Publicidade

Crítica | Stargirl encerra temporada como melhor série de herói do ano até agora

Por| 05 de Agosto de 2020 às 17h30

Link copiado!

CW
CW

Tudo bem que ainda estamos em agosto e há concorrentes fortes, como The Boys e Falcon and the Winter Soldier, mas já dá para cravar que, até agora, Stargirl é a melhor série de heróis na TV no ano. A atração da plataforma de streaming DC Universe é tão bem-sucedida que sua segunda temporada estava confirmada antes mesmo de seu primeiro episódio e agora Courtney Whitmore (Brec Bessinger) também faz parte do Arrowverse no canal CW. E o que fez de Stargirl tão especial?

Stargirl começa quando Courtney e sua mãe Barbara Whitmore (Amy Smart), decidem se mudar da Califórnia para a cidade fictícia interiorana de Blue Valley, em Nebraska, na região central dos Estados Unidos. Após a morte do marido, Barbara juntou os trapos com Pat Dugan (Luke Wilson), que tem um filho, Mike (Trae Romano).

Continua após a publicidade

A contragosto, Courtney precisa se adaptar em um município pequeno, onde todo mundo conhece todo mundo. É aí que o cajado mágico do lendário herói Starman a escolhe como sua nova “dona”. E aí, uma escalada de revelações sobre heróis, vilões e sociedades secretas vêm à tona, juntamente com um terrível plano prevê a dominação das mentes de toda a população adulta dos Estados Unidos.

Atenção, a partir daqui há spoilers sobre toda a primeira temporada de Stargirl

Fidelidade às HQs, legado e muitos easter eggs

Mas como trazer histórias de heróis da “velha guarda” para audiências mais jovens? A resposta para isso vai de encontro com o núcleo do que a DC Comics representa: são histórias intrigantes, com um ar de mistério sombrio, mas lições familiares de legado e esperança. Foi justamente dessa forma que o roteirista Geoff Johns reintroduziu a Sociedade da Justiça nos quadrinhos dos anos 1990 e ele reproduz esse conceito na TV.

Continua após a publicidade

A melhor forma de fazer isso, é replicar uma fórmula que a Netflix vem usando com sucesso em atrações como Stranger Things, Sex Education e Atypical: a de combinar personagens e plots interessantes em duas faixas etárias, apostando também em subtextos interessantes para os coadjuvantes — o que favorece a diversidade e o apelo a uma ampla audiência

Assim, vemos os jovens sendo inconsequentes — como têm que ser — e os pais sendo os mentores (ou não) que a próxima geração precisa. E todas as vezes que há um questionamento sobre qual é a bússola moral que define as regras do bom-mocismo, estão lá as figuras dos heróis e vilões da Sociedade da Justiça (JSA, na sigla em inglês) e da Sociedade da Injustiça (ISA) para nos mostrar isso.

Continua após a publicidade

Vale destacar a infinidade de citações às próprias revistas da JSA nos quadrinhos quanto ao universo da DC Comics. A presença de elementos dos Sete Cavaleiros da Vitória, por exemplo, traz referências que são um grande bônus para os fãs mais ardorosos da editora. Tudo isso em um tom leve e divertido, com cenas de ação e efeitos especiais bem produzidos

Elenco certeiro e trama bem escrita

Isso tudo é mostrado na forma de um dramédia colegial, em que Courtney precisa lidar com a adaptação na cidade pequena, ao passo que precisa se aproximar de seu padrasto, Dugan. Eles não se dão bem inicialmente, mas ao longo do tempo têm que ser acertar para se ajudarem no combate contra os vilões da ISA. Por outro lado, Dugan, também precisa lidar com o temperamento de Courtney, com sua relação com Barbara e com o fillho Mike, que começa a se sentir deslocado e sem a atenção do pai.

Continua após a publicidade

Toda a progressão dessa dinâmica familiar é muito interessante, pois é isso que realmente se conecta com os espectadores — coisas de nosso cotidiano. E a ambientação em uma cidade do interior dos Estados Unidos, em plenos 2010 mas com ares de 1950, ajuda os roteiristas a criar situações que valorizam as atuações de Bassinger, Wilson, Smart e Romano.

E não para por aí: temos o jock Henry Kipng Jr. (Jake Aystin Walker), que aos poucos se arrepende de fazer bullying ao negar seguir os passos do pai, o vilão Brainwave (Christopher James Baker); a jovem carente que não tem amigos e sofre com a ausência dos pais, Beth Chapel (Anjelika Washington), que se torna a nova Doutora Meia-Noite; o rapaz que cresceu sem aceitar a morte de sua família, Rick Tyler (Cameron Gellman), e por aí vai — destaque para a brilhante interpretação de Neil Jackson como o vilão Geada/Jordan Mahkent.

Continua após a publicidade

Como dá para notar, é uma série que aborda muito as relações familiares — você nunca viu tantas famílias em um mesmo lugar em uma atração do gênero. E esse “passar de bastão” oferece perspectivas tão distintas que Stargirl extrapola todos os estereótipos de heróis na medida certa, sem abandonar a tradição dos moldes clássicos da DC Comics.

Vale a pena?

Stargirl pode parecer um pouco estranho para quem não se acostuma muito com a ideia de adolescentes combatendo o crime, com situações de risco real, em meio a um dramédia colégio leve e divertido — ainda mais com uniformes tão cafonas, que, no final das contas, são bem fieis aos originais. Mas, ao longo dos episódios, isso acaba ofuscado pelos interessantes relacionamentos entre os personagens, especialmente no conflito entre gerações. Cada peça ali tem muitos elementos verossímeis, que tornam os heróis e vilões mais palpáveis e complexos.

Continua após a publicidade

O maior pecado na série é a falta de originalidade (tem até um aparato que lembra exatamente o Cérebro dos filmes dos X-Men). Mas dá para entender que Stargirl não pretende “recriar a roda”, e sim trazer para outra mídia, da forma adequada, heróis e vilões e aventuras clássicas para uma atração de 40 minutos semanais em 13 episódios. E isso o título cumpre com mérito.

Já temos em andamento as boas novas temporadas de Doom Patrol e Umbrella Academy e ainda faltam as estreias de importantes séries, como The Boys e Falcon and the Winter Soldier, mas, até agora, não tem para ninguém: Stargirl é a melhor adaptação de heróis para a TV de 2020.