dá título ao filme. Fincher, então, trabalha com uma precisão cirúrgica na construção e manutenção da tensão, utilizando planos detalhes à la Hitchcock e um ritmo intenso, apesar de extremamente cadenciado. Toda a habilidade do diretor, já demonstrada antes, por exemplo, em Seven: Os Sete Crimes Capitais e Clube da Luta, fica restrita a um ambiente fechado, prestes a implodir.
Para completar, as protagonistas são interpretadas por Jodie Foster e por Kristen Stewart bem no início de carreira e o roteiro é de David Koepp, que deu luz a Missão: Impossível, Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros, Homem-Aranha...
Um filmaço.
3. Rio Grande
Rio Grande não é somente subestimado. É um filme que foi renegado em seu tempo dirigido por um dos maiores diretores da história do cinema (John Ford). Ford, à época, recebeu um obituário artístico pelo filme, sendo taxado de mumificado, preso ao passado.
A verdade é que o filme é um faroeste clássico que finaliza a Trilogia da Cavalaria sem deixar sua força cair e que prova uma questão: Não existe a necessidade de inovação em uma arte se aquilo que você faz é feito com perfeição.
A história acompanha um oficial da cavalaria que deve lidar com um ataque assassino, com seu filho e com sua esposa – de quem ele está separado há muitos anos.
2. Se Meu Apartamento Falasse
Talvez não seja exatamente subestimado. É um filme cultuado. A questão é que a força com que o cinema atual é imposto acaba ofuscando obras-primas como essa, que ficam taxadas de antigas ou algo do tipo.
Se Meu Apartamento Falasse é a mãe e o pai das comédias românticas, um filme dirigido com todo o talento do lendário Billy Wilder e protagonizado por um dos atores mais incríveis que já passaram pelo mundo: Jack Lemmon.
Na história, um homem que tenta se destacar em sua empresa deixa executivos utilizarem seu apartamento para encontros... o resto só assistindo. Mas, de todo modo, o que vale aqui é como Wilder conduz tudo e não o que acontece. É uma aula de direção.
1. Stuck: A Canção dos Trilhos
Esse pode ter passado totalmente despercebido pela maioria. É um filme bem diferente: um musical pop original sobre seis estranhos que ficam presos no metrô de Nova York e, ali mesmo, compartilham suas vidas de maneiras inesperadas.
Para quem gosta de musicais, é dos mais interessantes que surgiram e ficaram no limbo da existência.
Agora, ficam aí os comentários. Foi difícil fazer uma lista tão subjetiva, mas tenho certeza que vocês podem complementar e enriquecer tudo. Vamos conversando, debatendo... E, de repente, aumentando a lista.