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Crítica | Demi Lovato: Dancing with the Devil é documentário frágil e necessário

Por| Editado por Jones Oliveira | 08 de Abril de 2021 às 09h18

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Em 2018, os sites e revistas de fofoca dos Estados Unidos e do mundo só falavam em um assunto: a overdose de Demi Lovato. A artista, hoje com 28 anos, vem sofrendo com o vício em drogas e álcool desde a adolescência, além de lidar com distúrbios alimentares e casos de estupro. Toda essa história agora foi contada em um novo documentário sobre a vida da artista chamado Demi Lovato: Dancing with the Devil, produção do YouTube Originals.

Em inglês, o termo dancing with the devil, "dançando com o diabo" na tradução literal, é usado para definir pessoas que apresentam comportamentos inadequados, que podem ser os mais diversos. No caso de Demi Lovato, o termo fala de uma pessoa que passou por uma experiência de quase morte devido a um comportamento autodestrutivo que está longe de seu controle.

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Na série documental de quatro episódios, a artista conta como foram os momentos antes e depois de ela ter sofrido uma overdose de heroína, como ela chegou a esse ponto e quais foram as consequências deixadas em sua saúde física e mental. A produção tem como objetivo mostrar as fragilidades da cantora, compositora e atriz, tirando-a de um pedestal de perfeição e colocando-a como uma pessoa como todas as outras, ou seja, um ser humano.

Demi Lovato: Dancing with the Devil é, provavelmente, o documentário mais pessoal feito para contar a história de um artista. A série desvia o foco da música e da vida de uma estrela para mostrar seu pior lado, que é conhecida desde criança, quando apresentava um programa infantil chamado Barney e Seus Amigos. A fama, para Demi, foi extremamente cruel e contribuiu para os vícios que carrega consigo até hoje.

A produção começa contando que a recaída de Demi aconteceu durante o desenvolvimento de um outro documentário, que teve as gravações e lançamento cancelados após a overdose. A própria artista conta que os seus depoimentos de superação eram completamente mentirosos, passando uma falsa impressão de que o vício estava sob controle, assim como a sua estabilidade mental. Na verdade, estava mais grave do que nunca. Com isso, a série mostra que é muito fácil criar uma diferente personalidade em frente às câmeras, seja uma forma de proteção pessoal ou profissional.

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Demi Lovato não sente vergonha e constrangimento nos momentos em que conta a sua história com as drogas, álcool, distúrbios alimentares e as mentiras que vieram com isso, mas é nítido o desconforto de se "autodesmascarar" para o mundo. O episódio que descreve todos os acontecimentos que antecederam a overdose são os mais intensos, principalmente por contar com depoimentos das pessoas que a ajudaram quando a encontraram desacordada, e também da família, que desde sempre vem se sentindo impotente nessa batalha. É quando descobrimos que a overdose foi mais grave do que imaginávamos, com a vida da cantora salva por questão de minutos, e que o vício envolvia drogas extremamente pesadas, como a heroína e o crack.

Foi de extrema importância o documentário falar sobre as consequências da overdose, que deixou Demi Lovato com problemas de visão e impossibilitada de dirigir, e que o tratamento exigiu a recuperação de praticamente todos os seus órgãos, que estavam entrando em falência. Trazer esses pontos relacionados à gravidade do vício, não só em relação à saúde mental como física, vindos de uma pessoa que é vista como forte pelos fãs, é um ótimo serviço de conscientização. Se Demi, que sempre passou a impressão de ser uma pessoa feliz e com senso de humor em 100% do tempo, além de ser extremamente privilegiada com o seu talento, pode correr esses riscos, qualquer pessoa também pode.

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A série documental funciona na própria narrativa de Demi, com a artista fazendo algo que, talvez, nenhuma assessoria ou gerenciamento de crise autorizaria em outros tempos. Demi Lovato introduz as questões que serão abordadas no documentário, deixando as portas abertas para que a sua equipe, amigos e família contem suas versões e os seus pontos de vista da situação. Nos dias de hoje, abordar as fragilidades de um artista, como aconteceu também no documentário Framing Britney Spears, se tornou a melhor opção para conversar com a imprensa e com os fãs. Essa decisão, vinda da própria cantora, acaba sendo um ato de coragem insuperável.

A série documental termina trazendo uma discussão para debate: como se livrar do vício. Enquanto algumas pessoas acreditam que o ideal é cortar de vez até mesmo as drogas e bebidas mais leves, como diz o cantor e compositor Elton John em um depoimento para o documentário, a própria Demi diz acreditar que o processo deve ser lento, com as substâncias sendo cortadas aos poucos. Mais uma vez, ela assume a fragilidade e revela que continua sendo uma usuária de drogas e álcool, mas garantindo que jamais chegará novamente perto das drogas que quase a mataram, infelizmente mostrando que o problema está longe de ser apenas história.

Demi Lovato: Dancing with the Devil está disponível no YouTube em quatro episódios gratuitos, com conteúdo extra para assinantes.