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Crítica Thor: Amor e Trovão | Uma nova volta na montanha-russa

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Divulgação/Marvel Studios
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Quando Martin Scorsese comparou os filmes da Marvel a um parque de diversões, os fãs não gostaram da crítica. Só que não há como negar que o cineasta tem um pingo de razão e produções como Thor: Amor e Trovão reforçam esse paralelo. Afinal, o novo longa é como um passeio em uma montanha-russa: divertido, empolgante e que não se propõe a ser nada muito além disso.

E isso não é demérito, como o pessoal mais apaixonado faz parecer. Bem ou mal, é uma escolha da Marvel e que funciona muito bem no quarto filme do Deus do Trovão. O ritmo acelerado, a metralhadora de piadas e as ótimas cenas de ação rendem grandes momentos que fazem valer as duas horas que você passa nesse brinquedo chamado Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla em inglês). Mas, e depois?

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O grande ponto da crítica de Scorsese é que, quando você vai além dessa camada mais superficial de herói de uniforme colorido e brigas com armas mágicas, a mensagem da trama quase sempre é rasa ou inexistente. E o ponto não é que as adaptações de quadrinhos são histórias pobres, mas que essa é uma escolha do estúdio. E, com Amor e Trovão, isso é evidente.

Há no retorno do herói asgardiano um grande texto que é propositalmente relegado ao segundo plano para dar lugar a uma ótima aventura, mas que limita demais o potencial que ele próprio apresenta. Para além da pancadaria e das piadinhas, temos arcos narrativos muito interessantes, mas que são reduzidos para dar lugar a mais uma volta nessa montanha-russa que a gente já conhece tão bem.

As contradições do amor

A história de Thor: Amor e Trovão é bem simples. Assim como os trailers já tinham revelado, temos um Thor (Chris Hemsworth) sem um propósito na vida depois do seu término com Jane Foster (Natalie Portman) e sem uma ameaça para enfrentar. É com o surgimento de Gorr, o Carniceiro dos Deuses (Christian Bale) que ele volta à ativa ao lado da sua ex-namorada e de Valquíria (Tessa Thompson) para impedir o vilão.

É o roteiro básico de qualquer filme de herói e o que realmente importa é o que acontece nesse meio do caminho. São muitas cenas de ação bem filmadas, uma ótima trilha sonora, um humor afinado e referências aos quadrinhos a todo o instante. É a fórmula Marvel em sua melhor forma. E, nesse sentido, não há do que reclamar.

O problema aparece quando você tenta enxergar para além do show de luzes. Afinal, que mensagem está sendo trabalhada por trás das páginas desse grande gibi que é Amor e Trovão?

O discurso que o diretor Taika Waititi adota no longa é sobre como o amor — ou melhor, a sua perda — mexe com cada um de nós. Do herói que perde seu propósito sem a mulher amada ao pai que abraça um niilismo existencial a ponto de se tornar um monstro capaz de destruir o mundo, a discussão que ele tenta trazer é sobre como o amor transforma e que, mesmo assim, é o motor do recomeço.

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Esse é um fio condutor que une tanto a história de Thor quanto de Jane e de Gorr e que, em tese, é muito bom. Afinal, mostra que o mesmo sentimento tão romantizado que nos leva adiante e nos dá força para levantar pode também ser tão venenoso quanto um câncer ou uma espada amaldiçoada.

Só que isso fica apenas na teoria mesmo. Por mais que essa temática seja apresentada no arco de cada personagem, ela não é desenvolvida ao longo da trama. O grande problema de Thor: Amor e Trovão é que toda a evolução desse discurso desaparece em meio à correria de roteiro e de todo o maneirismo do MCU.

Isso fica bem claro na figura de Gorr. É ele quem abraça um discurso quase niilista que vai muito além de apenas matar os deuses, mas de completo vazio com a perda do amor — um vazio que o consome e o transforma por completo.

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O modo como isso é apresentado é tão forte e poderoso já na sequência inicial. Com apenas alguns segundos de cena, você já está rendido e entende completamente as motivações daquele vilão. Afinal, todos nós já perdemos alguém e sabemos como é estar naquele lugar em que as suas preces simplesmente não são nada.

Só que toda essa construção se limita apenas a esse ponto e, mais tarde, à última cena do personagem. Apesar da ótima construção, o desenvolvimento se perde e toda essa tridimensionalidade vai embora a partir do momento que ele se torna o vilão da história. Quando assume o papel de Carniceiro dos Deuses, ele fica bidimensional, se resumindo apenas ao bicho-papão a ser derrotado e que tem um grande plano que deve ser impedido.

É claro que isso pode ser justificado com a influência da espada e coisa e tal, mas não nega o fato de que ele fica menos interessante quando passa a agir de forma vilanesca. Todo o porquê de ele ter abraçado o vazio é esquecido para transformá-lo em um dispositivo do roteiro, o que empobrece demais o personagem e a própria atuação de Christian Bale.

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Não por acaso, o ator entrega muito mais quando é apenas Gorr. A primeira e a última cena do personagem são aquelas em que esse discurso sobre a contradição do amor é mais clara e, nesses momentos, a gente vê Bale em sua melhor forma e com uma atuação que te faz sentir pena daquele ser. O problema é que, no meio do caminho, tudo é só caricato.

E isso não se limita apenas a ele. O filme inteiro sofre com esse ritmo acelerado da camada superficial de sua história, da aventura desse gibi mensal. A busca de uma motivação de Thor, por exemplo, é mostrada na sua fase hippie nos primeiros minutos de Amor e Trovão e só é retomada entre o segundo e terceiro ato.

Nesse ponto, quem se sai melhor é Jane Foster, que é quem tem mais tempo para ter o seu arco desenvolvido com um pouco mais de calma. Da descoberta do câncer ao peso do fardo que é se tornar a Poderosa Thor, ela personifica tanto o sacrifício do herói quanto a outra face da contradição do amor — a compreensão de que amar também é dar adeus para que haja espaço para um recomeço.

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E o fato de o roteiro dar esse tempo para que essa história seja melhor contada, faz de Jane não uma simples coadjuvante na história do Thor, mas uma co-protagonista que carrega o seu próprio arco de crescimento. É uma construção bem feita que dosa bem a ação heróica com o peso dramático de quem enfrenta a doença — e que só prova que Amor e Trovão se limita por opção própria e não por falta de história para contar e mensagem para aprofundar.

O looping da montanha-russa

Ao mesmo tempo, o ritmo acelerado de Thor: Amor e Trovão é também aquilo que ele tem de melhor para quem vê no longa essa aventura do gibi do mês — ou a volta na montanha-russa. No ponto de vista da diversão que o MCU se propõe a apresentar, o filme não poderia ter acertado mais.

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Taika Waititi já tinha deixado bem claro o que era capaz de fazer em Thor: Ragnarok. E, em Amor e Trovão, ele repete a dose, mas ajustando o tom nos momentos em que isso é necessário. Isso significa que o longa segue com aquela pegada da comédia do absurdo — seja com os bodes berrando sem parar ou com o herói lutando pelado enquanto os deuses tentam agendar uma orgia — ou aproveitando toda a química que Thor, Jane e Valquíria têm quando estão juntos.

A grande diferença é que, embora as maluquices de Waititi ainda estejam bem aparentes, ele está mais atento sobre quando deve ou não brincar. Em Ragnarok, por exemplo, você mal sente o peso do genecídio asgardiano por causa do excesso de piadas fora de hora, o que não acontece por aqui. Desta vez, o diretor consegue entregar momentos emocionalmente densos sem abrir mão de seu humor peculiar.

Isso tudo dá um dinamismo incrível ao longa, que empolga tanto quanto se espera de um parque de diversões. Não há aquele momento em que o ritmo quebra e a história parece estagnar, já que a sensação de urgência é constante e a todo instante há uma cena de ação ou alguma piadinha para levar a história adiante. O diretor sabe como poucos controlar esse brinquedo e isso fica muito claro ao longo dessas duas horas, ainda mais quando você vê o Thor saltando com o Rompe-Tormentas ou quando Jane usa o Mjolnir de formas muito criativas.

Vale a pena assistir Thor: Amor e Trovão?

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Thor: Amor e Trovão nunca escondeu sua intenção de ser um filme pipoca, aquele para você ir ao filme se divertir com piadinhas e se empolgar com uma luta tão incrível quanto um bom gibi poderia ser. E não há problema algum nisso — afinal, passamos uma década nos divertindo com essa mesma experiência e seguimos empolgados por mais.

O problema é que, justamente por estarmos há tanto tempo nessa montanha-russa, é preciso um pouco mais para que a próxima volta seja mais interessante que a anterior. E, no caso, isso significa não se limitar e puxar a barra para baixo quando fica claro que a história e os atores poderiam entregar muito mais.

Ainda que a nova aventura do Deus do Trovão seja divertida e você saia do cinema com um sorriso no rosto com tudo o que viu, também não há como evitar o gosto amargo de que essa trama tão divertida tinha potencial para ir muito mais além, de aprofundar temas e personagens para tornar tudo isso maior do que essa simples volta no parque. Porque o brinquedo é divertido enquanto você está ali, mas vai ser esquecido assim que entrar no próximo.

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E Amor e Trovão tinha as ferramentas para ser mais que isso e se tornar memorável, mas opta por ser raso e simples e, portanto, esquecível. Bastariam algumas linhas de diálogo a mais para desenvolver a dor de Gorr e contrapor o vazio do vilão com o do próprio Thor. Com apenas mais algumas cenas em que o foco fossem seus personagens e a história por trás deles, teríamos um antagonista tão marcante quanto um Thanos ou um Killmonger. Só que, por opção própria, o filme prefere ter apenas mais um vilão entre tantos no MCU.

É injusto olhar para o filme pelo que ele poderia ser ou deveria ter sido, mas é impossível fugir disso quando ele próprio traz esses vislumbres aqui e ali. Bale e Portman entregam muito quando o roteiro dá tempo para que eles aprofundem seus personagens. Só que isso acontece em momentos muito pontuais, sufocados por um roteiro que está mais interessado no looping da montanha russa do que na história que está sendo contada.

Isso torna Thor: Amor e Trovão ruim? Longe disso. Ele é divertido, empolgante e com personagens muito carismáticos e engraçados — exatamente o que a gente espera de um bom filme do MCU.

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Porém, isso é algo que a gente pode dizer de muitas outras produções do estúdio. E, naquilo que tornaria única a história de recomeço do Deus do Trovão, ele opta por se limitar e se reduzir a uma mediocridade a qual não pertence — e não há amor que justifique essa contradição.

Thor: Amor e Trovão estreia nesta quinta-feira (7) em todo o Brasil; garanta agora seu ingresso na Ingresso.com.