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2020: o ano em que descobrimos a verdadeira importância da educação

Por| 13 de Janeiro de 2021 às 17h40

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 Nick Morrison / Unsplash
Nick Morrison / Unsplash

O ano de 2020 foi verdadeiramente difícil. A pandemia de COVID-19 trouxe consigo uma série de consequências que tangem diversas áreas da vida, sendo uma delas a educação. Os estudantes em geral sentiram o forte impacto da pandemia, e tiveram que recorrer a formas alternativas de aprendizado, em meio a anúncios e adiamentos de uma reabertura.

No início da pandemia, em meados de março, escolas e universidades pelo mundo inteiro começaram a fechar as portas, considerando os riscos trazidos pela aglomeração. No que diz respeito ao Brasil, ao longo de meses conturbados, o Ministério da Educação (MEC) já tentou fazer a reabertura acontecer, mas voltou atrás na decisão. Algumas capitais, como Manaus, também se viram diante de grandes desafios ao tentar a retomada das atividades.

De acordo com Daniele Saheb, coordenadora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), de uma forma geral, a educação precisou se reinventar para atender uma demanda que trouxe desafios enormes. "Antes a escola era toda organizada presencialmente, tanto a educação básica quanto superior, e no momento que isso foi interrompido e se ofereceu a possibilidade do ensino remoto não foi simples. As escolas tiveram que pensar em como fazer a mudança", conta.

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Educação e tecnologia

Sobre as mudanças proporcionadas pela pandemia, Daniele destaca a questão tecnológica, pois além da organização da instituição, os estudantes precisaram ter acesso a computador e a internet para assistir às aulas e fazer as atividades. Além disso, a pedagoga conta que a instituição precisou se organizar porque o ensino mudou. "Tivemos que pensar: 'uma coisa é você ter um excelente professor, que tem boa qualidade de ensino no formato presencial; mas e nas aulas remotas, como vai ficar?'. O quanto as instituições e os professores se debruçaram sobre isso, estudaram, ainda é pouco conhecido", afirma.

Para Daniele, houve muito estudo e reflexão para entender quais as características do ensino remoto, o tempo da aula online, os processos cognitivos, como se deve pensar a metodologia na aula remota, como deve ser a avaliação, entre outras coisas. "Foram mudanças importantíssimas para o processo de pensar a aula. Com isso, a educação evoluiu muito em relação à tecnologia, apesar das fragilidades. Surgiram muitas possibilidades a partir do ensino remoto que devem continuar sendo pensadas, pois acredito que, após a pandemia, a educação não será mais a mesma."

Na opinião da coordenadora do curso de pedagogia, a pandemia reforçou muito a questão de que a educação não significa apenas transmissão de informação ou quantidade de conteúdo aprendido pelo estudante. "Agora, temos ainda mais motivos para entender e consolidar a ideia de que a educação significa trabalhar com questões que transcendem, como o pensamento, a reflexão, o raciocínio, a criatividade, a solidariedade. A educação é também preparar os estudantes para se relacionarem com incertezas, para que tenham condições de lidar com problemas não esperados e que tenham criatividade para resolução e enfrentamento de adversidades", reflete.

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Alfredo Freitas, diretor de Educação e Tecnologia da AmbraUniversity, tem mais de 15 anos de experiência com essa relação entre a tecnologia e a educação. Para ele, a internet ampliou as formas de aprendizado, e a tecnologia na educação apresenta diversas vantagens em relação ao ensino presencial, como: facilidades de locomoção, flexibilidade de horário, maior inclusão de pessoas com necessidades especiais, ampliação das formas de aprendizados, maior flexibilidade metodológica, possibilidade de diversidade geográfica entre professor e aluno, maior controle e verificação prática do que ocorre em sala de aula, maior conexão com as ferramentas e os métodos de trabalho da atualidade.

Por outro lado, questionado sobre consequências negativas dessa ascensão da educação à distância, Alfredo aponta que embora muitos jovens consigam até melhor do que nós, adultos, se relacionar via internet, faz bem para crianças e adolescentes estarem em grupos fora da sala de aula nos demais espaços da escola ou faculdade. "O grande risco social da educação a distância é que a tentação de baixar os custos pela redução da dedicação dos docentes para cada aluno é grande a acaba levando muitas instituições a usarem métodos péssimos quando avaliamos a qualidade de aprendizado", disserta o diretor.

Para entender o ponto de vista dos estudantes, conversamos com a universitária Steffany Rodrigues, que, por conta da pandemia, passou a assistir às aulas de seu curso de pedagogia da Universidade de Brasília (UnB) remotamente. "Durante essa pandemia nos deparamos com o Ensino Remoto Emergencial, que é diferente do EaD, e ele nos mostrou como nossa educação não estava preparada para a introdução das mídias tecnológicas. Acho que foi exatamente isso que mudou ao decorrer desse ano, quando professores, estudantes e toda a comunidade escolar precisou se adaptar e aprender a utilizar esse meio para que o ano não fosse cancelado", relata.

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Desafios de adaptação

No entanto, apenas pelo fato de que a tecnologia se apresenta como uma aliada em meio a esse caos proporcionado pela pandemia, não quer dizer que a adaptação tenha sido fácil. "Houve manifestação através dos estudantes para que a UnB não aderisse ao ensino remoto emergencial no primeiro semestre do ano, afinal, muitos alunos ficariam fora disso por não terem aparelhos tecnológicos necessários e nem internet. Mesmo voltando nesse segundo semestre, sentimos que nem dentro da universidade estávamos preparados. Muitos estudantes (incluindo eu) tiveram dificuldade para participar de aulas síncronas, por exemplo", conta Steffany.

Já na visão de Denise, o que tivemos neste ano trabalhando com o ensino remoto difere muito do que é o EAD no Brasil, e as instituições de ensino fizeram um trabalho individualizado, com turma, planejamento, professor disponível no dia e horário marcado, entre outras coisas, o que foge do processo do EAD. "Apesar disso, acredito que a própria concepção das possibilidades que existem de trabalhar remotamente se ampliou e acabou facilitando muita coisa. Nesse momento, tivemos a oportunidade de trabalhar com pessoas do outro lado do mundo, por exemplo, coisa que não fazíamos antes. Com tudo isso, tivemos muito aprendizado que ficará no pós-pandemia", analisa.

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No entanto, a especialista destaca a dificuldade de compreensão do que o que estava sendo feito não era EAD. "Os estudantes que já passaram pelo processo de EAD entendem isso com mais facilidade, mas os demais acreditam que é a mesma coisa, que se cursa EAD pagando uma mensalidade presencial. Porém, todo o sistema de organização da instituição é o mesmo do presencial e acaba sendo muito mais trabalhoso remotamente", explica.

Denise conta que, por parte dos estudantes, demorou um pouco para entenderem que tinham que assistir à aula no horário, que tinham tarefas, que o professor estaria presente e que continuariam juntos, apesar da distância física. Já para os professores, houve uma necessidade de preparo. Acontece que os professores estudaram muito, fizeram cursos sobre o ensino remoto e a modalidade EAD, sobre como adaptar o plano de aula que já estava pronto, e passaram o ano todo estudando, repensando e participando de atividades formativas para amadurecer o processo.

Em agosto, ao fazer uma análise sobre o impacto da reabertura escolar, conversamos com a presidente da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), Rozana Barroso, que destacou um grande obstáculo em meio ao ensino remoto de 2020: a evasão escolar. "É uma coisa que nos preocupa muito. É uma coisa que a nossa luta pela educação tenta combater a todo custo, porque a educação tem o seu papel. Não existe debater um país que supere a pandemia do coronavírus sem falar da educação valorizada. Em especial a pública", disse, na época.

Reabertura

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A pandemia de COVID-19 trouxe diversos impactos para a área da educação, e a reabertura das escolas e das universidades tem sido alvo de muita análise, com frequentes anúncios de datas e de adiamento. Isso aconteceu tanto aqui no Brasil quanto nos outros países.

Um exemplo disso é Israel. Em maio, quando o país em questão tinha menos de 100 novos casos por dia, todas as escolas foram reabertas. No que isso resultou? Em pouco tempo, infecções por COVID-19 foram registradas em uma unidade de Jerusalém, e rapidamente se espalharam. O número de contágios diários subiu e as escolas foram fechadas novamente. Nos EUA, em agosto, seis dias depois de reabrir as escolas, 826 estudantes e 43 professores do norte da Geórgia foram encaminhados para quarentena de duas semanas após novos casos de COVID-19.

No Brasil, o Amazonas foi o primeiro estado a retomar as atividades presenciais. Em Manaus, 110 mil alunos da rede pública estadual retornaram às aulas. Não deu nem um pouco certo: a Associação Sindical dos Professores de Manaus (Asprom) apontou que 50 profissionais haviam sido diagnosticados com a doença — e professores da região chegaram a fazer manifestações contra o retorno das aulas presenciais.

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Em São Paulo, a primeira data em pauta foi 7 de outubro, mas foi adiando com o decorrer da situação. Na última quinta (17), o Governador João Doria anunciou o retorno gradual às aulas presenciais para o ano letivo de 2021. O decreto autoriza a retomada das aulas em todas as fases do Plano São Paulo. Sabe o que isso significa? Que as escolas públicas e particulares poderão continuar abertas mesmo se estiver na pior fase da pandemia, a vermelha.

“A escola não pode mais fechar. Neste momento de pandemia, as famílias precisam entender sobre o quanto é cada vez mais fundamental e importante ter os seus filhos frequentando a escola. Para continuarem a aprendizagem e serem acolhidos em vários aspectos. Principalmente, emocionalmente”, defendeu o Secretário da Educação de São Paulo, Rossieli Soares, na ocasião.

E nem as universidades escaparam dessa questão da reabertura. No início de dezembro,o Ministério da Educação (MEC) determinou que instituições federais de ensino superior voltassem às aulas presenciais a partir de 4 de janeiro de 2021. Entretanto, o ministério recebeu críticas por parte das universidades, que se recusaram a voltar às aulas presencialmente. Isso fez com que recuasse e decidisse revogar a portaria em que determina esse retorno das aulas presenciais. A ideia do ministério agora é liberar o retorno às aulas somente quando as instituições estiverem confiantes de que isso possa ser feito com segurança.

Educação pós-pandemia

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Na visão de Alfredo Freitas, investimentos em capacidade tecnológica e metodológica são indispensáveis para uma boa formação dos estudantes. "O ensino online pode ser realizado de diversas formas em diversas combinações metodológicas e a boa e adequada escolha de processos, métodos e técnicas é o que fará a diferença". Ele afirma que a pandemia foi responsável por antecipar e acelerar essa realidade de ensino remoto.

Já a coordenadora do curso de pedagogia Daniele Saheb analisa que é muito cedo para dizer se teremos mudança da concepção de educação depois da pandemia. "Mas espero que as pessoas entendam a importância da educação, que não é só transmissão de conteúdo. É importante que se compreenda o amplo papel da educação e que ela seja valorizada. A educação propicia ao sujeito uma compreensão crítica, reflexiva e contextualizada do mundo. Por isso, espero que a educação seja valorizada e ainda sob essa perspectiva", opina.

A especialista descreve a educação como um processo mais amplo do que o ensino e que deve oferecer ao sujeito condições de se desenvolver cognitiva e socialmente, entre outras dimensões, para que ele possa entender a sua realidade de forma crítica, reflexiva, contextualizada e responsável, para assim poder fazer escolhas conscientes e exercer a sua cidadania em prol da coletividade.

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Steffany Rodrigues acredita que a educação é transformadora, e que é através dela que se formam cidadãos politizados e de consciência de seus atos, por isso é tão importante na vida de todos, e por isso devemos lutar por uma educação de qualidade. "Ainda vamos ver muita coisa acontecendo nesse processo de educação dentro da pandemia, e que com certeza afetará os anos seguintes", estima a universitária.

E de fato, ainda não estamos nem perto de concluir essa etapa difícil. No entanto, podemos observar que a sociedade levantou os olhares para a educação e para a sua verdadeira importância.

Fonte: Com informações de The New York Times, CNN, Governo de São Paulo